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RESULTADOS
Para o historiador Paul Kennedy, potência militar permanecerá dominante a médio prazo
"Nenhum país pode fazer frente aos EUA"
"O êxito militar e a facilidade com que foi obtido confirmam, para pessoas como Rumsfeld, que os EUA tinham razão desde o início. Isso só dificulta a tarefa de quem defende a moderação."
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CORINE LESNES
DO "LE MONDE", EM NOVA YORK
Os resultados da guerra no Iraque até aqui "superaram as expectativas" do presidente dos
EUA, George W. Bush, e do secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, diz o historiador inglês Paul
Kennedy, diretor do Instituto de
Estudos sobre a Segurança Internacional da Universidade Yale e
autor do já clássico "Ascensão e
Queda das Grandes Potências",
de 88 (ed. Campus), onde previa o
declínio do império americano.
Mas ele diz que "a curto prazo,
nenhum país pode fazer frente
aos EUA" e que "o país continuará a ser uma potência militarmente dominante a médio prazo".
Ele acha difícil um compromisso no pós-guerra entre os EUA e
Reino Unido, de um lado, e Rússia, França e Alemanha, de outro,
porque os últimos estariam assumindo posições pouco realistas.
Pergunta - A queda de Saddam
Hussein representa a vitória dos
"falcões" americanos? Dos partidários do império?
Paul Kennedy - Os resultados, até
agora, superaram as esperanças
de Bush ou Rumsfeld. Você conhece o político inglês [Benjamin] Disraeli (1804-1881). Ele dizia que uma semana, na política, é
muito tempo.
Uma semana atrás, todo o mundo criticava a operação militar. De
repente, o quadro mudou de maneira espetacular. É claro que neste momento o império americano
parece estar mais forte e convincente do que nunca. O público
americano vai ficar simplesmente
maravilhado com o baixo número de vítimas. As imagens dos iraquianos entusiasmados têm uma
importância enorme para Bush.
O êxito militar e a facilidade
com que foi obtido não podem
deixar de confirmar, para pessoas
como Rumsfeld, a idéia de que
eles tinham razão desde o início. E
isso só pode dificultar ainda mais
a tarefa de pessoas como o secretário de Estado, Colin Powell, ou o
primeiro-ministro britânico,
Tony Blair, de defender a moderação e o retorno à ONU.
Pergunta - Veremos um acordo
quanto ao pós-guerra?
Kennedy - Será muito difícil. Estamos assistindo
ao espetáculo um
tanto quanto triste das manobras
do presidente
francês, Jacques
Chirac, de seu colega russo, Vladimir Putin, e do
premiê alemão,
Gerhard Schröder. Quatro dias
após a entrevista
que Bush e Blair
na Irlanda do
Norte, Chirac, Putin e Schröder estão juntos em São
Petersburgo.
Temos o direito
de perguntar:
quem está em
contato com a realidade? Chirac declarou que o futuro do Iraque não pode ser decidido por um ou dois países. Do
ponto de vista do sentimento político, ele tem razão. Mas como ficam as coisas no mundo real? Sua
posição não é realista, e isso vem
apenas confirmar a opinião de
Rumsfeld, Paul
Wolfowitz (subsecretário da Defesa dos EUA) e
do vice-presidente Dick Cheney de
que, se eles submeterem a questão do Iraque ao
Conselho de Segurança mais
uma vez, serão
novamente ameaçados com o veto.
Pergunta - Os
EUA ingressaram
numa nova era?
Kennedy - Há
elementos novos.
O governo de
Bush é mais ideológico e mais nacionalista que o
de Clinton. Ele é fortemente influenciado pela religião e pelas
convicções dos fundamentalistas
do sul do país. Também há um
ressurgimento do orgulho americano. Nenhum político pode criticar as Forças Armadas.
Ao mesmo tempo, as pesquisas
de opinião mostram que a maioria dos americanos gostaria que o
país não agisse sozinho, mas com
aliados. O resultado é que os verdadeiros ideólogos conservadores que gostariam de transformar
o Oriente Médio -alguns dos
quais, como Michael Rubin [pesquisador do Instituto American
Enterprise], querem que, depois
de conquistar o Iraque, os EUA
ataquem o Irã- são refreados pela influência de Powell ou pelo
mal-estar da opinião pública.
Pergunta - Isso coloca em xeque
sua teoria da decadência inevitável
da potência americana?
Kennedy - Não a longo prazo. Os
EUA se beneficiaram de um conjunto de fenômenos imprevistos:
a desintegração da União Soviética, que aliviou as pressões sobre o
orçamento, a estagnação da economia japonesa e, nos anos 90, o
aumento sem precedentes na produtividade americana. Assim, eles
puderam arcar com esse grande
orçamento militar.
Quando a crise iraquiana se manifestou, Bush contava com trunfos fortes. Mas a economia se enfraqueceu rapidamente. Essa tese
do declínio inevitável continua
valendo. A Espanha decaiu durante 200 anos. A mesma coisa
aconteceu com o império britânico, cujo fim os escritores já previam desde 1860-1870. Hoje os
EUA têm 5% da população, 30%
da economia e 50% das despesas
militares do mundo.
Pergunta - Podemos prever que
um país que tem menos de 5% da
população mundial continue para
sempre a ser uma superpotência?
Kennedy - A resposta de longo
prazo é não. A curto prazo, porém, nenhum país pode fazer
frente aos EUA. E o país vai continuar a ser uma potência militarmente dominante a médio prazo.
A guerra no Iraque mostrou que
quem não possui poderio aéreo
não vence uma guerra. Nenhuma
potência pôde se manter no auge
por muito tempo, nem mesmo
Roma. Mas é preciso reconhecer
que os EUA não têm rival.
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