São Paulo, terça-feira, 11 de abril de 2006

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ITÁLIA

Centro-esquerda obtém maioria dos deputados, mas senadores de coalizão rival podem prejudicar governabilidade

Prodi leva Câmara; Senado fica indefinido

Giampiero Sposito/Reuters
Romano Prodi agita bandeira da Itália em comemoração à vitória de sua coalizão de centro-esquerda na Câmara dos Deputados italiana, que deve indicá-lo como premiê


DA REDAÇÃO

A coalizão de centro-esquerda liderada por Romano Prodi obteve mais votos na apertada eleição para a Câmara italiana, segundo resultados oficiais. A coalizão venceu com 49,805% dos votos, contra 49,739% para o bloco de centro-direita, do atual premiê Silvio Berlusconi. Mesmo sem a maioria absoluta dos votos, Prodi contará com pelo menos 340 dos 630 assentos na Câmara, em acordo com a lei eleitoral aprovada em dezembro passado.
Em comemoração na Piazza dei Santissimi Apostoli, Prodi disse ao público: "Estou muito grato a todos vocês porque foi uma batalha difícil". Prévias e projeções apenas acirraram a rivalidade.
No Senado, a disputa ficou indefinida: o bloco de centro-direita liderava a apuração por um assento de vantagem -155 a 154-, mas as seis vagas determinadas por votos de cidadãos italianos residentes no exterior ainda estavam longe de ser definidas. Com cerca de 20% dos votos apurados, o grupo de Prodi levava grande vantagem -45,6% contra 22,9% do Força Itália, partido de Berlusconi-, o que poderia implicar uma virada da situação e a confirmação da vitória esquerdista.
Qualquer que seja o resultado final no Senado, a aprovação de leis tende a ser muito disputada, devido ao equilíbrio da composição já estabelecida. Os senadores são escolhidos regionalmente. Um bloco com mais votos pode eleger um número menor de senadores.
É a Câmara quem indica o primeiro-ministro. Assim, Prodi deve ser indicado para o cargo, mas teme-se que um Senado comandado pela oposição impeça a governabilidade do bloco de centro-esquerda -barrando leis. Nesse caso, fala-se até mesmo em convocar novas eleições.

Direita contesta
A coalizão de centro-direita contestou o resultado oficial, mencionando perda de votos, e pediu uma recontagem. O resultado oficial deu 25.224 votos a mais para Prodi -a Itália tem 47 milhões de eleitores.
"Neste ponto, consideramos necessário e apropriado requerer uma verificação da votação à Câmara dos Deputados, de modo a obtermos um resultado que possamos realmente considerar certo e final", disse Paolo Bonaiuti, porta-voz de Berlusconi.
Claudio Scajola, ministro da Indústria e companheiro de Berlusconi no Força Itália, emulou melhor os modos polêmicos do ainda primeiro-ministro: "Isto é intolerável. Que é isso? Um golpe? Isso me lembra a América do Sul. A autoproclamação é constitucionalmente ilegítima", disse, em resposta à imediata comemoração do bloco de Prodi.
Partidários dos dois campos rejeitaram a possibilidade de uma "grande aliança" que reunisse todos os partidos num só governo.
Antonio di Pietro, ex-magistrado da Operação Mãos Limpas e aliado de Prodi, disse que tudo caminhava para novas eleições.
O secretário-adjunto de Estado para a Europa, Kurt Voker, disse que o governo americano pretende manter "relações sólidas" com Prodi ou com Berlusconi.
Num país em que o voto não é obrigatório, o comparecimento dos eleitores às seções eleitorais foi elevadíssimo: 83,6%, contra 81,4% nas eleições parlamentares de 2001, quando Berlusconi se tornou pela segunda vez primeiro-ministro.
Esse também é um indicador de elevada motivação, provocada pelo caráter plebiscitário que a campanha desde o início assumiu. Tratava-se de manter ou reconduzir Berlusconi, premiê de estilo controvertido, declarações diretas e muitas vezes grosseiras, mas passionalmente popular entre seus seguidores.

Com agências internacionais

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