São Paulo, terça-feira, 11 de abril de 2006

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AMÉRICA LATINA

Projeções dão pequena vantagem a García

Disputa acirrada por um lugar no segundo turno prossegue no Peru

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A LIMA

A angustiante apuração dos votos da eleição presidencial peruana ainda não definiu quem disputará o segundo turno com o candidato nacionalista Ollanta Humala. A contagem de votos e as projeções feitas por institutos de pesquisa apontam uma diferença minúscula entre o ex-presidente de centro-esquerda Alan García e a direitista Lourdes Flores.
Com 80,3% das urnas apuradas até a conclusão desta edição, a distância entre os dois era de 0,9% a favor de García, que, ao longo do dia, conseguiu superar Flores. O ex-presidente registrava 24,9% contra 24% da candidata da Unidade Nacional. Humala aparecia na frente, com 30,3%, e declarou-se vencedor: "Eu me considero o ganhador. Espero que as forças políticas tradicionais observem isso".
Já a maioria das projeções feitas pelos institutos de opinião sobre os resultados apurados mostrava uma pequena vantagem a favor de Lourdes, mas dentro da margem de erro. O instituto Apoyo, por exemplo, apontou 24,3% para Flores e 23,8% para García.
A disputa acirrada entre Flores e García tem gerado especulações sobre uma possível guerra de recursos, o que pode atrasar o segundo turno, inicialmente previsto para 7 de maio. A legislação prevê 30 dias de campanha após o anúncio oficial do resultado.
Na eleição parlamentar, a coligação de Humala conseguiu 43 das 120 vagas no Congresso, seguido pelo partido de García, o Apra, com 35 eleitos, de acordo com projeção do instituto Apoyo.
Já o partido do combalido presidente Alejandro Toledo, que não lançou candidato a sucedê-lo, corre o risco de desaparecer do próximo Congresso. Isso apesar de a economia peruana ter crescido acima dos 5% ao ano durante o seu governo, iniciado em 2001.
Segundo a projeção do Apoyo, o seu partido, Peru Possível, pode não atingir a barreira de 4% do total de votos -a porcentagem estimada pelo levantamento lhe dava 3,9%. Caso isso ocorra, a atual legenda governista não terá representante parlamentar.
Em contraste, a coalizão do ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000), atualmente preso no Chile, deve conseguir a quarta maior bancada, com 15 vagas -o Congresso peruano é unicameral.
"O que estamos vendo é o repúdio a um governo que prometeu muito, mas não cumpriu nas questões mais elementares, como melhorar a educação, a saúde e os programas sociais", disse à Folha Cecilia Blondet, que foi ministra da Mulher no governo de Toledo. "Os índices altíssimos de pobreza [51,6% da população] e o pouco que baixou apesar do crescimento sustentável são a amostra do que o governo faz com relação às condições de vida dos mais pobres."
Para Blondet, Toledo falhou também ao passar uma imagem de frívolo -são famosas suas escapadas à praia de Punta Sal utilizando o avião presidencial- e no combate à corrupção, problema herdado de Fujimori.
A insatisfação popular se reflete tanto na preferência pelo "outsider" Humala quanto nas pesquisas de opinião. Segundo o instituto chileno Latinobarómetro, a satisfação dos peruanos com a democracia vem caindo ano a ano e já é uma das mais baixas da região -passou de 63%, em 1996, para 40% no ano passado. (O Brasil, na mesma pesquisa, tem trajetória semelhante, baixando de 50% para 37%.)
Já Toledo, considerado um dos presidentes mais impopulares do continente, tem 24,6% de aprovação, enquanto o Congresso é respaldado por 10,2%, segundo pesquisa recente do instituto CPI.
Boa parte da péssima imagem do Congresso se deve à atuação do bloco governista.


Com agências internacionais

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