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AMÉRICA LATINA
Projeções dão pequena vantagem a García
Disputa acirrada por um lugar no segundo turno prossegue no Peru
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A LIMA
A angustiante apuração dos votos da eleição presidencial peruana ainda não definiu quem disputará o segundo turno com o candidato nacionalista Ollanta Humala. A contagem de votos e as
projeções feitas por institutos de
pesquisa apontam uma diferença
minúscula entre o ex-presidente
de centro-esquerda Alan García e
a direitista Lourdes Flores.
Com 80,3% das urnas apuradas
até a conclusão desta edição, a
distância entre os dois era de 0,9%
a favor de García, que, ao longo do
dia, conseguiu superar Flores. O
ex-presidente registrava 24,9%
contra 24% da candidata da Unidade Nacional. Humala aparecia
na frente, com 30,3%, e declarou-se vencedor: "Eu me considero o
ganhador. Espero que as forças
políticas tradicionais observem
isso".
Já a maioria das projeções feitas
pelos institutos de opinião sobre
os resultados apurados mostrava
uma pequena vantagem a favor
de Lourdes, mas dentro da margem de erro. O instituto Apoyo,
por exemplo, apontou 24,3% para
Flores e 23,8% para García.
A disputa acirrada entre Flores e
García tem gerado especulações
sobre uma possível guerra de recursos, o que pode atrasar o segundo turno, inicialmente previsto para 7 de maio. A legislação
prevê 30 dias de campanha após o
anúncio oficial do resultado.
Na eleição parlamentar, a coligação de Humala conseguiu 43
das 120 vagas no Congresso, seguido pelo partido de García, o
Apra, com 35 eleitos, de acordo
com projeção do instituto Apoyo.
Já o partido do combalido presidente Alejandro Toledo, que não
lançou candidato a sucedê-lo,
corre o risco de desaparecer do
próximo Congresso. Isso apesar
de a economia peruana ter crescido acima dos 5% ao ano durante o
seu governo, iniciado em 2001.
Segundo a projeção do Apoyo, o
seu partido, Peru Possível, pode
não atingir a barreira de 4% do total de votos -a porcentagem estimada pelo levantamento lhe dava
3,9%. Caso isso ocorra, a atual legenda governista não terá representante parlamentar.
Em contraste, a coalizão do ex-presidente Alberto Fujimori
(1990-2000), atualmente preso no
Chile, deve conseguir a quarta
maior bancada, com 15 vagas -o
Congresso peruano é unicameral.
"O que estamos vendo é o repúdio a um governo que prometeu
muito, mas não cumpriu nas
questões mais elementares, como
melhorar a educação, a saúde e os
programas sociais", disse à Folha
Cecilia Blondet, que foi ministra
da Mulher no governo de Toledo.
"Os índices altíssimos de pobreza
[51,6% da população] e o pouco
que baixou apesar do crescimento
sustentável são a amostra do que
o governo faz com relação às condições de vida dos mais pobres."
Para Blondet, Toledo falhou
também ao passar uma imagem
de frívolo -são famosas suas escapadas à praia de Punta Sal utilizando o avião presidencial- e no
combate à corrupção, problema
herdado de Fujimori.
A insatisfação popular se reflete
tanto na preferência pelo "outsider" Humala quanto nas pesquisas de opinião. Segundo o instituto chileno Latinobarómetro, a satisfação dos peruanos com a democracia vem caindo ano a ano e
já é uma das mais baixas da região
-passou de 63%, em 1996, para
40% no ano passado. (O Brasil, na
mesma pesquisa, tem trajetória
semelhante, baixando de 50% para 37%.)
Já Toledo, considerado um dos
presidentes mais impopulares do
continente, tem 24,6% de aprovação, enquanto o Congresso é respaldado por 10,2%, segundo pesquisa recente do instituto CPI.
Boa parte da péssima imagem
do Congresso se deve à atuação
do bloco governista.
Com agências internacionais
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