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FRANÇA
Presidente recua após dois meses de protestos contra norma que facilitava demissão de jovens; Villepin é o grande derrotado
Chirac engaveta contestada lei trabalhista
DA REDAÇÃO
Depois de praticamente dois
meses de passeatas gigantescas de
protesto sindical e estudantil, o
presidente Jacques Chirac anunciou ontem o engavetamento da
lei do primeiro emprego.
A lei procurava beneficiar recém-formados com menos de 26
anos com um contrato de 24 meses, durante os quais os empresários teriam menos encargos, e os
estagiários, menos direitos. A
possibilidade de demissão sem
causa formalizada desencadeou
os protestos em praça pública.
O primeiro-ministro Dominique de Villepin foi o grande desgastado por um processo que corroeu sua popularidade e provavelmente inutilizou suas chances
de disputar no ano que vem a sucessão presidencial.
"As esperanças presidenciais de
Villepin estão praticamente mortas", disse Christophe Barbier, da
revista "L'Express". Não está claro se o premiê planeja deixar seu
posto a curto prazo.
Ele declarou ontem que "as condições necessárias de calma e confiança não estavam presentes" e
disse que prosseguiria o diálogo
com sindicatos para a adoção de
medidas que reduzam o desemprego entre os jovens (22%, ou
mais que o dobro do desemprego
dos que têm mais de 26 anos).
Associações estudantis planejavam para hoje manifestações que
não foram desmarcadas. Bruno
Julliard, líder da Unef, a principal
dessas entidades, disse: "Obtivemos uma vitória, mas há ainda
questões indefinidas".
Os estudantes desencadearam o
movimento, mas suas lideranças
permaneceram pulverizadas e sofreram a concorrência da mobilização pela internet. Cinco confederações sindicais assumiram nas
últimas três semanas o comando
do protesto. Elas não mais participam da organização das passeatas
que podem ocorrer hoje.
"Talvez possamos tomar champanhe, porque foi uma vitória
inegável do movimento social",
disse Gerard Aschieri, presidente
d confederação FSU.
Formalmente, Chirac não abandonou o plano de elaborar para os
jovens uma política de emprego.
Seus porta-vozes disseram que ele
criaria outros mecanismos. O ministro do Trabalho, Jean-Louis
Borloo, disse em entrevista ao "Le
Monde" que o objetivo era beneficiar 159 mil jovens e que, para tanto, o Tesouro estava disposto a
gastar 150 milhões.
Agilizando a aplicação de mecanismos em vigor, o governo daria
a empresários um auxílio para
premiar a contratação de jovens
de baixa qualificação ou de famílias de menor renda.
Um dos deputados do partido
majoritário disse à Reuters que a
nova política seria financiada por
meio de um aumento dos impostos sobre cigarros e que as discussões começariam na Assembléia
Nacional já esta semana.
Observadores acreditam que as
esquerdas não tenham se fortalecido com o episódio. O Partido
Socialista, maior formação da
oposição, esteve a reboque dos
protestos. Seu secretário-geral,
François Hollande, não cresceu
na proporção em que minguava a
taxa de aprovação de Villepin.
Os mesmos observadores afirmam que, guardadas as proporções, a única liderança incólume
foi o ministro do Interior, Nicolas
Sarkozy. Desde o início, ele se dissociou da forma dogmática com
que o primeiro-ministro tratava o
assunto e deu declarações em favor da flexibilidade do posicionamento oficial.
Além disso, depois que Chirac
promulgou a lei, em 2 de abril, as
negociações se deslocaram para o
Senado e para a Assembléia, onde
eram feitas por lideranças de bancadas ligadas a Sarkozy, que é
também o presidente da UMP, o
partido do governo.
Pesquisa demonstrou que 83%
dos franceses acreditam que Chirac esteja bastante enfraquecido.
"A crise real é de confiança", disse
à Associated Press o analista Dominique Moisi.
Com agências internacionais
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