São Paulo, terça-feira, 11 de abril de 2006

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FRANÇA

Presidente recua após dois meses de protestos contra norma que facilitava demissão de jovens; Villepin é o grande derrotado

Chirac engaveta contestada lei trabalhista

DA REDAÇÃO

Depois de praticamente dois meses de passeatas gigantescas de protesto sindical e estudantil, o presidente Jacques Chirac anunciou ontem o engavetamento da lei do primeiro emprego.
A lei procurava beneficiar recém-formados com menos de 26 anos com um contrato de 24 meses, durante os quais os empresários teriam menos encargos, e os estagiários, menos direitos. A possibilidade de demissão sem causa formalizada desencadeou os protestos em praça pública.
O primeiro-ministro Dominique de Villepin foi o grande desgastado por um processo que corroeu sua popularidade e provavelmente inutilizou suas chances de disputar no ano que vem a sucessão presidencial.
"As esperanças presidenciais de Villepin estão praticamente mortas", disse Christophe Barbier, da revista "L'Express". Não está claro se o premiê planeja deixar seu posto a curto prazo.
Ele declarou ontem que "as condições necessárias de calma e confiança não estavam presentes" e disse que prosseguiria o diálogo com sindicatos para a adoção de medidas que reduzam o desemprego entre os jovens (22%, ou mais que o dobro do desemprego dos que têm mais de 26 anos).
Associações estudantis planejavam para hoje manifestações que não foram desmarcadas. Bruno Julliard, líder da Unef, a principal dessas entidades, disse: "Obtivemos uma vitória, mas há ainda questões indefinidas".
Os estudantes desencadearam o movimento, mas suas lideranças permaneceram pulverizadas e sofreram a concorrência da mobilização pela internet. Cinco confederações sindicais assumiram nas últimas três semanas o comando do protesto. Elas não mais participam da organização das passeatas que podem ocorrer hoje.
"Talvez possamos tomar champanhe, porque foi uma vitória inegável do movimento social", disse Gerard Aschieri, presidente d confederação FSU.
Formalmente, Chirac não abandonou o plano de elaborar para os jovens uma política de emprego. Seus porta-vozes disseram que ele criaria outros mecanismos. O ministro do Trabalho, Jean-Louis Borloo, disse em entrevista ao "Le Monde" que o objetivo era beneficiar 159 mil jovens e que, para tanto, o Tesouro estava disposto a gastar 150 milhões.
Agilizando a aplicação de mecanismos em vigor, o governo daria a empresários um auxílio para premiar a contratação de jovens de baixa qualificação ou de famílias de menor renda.
Um dos deputados do partido majoritário disse à Reuters que a nova política seria financiada por meio de um aumento dos impostos sobre cigarros e que as discussões começariam na Assembléia Nacional já esta semana.
Observadores acreditam que as esquerdas não tenham se fortalecido com o episódio. O Partido Socialista, maior formação da oposição, esteve a reboque dos protestos. Seu secretário-geral, François Hollande, não cresceu na proporção em que minguava a taxa de aprovação de Villepin.
Os mesmos observadores afirmam que, guardadas as proporções, a única liderança incólume foi o ministro do Interior, Nicolas Sarkozy. Desde o início, ele se dissociou da forma dogmática com que o primeiro-ministro tratava o assunto e deu declarações em favor da flexibilidade do posicionamento oficial.
Além disso, depois que Chirac promulgou a lei, em 2 de abril, as negociações se deslocaram para o Senado e para a Assembléia, onde eram feitas por lideranças de bancadas ligadas a Sarkozy, que é também o presidente da UMP, o partido do governo.
Pesquisa demonstrou que 83% dos franceses acreditam que Chirac esteja bastante enfraquecido. "A crise real é de confiança", disse à Associated Press o analista Dominique Moisi.


Com agências internacionais

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