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ESTRANHOS NO PARAÍSO
Manifestação reúne 180 mil em Washington e é acompanhada por marchas em outras 60 cidades
Milhares de imigrantes protestam nos EUA
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
"Si se puede." Sim, é possível.
Ou "yes, you can", na tradução local. Washington ontem falou espanhol, pelo menos em seu tradicional palco de protestos, o Mall,
o longo passeio que liga o Monumento a George Washington ao
Capitólio, sede do legislativo americano. Ali se reuniram no final da
tarde milhares de pessoas, 180 mil
segundo os organizadores, numa
cidade em que a população de latinos é estimada em 600 mil.
É a maior manifestação do tipo
na história da capital e foi acompanhada por eventos semelhantes, embora de menor dimensão,
em Nova York, Los Angeles e outras ultrapassando cem cidades.
Instados por ONGs, os imigrantes
responderam ao Dia Nacional de
Ação pela Justiça do Imigrante,
ou apenas "La Marcha".
"Si se puede", começou seu discurso o senador democrata de
tradição liberal Ted Kennedy
(Massachusetts), num espanhol
carregado de sotaque mas vivamente aplaudido. Sua presença
no palco era a consolidação de um
paralelo que os manifestantes
vêm tentando traçar desde o começo do movimento, em dezembro passado, e ao longo do último
fim-de-semana: a idéia é fazer da
luta pelos direitos dos imigrantes
ilegais hoje o que a luta pelos direitos civis foi nos anos 60.
Assim, não foi coincidência o
local escolhido nem as semelhanças apontadas pelo senador. "Como declarou o presidente Kennedy meio século atrás, somos
uma nação de imigrantes", discursou, para aplauso das pessoas.
"Somos uma nação de imigrantes, sim, mas legais", rebateu à Folha Ira Mehlman, da organização
conservadora FAIR, que luta contra a presença de ilegais no país.
Com ele está parte da opinião pública -segundo pesquisa encomendada pelo jornal "The Washington Post" e pela rede de TV
ABC, 75% acreditam que as autoridades não agem o suficiente para evitar a imigração ilegal.
Está em jogo o destino de pelo
menos 11 milhões de pessoas, na
maioria latino-americanos, na
maioria mexicanos. Segundo o
projeto de lei da ala conservadora
republicana aprovado pela Câmara dos Representantes (deputados) em dezembro, todos devem
ser deportados, e os que os empregam ou ajudam, sofrer punição. É prevista ainda uma cerca na
fronteira mexicana.
Outras propostas mais brandas
ganharam o apoio parcial do presidente George W. Bush. Segundo
uma delas, os imigrantes que se
legalizarem podem ficar no país,
desde que paguem impostos,
aprendam a língua e sigam as leis.
Bush disse ontem: "As pessoas
deveriam estar aqui temporariamente. Se quiserem se tornar cidadãs, depois de uma série de etapas, entrarão na fila, como o resto;
não à frente da fila, mas no final".
Os projetos foram discutidos na
semana passada no Senado, sem
acordo. A série de protestos foi
convocada para pressionar a sessão de volta do recesso de Páscoa.
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