São Paulo, terça-feira, 11 de abril de 2006

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ESTRANHOS NO PARAÍSO

Manifestação reúne 180 mil em Washington e é acompanhada por marchas em outras 60 cidades

Milhares de imigrantes protestam nos EUA

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

"Si se puede." Sim, é possível. Ou "yes, you can", na tradução local. Washington ontem falou espanhol, pelo menos em seu tradicional palco de protestos, o Mall, o longo passeio que liga o Monumento a George Washington ao Capitólio, sede do legislativo americano. Ali se reuniram no final da tarde milhares de pessoas, 180 mil segundo os organizadores, numa cidade em que a população de latinos é estimada em 600 mil.
É a maior manifestação do tipo na história da capital e foi acompanhada por eventos semelhantes, embora de menor dimensão, em Nova York, Los Angeles e outras ultrapassando cem cidades. Instados por ONGs, os imigrantes responderam ao Dia Nacional de Ação pela Justiça do Imigrante, ou apenas "La Marcha".
"Si se puede", começou seu discurso o senador democrata de tradição liberal Ted Kennedy (Massachusetts), num espanhol carregado de sotaque mas vivamente aplaudido. Sua presença no palco era a consolidação de um paralelo que os manifestantes vêm tentando traçar desde o começo do movimento, em dezembro passado, e ao longo do último fim-de-semana: a idéia é fazer da luta pelos direitos dos imigrantes ilegais hoje o que a luta pelos direitos civis foi nos anos 60.
Assim, não foi coincidência o local escolhido nem as semelhanças apontadas pelo senador. "Como declarou o presidente Kennedy meio século atrás, somos uma nação de imigrantes", discursou, para aplauso das pessoas.
"Somos uma nação de imigrantes, sim, mas legais", rebateu à Folha Ira Mehlman, da organização conservadora FAIR, que luta contra a presença de ilegais no país. Com ele está parte da opinião pública -segundo pesquisa encomendada pelo jornal "The Washington Post" e pela rede de TV ABC, 75% acreditam que as autoridades não agem o suficiente para evitar a imigração ilegal.
Está em jogo o destino de pelo menos 11 milhões de pessoas, na maioria latino-americanos, na maioria mexicanos. Segundo o projeto de lei da ala conservadora republicana aprovado pela Câmara dos Representantes (deputados) em dezembro, todos devem ser deportados, e os que os empregam ou ajudam, sofrer punição. É prevista ainda uma cerca na fronteira mexicana.
Outras propostas mais brandas ganharam o apoio parcial do presidente George W. Bush. Segundo uma delas, os imigrantes que se legalizarem podem ficar no país, desde que paguem impostos, aprendam a língua e sigam as leis.
Bush disse ontem: "As pessoas deveriam estar aqui temporariamente. Se quiserem se tornar cidadãs, depois de uma série de etapas, entrarão na fila, como o resto; não à frente da fila, mas no final".
Os projetos foram discutidos na semana passada no Senado, sem acordo. A série de protestos foi convocada para pressionar a sessão de volta do recesso de Páscoa.


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