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ANÁLISE
Por que os EUA não acertam quando o tema é imigração
MICHELE WUCKER
ESPECIAL PARA A FOLHA
Na última semana, enquanto
discutiam um polêmico projeto de
reforma das leis de imigração, vários senadores americanos se sentiram obrigados a lembrar que
também eles eram descendentes
de imigrantes. Ao mesmo tempo
em que uma minoria pede em voz
alta a construção de cercas nas
fronteiras, ai de qualquer político
que deixar de render homenagem
à história dos EUA como país feito
de imigrantes. Pois essa discussão
se baseia mais em discursos retóricos do que em fatos.
Emoções que oscilam loucamente são a razão pela qual o Senado deixou de consumar um
acordo que foi anunciado com euforia, apenas para desabar no dia
seguinte. Isso não é surpresa. A
história dos EUA com seus imigrantes já envolveu políticas que
freqüentemente passam de um extremo a outro e têm resultados
opostos aos pretendidos.
Após a grande onda de imigração ocorrida entre 1880 e 1920, o
Congresso reduziu as cotas de imigração, provocando uma queda
drástica no fluxo de imigrantes.
Em 1965, uma nova reforma escancarou as portas do país a tal
ponto que o aumento dramático
na imigração ameaçou recriar a
crise demográfica que provocara o
fechamento das portas em 1920.
Em 1986, a Lei de Reforma e
Controle da Imigração procurou
enfrentar o novo aumento da população, oferecendo uma anistia a
quase 3 milhões de imigrantes e
supostamente impondo penalidades às empresas que empregassem
trabalhadores ilegais, "cientes de
que o estavam fazendo". Mas a lei
foi aprovada apenas porque incluía brechas.
O resultado foi uma nova população de 11 milhões de imigrantes
sem documentos, além de um clamor antiimigrante que supera
qualquer coisa ouvida em quase
um século. Culpando os imigrantes por tudo, publicações foram
criadas com o único objetivo de
defender o fechamento das portas
do país. Livros que avisavam que
os imigrantes ameaçavam destruir
a sociedade americana se tornaram best-sellers. E políticos aproveitaram para promover leis mesquinhas e pouco práticas.
Em dezembro a Câmara dos Deputados aprovou uma lei que focaliza só a aplicação da política de
imigração e que teria garantido o
financiamento de uma barreira de
1.116 quilômetros na fronteira. A
nova lei criminalizaria não apenas
os imigrantes não autorizados,
mas também aqueles que lhes oferecem ajuda humanitária.
Ao tentar reparar o sistema de
imigração desconjuntado, o acordo no Senado manteve alguns dos
dispositivos duros da lei, como o
que determina que ser imigrante
ilegal constitui ofensa não só cível,
mas criminal. Mas, de maneira sábia, também teria criado um caminho para a legalização e eventual
aquisição da cidadania por imigrantes ilegais que vivem nos EUA
há pelo menos cinco anos e que
obedecem a certas restrições.
No entanto, assim que um grupo
de senadores de ambos os partidos
anunciou o acordo, as discordâncias começaram. Alguns senadores se posicionaram contra qualquer proposta que envolva algum
tipo de "anistia", mesmo a legalização "conquistada". Nesse ambiente envenenado, muitos políticos temem ser rotulados de "brandos em relação à imigração"-
mesmo que isso signifique que sua
adoção de uma postura de linha
dura crie mais problemas do que
os que resolve.
Os EUA não param de errar com
a imigração porque adotam políticas baseadas na emoção, que nos
deixam cegos aos nossos próprios
interesses. Os políticos e o público
se deixam levar por princípios elevados, mesmo quando as políticas
que traçamos em nome do patriotismo e da nação americana, quando levadas a extremos, enfraquecem os próprios princípios. Se os
EUA quiserem acertar com a imigração, precisam trazer a discussão para fora do âmbito dos extremistas e buscar soluções práticas.
Foi isso o que o Senado procurou
fazer na semana passada. Embora
a história não nos aponte uma
perspectiva encorajadora, só nos
resta esperar que os pragmáticos
prevaleçam sobre os esquentados.
Michele Wucker, do Instituto de Políticas Mundiais, em Nova York, é autora de "Lockout: Why America Keeps Getting Immigration Wrong When Our Prosperity
Depends on Getting It Right" (lockout:
por que a América não pára de errar com
a imigração, quando nossa prosperidade
depende do acerto), que será lançado no
mês que vem nos EUA.
Tradução de Clara Allain
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