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Líder indiciado busca legitimação no Sudão
Após 24 anos sem eleições multipartidárias, sudaneses vão às urnas hoje e devem reeleger Bashir, que já governa há 21 anos
Acusado pelo Tribunal Penal Internacional de crimes de guerra, presidente vê seus principais rivais desistirem de candidaturas antes do voto
FÁBIO ZANINI
ENVIADO ESPECIAL A CARTUM (SUDÃO)
Omar al Bashir está sorridente, segurando uma lança na
mão direita e vestindo uma pele de leopardo sobre o terno
cinza. "Al Bashir. Símbolo de
unidade e paz", diz o cartaz, espalhado pelas ruas de Cartum.
O presidente do Sudão não
poupou esforços e faz campanha que ocupa 90% dos postes
da capital. Sua aposta é um resultado convincente na eleição
que começa hoje e vai até terça.
Bashir busca, além de prorrogar um governo que já dura 21
anos, um voto de confiança popular um ano após ter sido indiciado pelo Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra e contra a humanidade cometidos contra populações da
região de Darfur (oeste).
Para isso, ele conta com a ajuda inesperada da oposição. A
maioria dos seus competidores
retirou-se da disputa presidencial na última semana.
Saíram, entre outros, o Partido Umma, ligado ao influente
movimento sufi (braço do islã),
e o Movimento de Libertação
do Povo Sudanês, que se restringiu a disputar o pleito em
sua base, o sul do país.
O governo americano condenou o boicote, e há uma sensação entre observadores internacionais de que a oposição
saiu apenas porque antecipou
uma derrota arrasadora.
A eleição perdeu parte de seu
lustro, mas ainda é possível
chamá-la de histórica. É o primeiro voto multipartidário em
24 anos. E pode ser o último do
Sudão, maior país da África, como hoje o conhecemos.
Em janeiro de 2011, dez Estados do sul do país farão plebiscito para decidir sobre sua independência. A perspectiva é
que daí resulte uma nova nação
de 10 milhões de pessoas.
Esse foi um dos pontos-chave do acordo de paz assinado
em 2005 entre o norte sudanês,
árabe, e o sul, etnicamente mais
próximo de países centro-africanos como Quênia e Uganda.
Como diz o cartaz de Bashir,
a promessa do presidente é de
"unidade", evitando a independência do sul, e paz em Darfur.
Há o temor de que a divisão do
país desencadeie novo conflito.
O presidente tem outro trunfo na mão, a economia. As margens dos rios Nilo branco e
azul, que se juntam no centro
de Cartum, aos poucos se
transformam em laboratório
para arquitetos. Surgem prédios gigantescos, em formatos
inusitados, que caberiam na
paisagem de Dubai.
No recém-inaugurado Afra
Mall, primeiro shopping da cidade, é fácil achar admiradores
do presidente. "Toda semana
temos delegações de investidores chegando", diz Mohammed
el Tayeb, 37, contador no Banco Central sudanês.
No ano passado, mesmo com
a recessão global, o PIB cresceu
4%, puxado pela produção de
petróleo e investimentos chineses. Em 2010, a previsão do
FMI é de aumento de 5,5%.
Nesse ambiente, a preocupação com Darfur, região empobrecida a 1.000 km de distância,
é secundária. "A corte internacional é injusta, porque viu a situação de apenas um lado. Bashir nunca teve chance de se defender", diz o policial Mohammed Ahmed Ali, 40.
Na entrada do shopping, outro pôster mostra Bashir sorridente. Mas desta vez a imagem
sobrepõe a de empregados do
local. "Os trabalhadores do
Afra Mall estão ao lado de seu
líder, Omar al Bashir, e condenam o indiciamento pela corte
internacional", diz o letreiro.
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