São Paulo, domingo, 11 de abril de 2010

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EUA exibem avanço nas condições da prisão

"Aqui é 600% melhor que a maioria das prisões do país", diz militar sobre instalação que sobrevive, contrariando promessa de Obama

Torturas em interrogatórios foram banidas; presos têm assistência médica, acesso a itens de higiene pessoal, a DVDs e até a videogames


DA ENVIADA A GUANTÁNAMO

Na parede da área de recreação do campo de detenção 4 da base militar americana de Guantánamo (Cuba), há uma cópia da Convenção de Genebra. O tratado que rege leis internacionais para prisioneiros de guerra está colado bem ao lado da ordem da Casa Branca para o fechamento da prisão até janeiro de 2010.
Nem o centro fechou nem a convenção é respeitada, segundo grupos de direitos humanos. Mas os EUA defendem que as coisas mudaram. O centro de detenção por onde já passaram cerca de 700 presos desde 2002 abriga hoje 183. Outros 580 foram enviados a outros países, e dezenas aguardam transferências já aprovada. Torturas em interrogatórios foram interrompidas por ordem da Casa Branca, e presos têm assistência médica, acesso a itens de higiene pessoal e até videogames.
Se continua em questão a própria existência das prisões em Guantánamo, não há mais dúvidas de que prisioneiros que jamais foram acusados por crime algum podem agora assistir a canais árabes por satélite em TVs de plasma.
Quando a Folha visitou o local, em visita ultracontrolada na semana passada, militares se recusaram a dizer onde estão os 50 prisioneiros que o governo pretende deter indefinidamente e sem julgamento.
Pode ser no campo de detenção 4, onde leem a Convenção de Genebra enquanto jogam pebolim e se exercitam; no 6, onde se auto-organizam em blocos comunitários e só ficam trancados nas celas por quatro horas diárias; ou no 5, de segurança máxima, onde ficam isolados até 22 horas por dia, mas podem marcar horário para assistir a DVDs.
Segundo os guardas, a divisão é por comportamento, e não pelo status do prisioneiro. Todas as instalações visitadas no tour para a imprensa são modernas e limpas. "Aqui é 600% melhor do que a maioria das prisões dentro dos EUA", comentou um dos militares.
O infame campo X-Ray (raio-X), imortalizado nas imagens de prisioneiros ajoelhados com macacões alaranjados, não funciona mais. A cor laranja indicam detentos "rebeldes"; só um ou dois os usam atualmente, dizem militares. O resto está de branco ou bege.
Além da proibição de métodos de tortura, como a simulação de afogamento ("waterboarding"), responsáveis pelo centro afirmam que programas destinados aos presos foram fundamentais nas transformações. Quem coopera com as autoridades pode frequentar aulas de línguas (inglês e árabe), de arte (a mais popular) e até de "habilidades para a vida", em que aprendem a fazer orçamentos e elaborar currículos.
Em 2006, mais de cem detentos fizeram greve de fome e tiveram de ser alimentados por via intravenosa; hoje, o número caiu para cinco, de acordo com informações oficiais.
"Nós respeitamos os presos, eles nos respeitam", afirmou a militar que conduziu a visita no campo 5. A Folha testemunhou interações sem incidentes entre os dois grupos em todos os três campos, mas não pôde falar com os presos.
O antigo palco de torturas físicas e psicológicas continua, porém, a produzir escândalos. O mais recente veio à tona há apenas dois dias. Foi divulgado o depoimento de um antigo assessor do departamento de Estado que afirma que o ex-presidente George W. Bush (2001-2009) sabia que muitos dos detentos de Guantánamo eram inocentes, mas se recusou a libertá-los por razões políticas.
Segundo o assessor, frequentemente não havia prova relacionada com os detentos e nenhuma forma de saber por que cada um foi enviado para lá.
Nesse ponto, Guantánamo pouco mudou. (ANDREA MURTA)


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