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EUA exibem avanço nas condições da prisão
"Aqui é 600% melhor que a maioria das prisões do país", diz militar sobre instalação que sobrevive, contrariando promessa de Obama
Torturas em interrogatórios foram banidas; presos têm assistência médica, acesso a itens de higiene pessoal,
a DVDs e até a videogames
DA ENVIADA A GUANTÁNAMO
Na parede da área de recreação do campo de detenção 4 da
base militar americana de
Guantánamo (Cuba), há uma
cópia da Convenção de Genebra. O tratado que rege leis internacionais para prisioneiros
de guerra está colado bem ao lado da ordem da Casa Branca
para o fechamento da prisão
até janeiro de 2010.
Nem o centro fechou nem a
convenção é respeitada, segundo grupos de direitos humanos.
Mas os EUA defendem que as
coisas mudaram. O centro de
detenção por onde já passaram
cerca de 700 presos desde 2002
abriga hoje 183. Outros 580 foram enviados a outros países, e
dezenas aguardam transferências já aprovada. Torturas em
interrogatórios foram interrompidas por ordem da Casa
Branca, e presos têm assistência médica, acesso a itens de higiene pessoal e até videogames.
Se continua em questão a
própria existência das prisões
em Guantánamo, não há mais
dúvidas de que prisioneiros que
jamais foram acusados por crime algum podem agora assistir
a canais árabes por satélite em
TVs de plasma.
Quando a Folha visitou o local, em visita ultracontrolada
na semana passada, militares
se recusaram a dizer onde estão os 50 prisioneiros que o governo pretende deter indefinidamente e sem julgamento.
Pode ser no campo de detenção 4, onde leem a Convenção
de Genebra enquanto jogam
pebolim e se exercitam; no 6,
onde se auto-organizam em
blocos comunitários e só ficam
trancados nas celas por quatro
horas diárias; ou no 5, de segurança máxima, onde ficam isolados até 22 horas por dia, mas
podem marcar horário para assistir a DVDs.
Segundo os guardas, a divisão é por comportamento, e
não pelo status do prisioneiro.
Todas as instalações visitadas
no tour para a imprensa são
modernas e limpas. "Aqui é
600% melhor do que a maioria
das prisões dentro dos EUA",
comentou um dos militares.
O infame campo X-Ray
(raio-X), imortalizado nas imagens de prisioneiros ajoelhados
com macacões alaranjados, não
funciona mais. A cor laranja indicam detentos "rebeldes"; só
um ou dois os usam atualmente, dizem militares. O resto está
de branco ou bege.
Além da proibição de métodos de tortura, como a simulação de afogamento ("waterboarding"), responsáveis pelo
centro afirmam que programas
destinados aos presos foram
fundamentais nas transformações. Quem coopera com as autoridades pode frequentar aulas de línguas (inglês e árabe),
de arte (a mais popular) e até
de "habilidades para a vida",
em que aprendem a fazer orçamentos e elaborar currículos.
Em 2006, mais de cem detentos fizeram greve de fome e
tiveram de ser alimentados por
via intravenosa; hoje, o número
caiu para cinco, de acordo com
informações oficiais.
"Nós respeitamos os presos,
eles nos respeitam", afirmou a
militar que conduziu a visita no
campo 5. A Folha testemunhou interações sem incidentes entre os dois grupos em todos os três campos, mas não
pôde falar com os presos.
O antigo palco de torturas físicas e psicológicas continua,
porém, a produzir escândalos.
O mais recente veio à tona há
apenas dois dias. Foi divulgado
o depoimento de um antigo assessor do departamento de Estado que afirma que o ex-presidente George W. Bush (2001-2009) sabia que muitos dos detentos de Guantánamo eram
inocentes, mas se recusou a libertá-los por razões políticas.
Segundo o assessor, frequentemente não havia prova relacionada com os detentos e nenhuma forma de saber por que
cada um foi enviado para lá.
Nesse ponto, Guantánamo
pouco mudou.
(ANDREA MURTA)
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