São Paulo, domingo, 11 de abril de 2010

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Durante visita, jornalistas têm cada passo vigiado por militares

DA ENVIADA A GUANTÁNAMO

Na sala de imprensa da base militar de Guantánamo, os telefones trazem um aviso: "Não discuta informação confidencial. Esta linha é monitorada o tempo todo. Uso do telefone constitui consentimento ao monitoramento".
A imprensa só chega a Guantánamo autorizada pelo Pentágono, e do momento em que os jornalistas aterrissam na ilha até o retorno a Washington, todos os passos são vigiados de perto. As únicas movimentações oficialmente permitidas sem acompanhante são para o banheiro e até a sala de imprensa, a alguns metros de distância do local de hospedagem.
Há estrito controle sobre o que é visto e divulgado. As informações são vagas: ninguém diz quantos detentos há em cada complexo ou onde estão os presos que, pelos planos do governo, ficarão detidos sem julgamento indefinidamente.
Ao fim de cada dia, um militar confere todas as fotos e vídeos feitos. Se algo for considerado inadequado, o jornalista é obrigado a apagar o material. Nenhuma foto sai de Guantánamo sem passar pelo sistema de censura -a Folha teve fotos deletadas diariamente.
As regras são informadas previamente. Não se pode capturar imagens internas ou externas dos tribunais onde as comissões militares operam. Durante as sessões, a imprensa fica em uma sala separada por uma parede de vidro, e o sistema de áudio tem atraso de alguns segundos. Isso permite a um censor sentado ao lado da juíza cortar o som caso sejam discutidas informações confidenciais. Mesmo assim, é proibido levar gravador.
Fotos dos militares, só com consentimento expresso. "Se algum soldado quiser fazer pose de herói para vocês, ótimo", disse uma militar. Mas a maioria deles só permite fotos do pescoço para baixo. Citam temores de retaliação posterior por parte das redes a que os presos supostamente pertencem, como a Al Qaeda.
Imagens dos detentos feitas durante os tours nas prisões não podem mostrar o rosto nem exibir características que facilitem sua identificação, como manchas de pele. Não se pode falar com os presos.
Também não se podem capturar imagens com mais de uma torre de vigilância ou de torres vazias -é preciso evitar que o mundo veja que nem todas elas estão ocupadas o tempo todo. Antenas, câmeras, radares e infraestrutura considerada crítica, como plantas de energia, são barradas. E tomadas de vídeo devem ser curtas para impedir que seja feito um "mapa" de Guantánamo.
Textos não sofrem censura, mas algumas conexões de internet expõem avisos de que o material transmitido também será monitorado.
Os jornalistas ficam acampados na chamada Tent City (cidade de tendas), em barracas militares com capacidade para seis pessoas. Banheiros (latrinas) e chuveiros estão em barracões próximos, separados por sexo.
Atualmente, só ficam na Tent City visitantes como repórteres e membros de ONGs: os militares ficam em casas ou apartamentos na cidade, longe da mídia. Todo mundo se encontra, porém, nas refeições nos restaurantes locais ou nos refeitórios. Nesses momentos, apesar do controle -ou talvez por causa dele-, a simpatia é regra entre os oficiais.


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