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Durante visita, jornalistas têm cada passo vigiado por militares
DA ENVIADA A GUANTÁNAMO
Na sala de imprensa da base
militar de Guantánamo, os telefones trazem um aviso: "Não
discuta informação confidencial. Esta linha é monitorada o
tempo todo. Uso do telefone
constitui consentimento ao
monitoramento".
A imprensa só chega a Guantánamo autorizada pelo Pentágono, e do momento em que os
jornalistas aterrissam na ilha
até o retorno a Washington, todos os passos são vigiados de
perto. As únicas movimentações oficialmente permitidas
sem acompanhante são para o
banheiro e até a sala de imprensa, a alguns metros de distância
do local de hospedagem.
Há estrito controle sobre o
que é visto e divulgado. As informações são vagas: ninguém
diz quantos detentos há em cada complexo ou onde estão os
presos que, pelos planos do governo, ficarão detidos sem julgamento indefinidamente.
Ao fim de cada dia, um militar confere todas as fotos e vídeos feitos. Se algo for considerado inadequado, o jornalista é
obrigado a apagar o material.
Nenhuma foto sai de Guantánamo sem passar pelo sistema
de censura -a Folha teve fotos
deletadas diariamente.
As regras são informadas
previamente. Não se pode capturar imagens internas ou externas dos tribunais onde as
comissões militares operam.
Durante as sessões, a imprensa
fica em uma sala separada por
uma parede de vidro, e o sistema de áudio tem atraso de alguns segundos. Isso permite a
um censor sentado ao lado da
juíza cortar o som caso sejam
discutidas informações confidenciais. Mesmo assim, é proibido levar gravador.
Fotos dos militares, só com
consentimento expresso. "Se
algum soldado quiser fazer pose de herói para vocês, ótimo",
disse uma militar. Mas a maioria deles só permite fotos do
pescoço para baixo. Citam temores de retaliação posterior
por parte das redes a que os
presos supostamente pertencem, como a Al Qaeda.
Imagens dos detentos feitas
durante os tours nas prisões
não podem mostrar o rosto
nem exibir características que
facilitem sua identificação, como manchas de pele. Não se
pode falar com os presos.
Também não se podem capturar imagens com mais de
uma torre de vigilância ou de
torres vazias -é preciso evitar
que o mundo veja que nem todas elas estão ocupadas o tempo todo. Antenas, câmeras, radares e infraestrutura considerada crítica, como plantas de
energia, são barradas. E tomadas de vídeo devem ser curtas
para impedir que seja feito um
"mapa" de Guantánamo.
Textos não sofrem censura,
mas algumas conexões de internet expõem avisos de que o
material transmitido também
será monitorado.
Os jornalistas ficam acampados na chamada Tent City (cidade de tendas), em barracas
militares com capacidade para
seis pessoas. Banheiros (latrinas) e chuveiros estão em barracões próximos, separados
por sexo.
Atualmente, só ficam na
Tent City visitantes como repórteres e membros de ONGs:
os militares ficam em casas ou
apartamentos na cidade, longe
da mídia. Todo mundo se encontra, porém, nas refeições
nos restaurantes locais ou nos
refeitórios. Nesses momentos,
apesar do controle -ou talvez
por causa dele-, a simpatia é
regra entre os oficiais.
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