UOL


São Paulo, domingo, 11 de maio de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

EPIDEMIA

Hospitais listados pelo governo como referência para lidar com a doença enfrentam superlotação e falta de equipamentos

Preparação brasileira anti-Sars é precária

DA AGÊNCIA FOLHA
DA REDAÇÃO

Hospitais listados pela Funasa (Fundação Nacional da Saúde) como referência para lidar com a Sars (síndrome respiratória aguda grave, na sigla em inglês) enfrentam problemas tradicionais do sistema público de saúde brasileiro, como superlotação e falta de equipamentos, de acordo com levantamento feito pela Folha.
A Funasa publicou em seu site uma rede de 33 hospitais em todo o país que estariam capacitados para receber eventuais casos da doença. Segundo o órgão do governo federal, esses estabelecimentos foram indicados pelas secretarias estaduais da Saúde. A lista pode ser consultada no endereço www.funasa.gov.br/epi/sars/ hospitais-sars.htm.
A pior situação encontrada foi a do hospital da Universidade Federal do Espírito Santo, em Vitória, que não tomou nenhuma medida específica. Lá, até mesmo a classificação de referência é contestada pelo chefe do pronto-socorro, Márcio Martins Souza.
Segundo Souza, o hospital enfrenta problemas de infra-estrutura e superlotação, o que prejudicaria ações relacionadas à Sars.
Da mesma forma, em Aracaju (SE), a diretora de saúde do Hospital Estadual João Alves Filho, Ângela Silva, afirmou que a instituição teria problemas para atender casos de Sars.
"Se aparecesse um paciente com a doença, teríamos de mobilizar toda a equipe do hospital apenas para atendê-lo", disse ela.
A Santa Casa de Campo Grande (MS) é outro hospital que teria dificuldades para lidar com a doença, especificamente no que diz respeito aos leitos disponíveis.
"Temos 800 leitos e 900 doentes no hospital. Eu tenho cem pacientes em macas", disse o diretor técnico, Leonildo Herrero Perandré.
Apesar de ter promovido treinamento de pessoal e compra de material, o Hospital do Centro de Medicina Tropical, em Porto Velho (RO), não está preparado para cuidar da internação em eventuais casos de Sars. A avaliação é da diretora-geral, Ângela Zocal.

Melhores condições
Para Eduardo Medeiros, chefe do Serviço de Prevenção e Controle de Infecção do Hospital São Paulo, na capital paulista, a unidade está pronta para receber casos de Sars. O hospital fez treinamento sobre a doença e conta com oito leitos com isolamento específico para doenças respiratórias, com pressão negativa (evita que o ar do quarto saia). Em caso emergencial, é possível aumentar o número de leitos em isolamento.
O Estado de São Paulo conta com mais dois hospitais de referência, o Emílio Ribas e o Hospital do Servidor Público Estadual.
Instalado em Foz do Iguaçu (PR), na região da Tríplice Fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina, o Hospital Ministro Costa Cavalcanti mantém desde o início de abril um apartamento específico para atender casos suspeitos ou mesmo doentes de Sars.
Foz é considerada "área de atenção" pelas autoridades sanitárias, em razão do número de chineses e descendentes que moram na cidade ou transitam na região.
No Hospital Estadual Oswaldo Cruz, em Recife (PE), seu diretor clínico considera a instituição capacitada para receber "um ou dois" pacientes com suspeita de Sars. "Mais do que isso, nenhum hospital do Brasil tem condições de atender", disse Fernando Cruz.
Referência em doenças infecto-contagiosas, a unidade mantém leitos de isolamento, mas não possui quartos com pressão negativa e exaustão e filtragem do ar.
Um projeto para a implantação desses sistemas de segurança, avaliado em R$ 400 mil, foi elaborado e encaminhado aos governos federal e estadual, que ainda não se manifestaram.
No Hospital Universitário da Universidade Federal do Rio de Janeiro, cinco quartos foram preparados com filtros especiais e pressão negativa. A partir de amanhã, o hospital instalará filtros em outros 30 ambientes. O Estado tem outro hospital de referência.


Texto Anterior: Menem e Kirchner são como água e vinho
Próximo Texto: Funasa afirma que indicação é dos Estados
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.