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IRAQUE OCUPADO
Presidente diz que é "estupendo" o trabalho de seu secretário, cuja aprovação caiu de 58%, em outubro, para 46%
Bush dá apoio a Rumsfeld; americanos tiram
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
O presidente dos EUA, George
W. Bush, deu ontem uma demonstração pública de apoio a
Donald Rumsfeld, no mesmo dia
em que uma pesquisa mostrou
queda acentuada na aprovação
dos americanos ao trabalho do
seu secretário da Defesa.
Bush reuniu a cúpula de seu governo para fazer uma série de elogios públicos a Rumsfeld e tentar
reparar o desgaste dos últimos
dias, em razão da revelação de
imagens de abusos de prisioneiros no Iraque.
Em uma atitude incomum,
Bush foi ao Pentágono com seu
vice, Dick Cheney, e com o secretário de Estado, Colin Powell, onde esteve reunido com Rumsfeld,
com líderes militares e com o diretor da CIA, George Tenet.
"Você está fazendo um trabalho
estupendo. Você é um secretário
da Defesa forte, e nosso país lhe
deve muita gratidão", disse Bush
a Rumsfeld diante dos jornalistas.
Com os braços cruzados às costas, Rumsfeld ouviu ainda outros
elogios do presidente, que se recusou a responder a perguntas.
"Obrigado por sua liderança.
Você tem liderado de forma corajosa nosso país nesta guerra internacional contra o terrorismo",
disse Bush ao secretário. Durante
o fim de semana, Dick Cheney já
havia dito que Rumsfeld era "o
melhor secretário da Defesa" que
os EUA já tiveram.
Pesquisa mostra problemas
O empenho do governo em reagir ao escândalo do abuso de prisioneiros no Iraque mostra o potencial de desgaste do caso para
Bush, em campanha pela reeleição em novembro.
Uma pesquisa do Gallup divulgada ontem pelo jornal "USA Today" e pela CNN diz que 46% dos
entrevistados aprovam o trabalho
de Rumsfeld -eram 58% em outubro. A desaprovação subiu de
36% para 45% no período. A margem de erro desta pergunta é de
três pontos percentuais, para
mais ou para menos.
Além disso, o apoio à Guerra do
Iraque, um dos principais trunfos
de Bush, caiu de 63% em agosto
de 2003 para 44% agora -a
maioria (54%) acha que o esforço
americano para derrubar Saddam
Hussein não valeu a pena. Neste
caso, a margem de erro é de cinco
pontos percentuais.
A desaprovação ao trabalho de
Bush no Iraque chegou a 58%,
contra 55% uma semana antes e
41% em agosto do ano passado. A
margem de erro, nesta pergunta, é
de cinco pontos percentuais.
Apesar da ação de Bush em favor de seu secretário, o semanário
"Army Times", com grande influência entre os militares americanos, pediu ontem, em editorial,
a renúncia de Rumsfeld.
"O caso todo demonstra um
fracasso na liderança, do começo
ao fim", disse o texto, reproduzido também por publicações destinadas à Força Aérea e à Marinha.
No Pentágono, Bush fez questão
de marcar o evento de ontem com
forte simbolismo.
Com o desagravo, a Casa Branca espera deixar para trás a fase
mais aguda da crise envolvendo
as fotos e denúncias de torturas.
Além de já ter denunciado sete
envolvidos, o governo planeja um
julgamento público e exemplar
dos militares para tentar superar
o ocorrido sem ter de se desgastar
ainda mais por causa da atual situação no Iraque.
Na sexta-feira, Rumsfeld depôs
por mais de seis horas em duas
sessões do Congresso para tentar
explicar os casos de tortura e a falta de informações e providências
entre os militares.
A avaliação da Casa Branca é
que Rumsfeld se saiu bem em seu
depoimento, apesar de não ter
conseguido, em vários momentos, explicar o básico: como um
dos homens mais poderosos do
mundo demorou "dias e dias e
dias", em suas próprias palavras,
para obter cópias de fotos que a
mídia já possuía.
Hoje, o Senado americano deve
ouvir o autor do relatório que explicitou os abusos, o general Antonio Taguba. Ontem, os senadores aprovaram, por 92 a 0, uma resolução bipartidária condenando
a tortura de iraquianos.
Entre os congressistas republicanos, aliados de Bush, o caso era
dado por praticamente encerrado
ontem. O presidente espera obter
maioria no Congresso nos próximos dias para aprovar uma verba
adicional de US$ 25 bilhões para a
ação militar no Iraque.
Mais fotos
Durante sua passagem pelo Departamento da Defesa, Bush viu
outras fotos ainda não divulgadas
que mostram presos iraquianos
sendo humilhados e torturados.
Bush afirmou que as imagens se
tratavam de "um insulto contra o
povo iraquiano e uma afronta para todos os padrões de decência".
O porta-voz da Casa Branca,
Scott McClellan, afirmou que o
presidente estava considerando o
"andamento das investigações"
para tomar uma decisão sobre divulgá-las ou não.
Durante a visita, Bush também
analisou várias outras fotos inéditas, mas a Casa Branca ainda não
decidiu se pretende tornar as imagens públicas.
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