São Paulo, terça-feira, 11 de maio de 2004

Próximo Texto | Índice

IRAQUE OCUPADO

Presidente diz que é "estupendo" o trabalho de seu secretário, cuja aprovação caiu de 58%, em outubro, para 46%

Bush dá apoio a Rumsfeld; americanos tiram

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

O presidente dos EUA, George W. Bush, deu ontem uma demonstração pública de apoio a Donald Rumsfeld, no mesmo dia em que uma pesquisa mostrou queda acentuada na aprovação dos americanos ao trabalho do seu secretário da Defesa.
Bush reuniu a cúpula de seu governo para fazer uma série de elogios públicos a Rumsfeld e tentar reparar o desgaste dos últimos dias, em razão da revelação de imagens de abusos de prisioneiros no Iraque.
Em uma atitude incomum, Bush foi ao Pentágono com seu vice, Dick Cheney, e com o secretário de Estado, Colin Powell, onde esteve reunido com Rumsfeld, com líderes militares e com o diretor da CIA, George Tenet.
"Você está fazendo um trabalho estupendo. Você é um secretário da Defesa forte, e nosso país lhe deve muita gratidão", disse Bush a Rumsfeld diante dos jornalistas.
Com os braços cruzados às costas, Rumsfeld ouviu ainda outros elogios do presidente, que se recusou a responder a perguntas.
"Obrigado por sua liderança. Você tem liderado de forma corajosa nosso país nesta guerra internacional contra o terrorismo", disse Bush ao secretário. Durante o fim de semana, Dick Cheney já havia dito que Rumsfeld era "o melhor secretário da Defesa" que os EUA já tiveram.

Pesquisa mostra problemas
O empenho do governo em reagir ao escândalo do abuso de prisioneiros no Iraque mostra o potencial de desgaste do caso para Bush, em campanha pela reeleição em novembro.
Uma pesquisa do Gallup divulgada ontem pelo jornal "USA Today" e pela CNN diz que 46% dos entrevistados aprovam o trabalho de Rumsfeld -eram 58% em outubro. A desaprovação subiu de 36% para 45% no período. A margem de erro desta pergunta é de três pontos percentuais, para mais ou para menos.
Além disso, o apoio à Guerra do Iraque, um dos principais trunfos de Bush, caiu de 63% em agosto de 2003 para 44% agora -a maioria (54%) acha que o esforço americano para derrubar Saddam Hussein não valeu a pena. Neste caso, a margem de erro é de cinco pontos percentuais.
A desaprovação ao trabalho de Bush no Iraque chegou a 58%, contra 55% uma semana antes e 41% em agosto do ano passado. A margem de erro, nesta pergunta, é de cinco pontos percentuais.
Apesar da ação de Bush em favor de seu secretário, o semanário "Army Times", com grande influência entre os militares americanos, pediu ontem, em editorial, a renúncia de Rumsfeld.
"O caso todo demonstra um fracasso na liderança, do começo ao fim", disse o texto, reproduzido também por publicações destinadas à Força Aérea e à Marinha.
No Pentágono, Bush fez questão de marcar o evento de ontem com forte simbolismo.
Com o desagravo, a Casa Branca espera deixar para trás a fase mais aguda da crise envolvendo as fotos e denúncias de torturas.
Além de já ter denunciado sete envolvidos, o governo planeja um julgamento público e exemplar dos militares para tentar superar o ocorrido sem ter de se desgastar ainda mais por causa da atual situação no Iraque.
Na sexta-feira, Rumsfeld depôs por mais de seis horas em duas sessões do Congresso para tentar explicar os casos de tortura e a falta de informações e providências entre os militares.
A avaliação da Casa Branca é que Rumsfeld se saiu bem em seu depoimento, apesar de não ter conseguido, em vários momentos, explicar o básico: como um dos homens mais poderosos do mundo demorou "dias e dias e dias", em suas próprias palavras, para obter cópias de fotos que a mídia já possuía.
Hoje, o Senado americano deve ouvir o autor do relatório que explicitou os abusos, o general Antonio Taguba. Ontem, os senadores aprovaram, por 92 a 0, uma resolução bipartidária condenando a tortura de iraquianos.
Entre os congressistas republicanos, aliados de Bush, o caso era dado por praticamente encerrado ontem. O presidente espera obter maioria no Congresso nos próximos dias para aprovar uma verba adicional de US$ 25 bilhões para a ação militar no Iraque.

Mais fotos
Durante sua passagem pelo Departamento da Defesa, Bush viu outras fotos ainda não divulgadas que mostram presos iraquianos sendo humilhados e torturados. Bush afirmou que as imagens se tratavam de "um insulto contra o povo iraquiano e uma afronta para todos os padrões de decência".
O porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan, afirmou que o presidente estava considerando o "andamento das investigações" para tomar uma decisão sobre divulgá-las ou não.
Durante a visita, Bush também analisou várias outras fotos inéditas, mas a Casa Branca ainda não decidiu se pretende tornar as imagens públicas.


Próximo Texto: Abuso era "parte do processo", disse oficial dos EUA
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.