São Paulo, terça-feira, 11 de maio de 2004

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Abuso era "parte do processo", disse oficial dos EUA

DA REDAÇÃO

A Cruz Vermelha viu soldados americanos manterem prisioneiros iraquianos nus durante dias em celas escuras na prisão de Abu Ghraib, em outubro passado, e recebeu de um membro graduado do serviço de inteligência dos EUA a informação de que isso fazia "parte do processo", segundo um relatório confidencial da entidade -que vazou na semana passada e foi divulgado na íntegra ontem no site do "Wall Street Journal" -www.wsj.com (é preciso senha de usuário do jornal).
A divulgação do relatório -de 24 páginas- fez com que aumentasse a pressão sobre o governo dos EUA, já que revelou que comandantes militares americanos ficaram sabendo dos abusos ocorridos na prisão de Abu Ghraib, no Iraque, meses antes que uma investigação criminal fosse aberta.
A Cruz Vermelha, que tem acesso especial a prisões em zonas de guerra graças a tratados internacionais, disse no relatório (de fevereiro) que os abusos não eram "casos excepcionais" e "podiam ser considerados uma prática tolerada pelas forças da coalizão".
"Em alguns casos, os abusos são equivalentes a atos de tortura", disse o texto da Cruz Vermelha.
O presidente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, Jakob Kellenberger, afirmou, porém, que a divulgação do texto desagradou à entidade. "Estou profundamente perturbado pelo fato de o relatório ter sido transmitido para publicação sem o consentimento do CICV."
Os EUA afirmam que começaram a investigar a situação na prisão de Abu Ghraib (situada perto de Bagdá) em janeiro, depois que um soldado apresentou uma denúncia de maus-tratos. Os abusos se tornaram públicos no último dia 28, quando a rede de TV americana CBS exibiu as fotos.
Segundo o texto da Cruz Vermelha, vários membros da cúpula do regime do ex-ditador Saddam Hussein -que fazem parte do baralho distribuído pelos EUA a seus militares- foram alvo de abusos ainda mais graves. Esses ex-assessores de Saddam foram classificados de detidos de "alto valor estratégico" pelos EUA.
Os prisioneiros iraquianos que ainda estão na prisão de Abu Ghraib fizeram um rumoroso protesto ontem contra as condições em que estão detidos, atrapalhando uma tentativa dos EUA de melhorar a reputação do local. Os americanos permitiram que jornalistas entrassem na prisão para observar o tratamento dado aos prisioneiros iraquianos.
Alguns soldados americanos se especializaram em sodomizar prisioneiros iraquianos em Abu Ghraib, segundo um ex-coronel do Exército iraquiano -que ficou três meses preso no local.

Human Rights Watch
Os abusos impostos aos prisioneiros em Abu Ghraib são provas dos graves ataques aos direitos humanos ocorridos após o 11 de Setembro, segundo a organização de defesa dos direitos humanos dos EUA Human Rights Watch.
"Houve incidentes em que as Convenções de Genebra [1949] não foram aplicadas. Isso criou um clima em que novos abusos são inevitáveis", disse a entidade.


Com agências internacionais


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