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Abuso era "parte do processo", disse oficial dos EUA
DA REDAÇÃO
A Cruz Vermelha viu soldados
americanos manterem prisioneiros iraquianos nus durante dias
em celas escuras na prisão de Abu
Ghraib, em outubro passado, e recebeu de um membro graduado
do serviço de inteligência dos
EUA a informação de que isso fazia "parte do processo", segundo
um relatório confidencial da entidade -que vazou na semana
passada e foi divulgado na íntegra
ontem no site do "Wall Street
Journal" -www.wsj.com (é preciso senha de usuário do jornal).
A divulgação do relatório -de
24 páginas- fez com que aumentasse a pressão sobre o governo
dos EUA, já que revelou que comandantes militares americanos
ficaram sabendo dos abusos ocorridos na prisão de Abu Ghraib, no
Iraque, meses antes que uma investigação criminal fosse aberta.
A Cruz Vermelha, que tem acesso especial a prisões em zonas de
guerra graças a tratados internacionais, disse no relatório (de fevereiro) que os abusos não eram
"casos excepcionais" e "podiam
ser considerados uma prática tolerada pelas forças da coalizão".
"Em alguns casos, os abusos são
equivalentes a atos de tortura",
disse o texto da Cruz Vermelha.
O presidente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, Jakob Kellenberger, afirmou, porém, que a divulgação do texto desagradou à entidade. "Estou profundamente perturbado pelo fato
de o relatório ter sido transmitido
para publicação sem o consentimento do CICV."
Os EUA afirmam que começaram a investigar a situação na prisão de Abu Ghraib (situada perto
de Bagdá) em janeiro, depois que
um soldado apresentou uma denúncia de maus-tratos. Os abusos
se tornaram públicos no último
dia 28, quando a rede de TV americana CBS exibiu as fotos.
Segundo o texto da Cruz Vermelha, vários membros da cúpula
do regime do ex-ditador Saddam
Hussein -que fazem parte do
baralho distribuído pelos EUA a
seus militares- foram alvo de
abusos ainda mais graves. Esses
ex-assessores de Saddam foram
classificados de detidos de "alto
valor estratégico" pelos EUA.
Os prisioneiros iraquianos que
ainda estão na prisão de Abu
Ghraib fizeram um rumoroso
protesto ontem contra as condições em que estão detidos, atrapalhando uma tentativa dos EUA de
melhorar a reputação do local. Os
americanos permitiram que jornalistas entrassem na prisão para
observar o tratamento dado aos
prisioneiros iraquianos.
Alguns soldados americanos se
especializaram em sodomizar
prisioneiros iraquianos em Abu
Ghraib, segundo um ex-coronel
do Exército iraquiano -que ficou três meses preso no local.
Human Rights Watch
Os abusos impostos aos prisioneiros em Abu Ghraib são provas
dos graves ataques aos direitos
humanos ocorridos após o 11 de
Setembro, segundo a organização
de defesa dos direitos humanos
dos EUA Human Rights Watch.
"Houve incidentes em que as
Convenções de Genebra [1949]
não foram aplicadas. Isso criou
um clima em que novos abusos
são inevitáveis", disse a entidade.
Com agências internacionais
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