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Atos ferem Convenções de Genebra
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Os abusos impostos aos detidos
na prisão de Abu Ghraib, segundo
as fotografias reveladas recentemente, são uma violação clara às
leis internacionais de guerra e
constituem uma "vergonha" para
um país que prega a propagação
da democracia, de acordo com especialistas em direito internacional consultados pela Folha.
"Os atos mostrados nas fotos
são completamente contrários à
Terceira Convenção de Genebra,
que enfatiza não apenas que os
prisioneiros de guerra não devem
sofrer abusos mas também que
eles merecem ser tratados com
respeito. Isso se baseia no fato de
que os prisioneiros de guerra não
são criminosos, mas combatentes
que foram retirados do campo de
batalha", explicou Allan Ryan, da
Universidade Harvard (EUA).
Assim, privar prisioneiros de
roupas, de alimentação e de tratamento médico para "facilitar os
interrogatórios" é "uma transgressão irrefutável às leis internacionais de guerra", que entraram
em vigor após a Segunda Guerra.
No que tange a interrogatórios,
ademais, a Terceira Convenção de
Genebra estabelece que os prisioneiros de guerra são obrigados a
revelar apenas seus nomes, sua
posição nas Forças Armadas e seu
número de registro militar.
"Se não quiserem dizer mais nada, os prisioneiros de guerra não
poderão ser compelidos a fazê-lo.
Isso constituiria outra violação às
leis internacionais", analisou
Christopher Joyner, da Universidade de Georgetown (EUA).
Ryan lembrou que, como já
ocorre com os estrangeiros detidos na base de Guantánamo (Cuba), muitos dos presos de Abu
Ghraib podem ser vistos pelas autoridades americanas como "inimigos combatentes". O especialista ressaltou, todavia, que, mesmo assim, o tratamento reservado a certos prisioneiros não é permitido por leis internacionais.
"A tortura não é autorizada em
nenhum caso. Não importa se se
trata de prisioneiros de guerra, de
pessoas de "alto valor estratégico"
por conta das informações que
podem revelar ou de presos comuns", avaliou Ryan.
Joyner salientou ainda que o fato de pessoas de "alto valor estratégico" e prisioneiros de guerra
serem mantidos ao lado de presos
comuns em Abu Ghraib também
constitui uma transgressão à Terceira Convenção de Genebra.
"Cada tipo de prisioneiro deveria ficar detido num lugar diferente. E as pessoas de "alto valor estratégico", como Washington as
define, também só são obrigadas
a revelar seu nome, sua posição e
seu registro", afirmou Joyner.
Segundo os especialistas, os responsáveis pelos abusos e seus superiores deverão ser punidos individualmente, mas nenhuma lei
prevê que os EUA possam receber
uma punição internacional. "Só
instâncias políticas, como o Conselho de Segurança da ONU, poderiam punir o país", disse Ryan.
Como os americanos têm poder
de veto no CS, trata-se de uma
possibilidade apenas teórica. Afinal, na prática, nenhuma sanção
aos EUA deixaria de ser vetada.
O Tribunal Penal Internacional
também não poderia ser acionado mesmo que os EUA fizessem
parte do órgão. O TPI só é acionado quando a Justiça do país envolvido se recusa a investigar o ocorrido, o que não é o caso nos EUA.
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