São Paulo, terça-feira, 11 de maio de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

IRAQUE OCUPADO

Anistia denuncia assassinatos de civis iraquianos por soldados britânicos; Portugal e Itália criticam EUA

55% dos britânicos querem volta das tropas

Roberto Schmidt/France Presse
Moradores de Fallujah comemoram o que consideram a "derrota norte-americana" pela cidade, principal foco da insurgência sunita


DA REDAÇÃO

Pesquisa divulgada ontem pelo diário britânico "The Independent" revela que 55% dos eleitores do Reino Unido defendem a retirada das tropas do Iraque até 30 de junho, quando deve ocorrer a transferência de poder aos iraquianos. A porcentagem é praticamente o dobro dos que defendem a permanência -28%. Outros 17% não responderam.
O levantamento mostra um descontentamento com a política no Iraque no momento em que o governo avalia a necessidade de enviar mais soldados ao país ocupado para combater a insurreição contra as forças da coalizão. O Reino Unido mantém a segundo maior contingente no Iraque, com cerca de 8.000 militares.
A pesquisa foi conduzida entre os dias 30 de abril e 2 maio, período em que estourou o escândalo dos casos de torturas e maus-tratos contra prisioneiros iraquianos. O jornal não divulgou a margem de erro do levantamento.
Os números refletem um período turbulento para o governo do premiê Tony Blair (trabalhista), que tenta se defender das alegações da maus-tratos contra iraquianos. Em pesquisas semelhantes realizadas sobre a ação britânica no Iraque, a população se mostrava mais dividida sobre o tema.
Em depoimento ao Parlamento ontem, o secretário da Defesa britânico, Geoff Hoon, disse que dois casos de maus-tratos envolvendo soldados britânicos podem se transformar em processos em breve. Ele não deu mais detalhes.
Hoon disse que a situação continua tensa nas cidades de Basra e Amara (sul) e que espera mais violência nos próximos dias.

Anistia
A Anistia Internacional acusou ontem soldados britânicos de terem baleado e matado civis iraquianos, inclusive um criança de 8 anos, em diversas situações sem ameaça aparente. A entidade de defesa dos direitos humanos também afirma que, ao contrário do que se supõe, a região controlada pelo Reino Unido, no sul do país, está bastante violenta.
O relatório de uma das principais entidades de direitos humanos do mundo disse que as Forças Armadas britânicas não investigaram diversos casos em que soldados britânicos mataram civis iraquianos. Já os inquéritos realizados sobre o problema foram excessivamente sigilosos.
O Ministério da Defesa informou à agência Associated Press que só comentaria as acusações após examinar o relatório.
Segundo a Anistia, grupos armados e indivíduos têm assassinado até centenas de civis na região controlada pelos britânicos, de maioria xiita.
O relatório não estima quantos civis iraquianos teriam sido mortos por soldados britânicos, mas afirma que, em agosto, um soldado matou a tiros Hanan Saleh Matrud, 8, na cidade de Karmat'Ali. A acusação se baseia no relato de uma testemunha.

Críticas de aliados
As denúncias de tortura e maus-tratos contra soldados norte-americanos provocaram ontem críticas entre os aliados de Washington no Iraque.
Uma das censuras mais duras veio de Portugal, que mantém 128 oficiais de polícia no Iraque. O premiê José Durão Barroso disse que os abusos na prisão de Abu Ghraib (Bagdá) são "vis, degradantes e repugnantes". O governo português, no entanto, não deu sinais de que mudará sua política sobre o Iraque.
Na Itália, o premiê Silvio Berlusconi disse que as imagens são "terríveis", mas que manterá seus 3.000 militares no Iraque.
Já o seu chefe de gabinete, Rocco Buttiglione, sugeriu a renúncia do secretário da Defesa americano, Donald Rumsfeld.
"A principal diferença entre democracias e ditaduras é que nas primeiras os que são politicamente responsáveis por desgraças deveriam renunciar, e os que as realizaram, ir para a prisão, enquanto nas ditaduras isso é permitido", disse Buttiglione, segundo a agência de notícias italiana Ansa.


Com agências internacionais


Texto Anterior: Atos ferem Convenções de Genebra
Próximo Texto: EUA destroem escritório de Al Sadr
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.