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DEMOGRAFIA
Segundo censo, com baby boom "latino", metade das crianças de até 5 anos no país pertence a minorias étnicas;
Hispânicos puxam crescimento dos EUA
RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL
Quase metade das crianças de
até 5 anos nos Estados Unidos
pertence a alguma minoria racial
ou étnica, segundo um censo divulgado ontem em Washington.
A porcentagem está aumentando
principalmente por causa do crescimento acelerado da população
hispânica.
Os chamados "latinos" já formam a maior minoria e a que
cresce mais rapidamente no país.
Eles foram responsáveis por 49%
do crescimento demográfico dos
Estados Unidos entre 2004 e 2005.
Um em cada três americanos pertence a uma minoria racial ou étnica, mas o número cresce para
45% quando o foco é nas crianças
com menos de 5 anos de idade.
Como a população branca é
mais velha e tem uma taxa de natalidade menor, a porcentagem
hispânica só deve crescer.
Em algumas cidades do país, como Los Angeles, Houston, Miami
e Washington, as crianças das minorias são maioria.
Se fosse um país, a "economia"
dos hispânicos nos Estados Unidos estaria entre as quinze maiores do mundo. Eles movimentam
cerca de 700 milhões de dólares,
6% do PIB (Produto Interno Bruto) americano, quase a totalidade
do PIB brasileiro.
O demógrafo William H. Frey,
da Brookings Institution e professor da Universidade de Michigan,
disse ao jornal Washington Post,
que os Estados Unidos terão
"uma população multicultural
que provavelmente será mais tolerante, acostumada a outras raças e mais capaz de ter sucesso em
uma economia global".
O Censo de 2000 mostrou que
os latinos já haviam superado os
negros como a principal minoria
do país. A partir daí, não faltaram
números para mostrar o fortalecimento dessa tendência: quase
metade do crescimento populacional de 2000 a 2004 se deve aos
hispânicos. Um terço deles têm
menos de 18 anos -na população geral, esse grupo representa
apenas um quarto. A idade média
dos hispânicos é de 26,9 anos em
2004. Dos negros, era 31,2, e dos
brancos, 40,1.
O número de crianças negras
cresce mais devagar que as minorias étnicas, enquanto o número
de brancas diminuiu em dois
anos consecutivos nesta década,
mas voltou a crescer.
Apesar dos brancos representarem dois terços da população em
2004, eles contam apenas 18% do
crescimento entre 2000 e 2004. Os
asiáticos já são 4% da população
do país e foram responsáveis por
14% do crescimento.
Em 2003, residentes nascidos no
exterior representavam 11,7% da
população americana, a maior
porcentagem desde 1910.
Políticas sociais
Esse baby boom já provoca uma
grande discussão no país. Como
muitas dessas crianças nascem
em famílias pobres, elas são muito
afetadas pelos cortes no orçamento que atingem as políticas sociais
no governo republicano do presidente George W. Bush.
Mais de um terço dos alunos
hispânicos abandonam os estudos e eles representam apenas 5%
dos universitários do país. Ainda
que os filhos de imigrantes ilegais
possam estudar em escolas públicas, eles não podem concorrer a
bolsas de estudo, o que impede a
maioria deles de ingressar nas
universidades americanas.
Pior: alguns estados americanos
discutem novas leis que impediriam imigrantes ilegais de terem
acesso a serviços públicos, como
educação e assistência médica.
A mobilização da comunidade
latina aumentou muito nos últimos meses, graças à discussão de
projetos de lei sobre a situação
dos imigrantes ilegais (leia reportagem nesta página).
"O crescimento da população
hispânica terá enormes implicações nos Estados Unidos, da educação à mão de obra, da participação política a mudanças culturais", disse à Folha o porto-riquenho Ronald Blackburn-Moreno,
presidente da Aspira, uma das
maiores ONGs latinas dos Estados Unidos, com sede em Washington, cujo foco é a educação e
os jovens latinos.
"Essas crianças vão aprender
inglês, superar a discriminação
que seus pais sofrem, e são o futuro da economia americana. O
bem-estar deste país vai depender, em grande parte, da qualidade da educação e das possibilidades que estes futuros trabalhadores recebam agora".
Enquanto o crescimento da população asiática ainda é dominada pelos recém-chegados imigrantes, entre os hispânicos, os
nascimentos superaram o número de crianças que chegaram nesta década. Isso significa que a tendência só vai acelerar, mesmo
sem contar a imigração. Esse grupo, em vinte anos, começará a ter
seus próprios bebês.
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