São Paulo, quinta-feira, 11 de maio de 2006

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DEMOGRAFIA

Segundo censo, com baby boom "latino", metade das crianças de até 5 anos no país pertence a minorias étnicas;

Hispânicos puxam crescimento dos EUA

RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL

Quase metade das crianças de até 5 anos nos Estados Unidos pertence a alguma minoria racial ou étnica, segundo um censo divulgado ontem em Washington. A porcentagem está aumentando principalmente por causa do crescimento acelerado da população hispânica.
Os chamados "latinos" já formam a maior minoria e a que cresce mais rapidamente no país. Eles foram responsáveis por 49% do crescimento demográfico dos Estados Unidos entre 2004 e 2005. Um em cada três americanos pertence a uma minoria racial ou étnica, mas o número cresce para 45% quando o foco é nas crianças com menos de 5 anos de idade.
Como a população branca é mais velha e tem uma taxa de natalidade menor, a porcentagem hispânica só deve crescer.
Em algumas cidades do país, como Los Angeles, Houston, Miami e Washington, as crianças das minorias são maioria.
Se fosse um país, a "economia" dos hispânicos nos Estados Unidos estaria entre as quinze maiores do mundo. Eles movimentam cerca de 700 milhões de dólares, 6% do PIB (Produto Interno Bruto) americano, quase a totalidade do PIB brasileiro.
O demógrafo William H. Frey, da Brookings Institution e professor da Universidade de Michigan, disse ao jornal Washington Post, que os Estados Unidos terão "uma população multicultural que provavelmente será mais tolerante, acostumada a outras raças e mais capaz de ter sucesso em uma economia global".
O Censo de 2000 mostrou que os latinos já haviam superado os negros como a principal minoria do país. A partir daí, não faltaram números para mostrar o fortalecimento dessa tendência: quase metade do crescimento populacional de 2000 a 2004 se deve aos hispânicos. Um terço deles têm menos de 18 anos -na população geral, esse grupo representa apenas um quarto. A idade média dos hispânicos é de 26,9 anos em 2004. Dos negros, era 31,2, e dos brancos, 40,1.
O número de crianças negras cresce mais devagar que as minorias étnicas, enquanto o número de brancas diminuiu em dois anos consecutivos nesta década, mas voltou a crescer.
Apesar dos brancos representarem dois terços da população em 2004, eles contam apenas 18% do crescimento entre 2000 e 2004. Os asiáticos já são 4% da população do país e foram responsáveis por 14% do crescimento.
Em 2003, residentes nascidos no exterior representavam 11,7% da população americana, a maior porcentagem desde 1910.

Políticas sociais
Esse baby boom já provoca uma grande discussão no país. Como muitas dessas crianças nascem em famílias pobres, elas são muito afetadas pelos cortes no orçamento que atingem as políticas sociais no governo republicano do presidente George W. Bush.
Mais de um terço dos alunos hispânicos abandonam os estudos e eles representam apenas 5% dos universitários do país. Ainda que os filhos de imigrantes ilegais possam estudar em escolas públicas, eles não podem concorrer a bolsas de estudo, o que impede a maioria deles de ingressar nas universidades americanas.
Pior: alguns estados americanos discutem novas leis que impediriam imigrantes ilegais de terem acesso a serviços públicos, como educação e assistência médica.
A mobilização da comunidade latina aumentou muito nos últimos meses, graças à discussão de projetos de lei sobre a situação dos imigrantes ilegais (leia reportagem nesta página).
"O crescimento da população hispânica terá enormes implicações nos Estados Unidos, da educação à mão de obra, da participação política a mudanças culturais", disse à Folha o porto-riquenho Ronald Blackburn-Moreno, presidente da Aspira, uma das maiores ONGs latinas dos Estados Unidos, com sede em Washington, cujo foco é a educação e os jovens latinos.
"Essas crianças vão aprender inglês, superar a discriminação que seus pais sofrem, e são o futuro da economia americana. O bem-estar deste país vai depender, em grande parte, da qualidade da educação e das possibilidades que estes futuros trabalhadores recebam agora".
Enquanto o crescimento da população asiática ainda é dominada pelos recém-chegados imigrantes, entre os hispânicos, os nascimentos superaram o número de crianças que chegaram nesta década. Isso significa que a tendência só vai acelerar, mesmo sem contar a imigração. Esse grupo, em vinte anos, começará a ter seus próprios bebês.


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