DA REDAÇÃO

O presidente russo, Vladimir Putin, defendeu ontem em seu Discurso sobre o Estado da Federação que a Rússia tenha forças militares poderosas o suficientes para se proteger contra ataques potenciais e pressões políticas externas, e, no âmbito interno, propôs o aumento de subsídios para que as russas tenham mais filhos.
Putin também reagiu duramente a acusações feitas pelo vice-presidente dos EUA, Dick Cheney, na semana passada, de que ele teria recuado no processo de democratização e utilizava reservas de combustível para "chantagear" seus vizinhos.
"Onde fica toda essa fixação em proteger os direitos humanos e a democracia quando o assunto é a necessidade de buscar seus próprios interesses?", disse Putin, sorrindo sarcasticamente.
"Somos conscientes do que está ocorrendo no mundo. O camarada lobo sabe quem comer, e ele certamente não vai ouvir ninguém."
O líder russo ressaltou que o orçamento militar da Rússia é 25 vezes menor que o dos EUA. "A casa deles é sua fortaleza -bom para eles. Mas isso significa que nós também temos de tornar nossa casa mais forte e confiável", disse.
"Temos de estar prontos para conter qualquer tentativa de pressionar a Rússia de modo a fortalecer suas posições às nossas custas", acrescentou. " Quanto mais fortes forem nossas forças militares, menor será a tentação de exercer tal pressão sobre nós."
Para ilustrar a necessidade de o país aumentar suas defesas, Putin evocou os contos de fada, citando uma casa forte para se proteger "das investidas do lobo".
Em fevereiro, o presidente surpreendeu ao afirmar possuir "mísseis suficientes" com capacidade nuclear e capazes de penetrar qualquer sistema de defesa.
Ontem, ele disse que Moscou trabalharia para fortalecer os instrumentos de dissuasão nuclear e as forças militares convencionais. Entre as medidas está a profissionalização de dois terços do Exército até 2008.
"Precisamos de uma força militar que seja capaz de librar batalhas simultaneamente em conflitos globais, regionais e, se necessário, locais."
Numa referência indireta ao impasse sobre a questão nuclear iraniana, Putin disse que a Rússia continua sendo "indubitavelmente" contra a proliferação de armas nucleares.
Mas afirmou: "métodos de força raramente dão o resultado desejado, e muitas vezes as conseqüências são ainda mais terríveis do que a ameaça original." Rússia e China têm resistido a pressões dos EUA para que o Conselho de Segurança da ONU aplique sanções contra o Irã.

Natalidade
Em seu discurso, Putin propôs ainda aumentar o subsídio mensal pago a famílias pelo seu primeiro filho do equivalente a R$ 55 para R$ 100, para combater a queda populacional de cerca de 700 mil pessoas anualmente.
Pela proposta, as famílias que decidam ter um segundo filho teriam direito a um subsídio mensal equivalente a R$ 200. Já as mulheres que deixassem de trabalhar para ter um filho continuariam recebendo 40% de seu salário.
"Vamos falar do problema mais agudo que a Rússia enfrenta: demografia", disse. "Em termos gerais, estamos falando sobre a preservação do nosso povo."
Um relatório do Banco Mundial de dezembro apontou que a redução populacional põe em risco o crescimento econômico russo, devido à falta de mão-de-obra.
Dados oficiais apontam que a população russa caiu de 145 milhões em 2003 para 143 milhões em 2005, uma redução puxada pelo aumento da pobreza, do alcoolismo, da criminalidade e da imigração aliado ao desmantelamento do sistema público de saúde. Especialistas dizem que, se essa tendência se mantiver, o número de habitantes pode cair para 100 milhões até o meio do século.
Em média, a expectativa de vida dos russos é de 66 anos -14 anos a menos do que a média da União Européia. Hábitos como a má alimentação e alto consumo de álcool reduzem a expectativa de vida para 58 anos entre os homens.