São Paulo, domingo, 11 de maio de 2008

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Após mediação do Exército, Hizbollah tira milícia das ruas

Apesar de recuo, grupo radical xiita ganha mais força ante governo enfraquecido; analistas vêem fragilidade em trégua

Militares revertem ordens do premiê libanês; tensão persiste em Beirute após confrontos que mataram ao menos 29 pessoas pelo país


TARIQ SALEH
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE BEIRUTE

Milícias do Hizbollah deixaram as ruas de Beirute no início da noite de ontem, após o Exército libanês reverter duas decisões do governo contrárias ao grupo radical xiita e conseguir uma trégua. Milicianos podiam ser vistos entrando em veículos de transporte e gesticulando em sinal de vitória, desocupando vários bairros da capital.
Os últimos quatro dias de confrontos entre grupos pró e antigoverno deixaram ao menos 29 mortos e 35 feridos.
Bandeiras dos partidos da oposição, usadas para demarcar território, foram deixados para trás. Vários moradores do oeste de Beirute saíram às ruas para protestar, e muitos temem que a trégua não perdure ante as tensões no país.
Um comunicado do comando do Exército, na tarde de ontem, anunciou que o chefe de segurança do aeroporto de Beirute, brigadeiro-general Wafiq Shqeir, ligado ao Hizbollah, deveria permanecer no cargo e que a rede de comunicações privada do grupo seria mantida -contrariando ordens do governo do premiê Fuad Siniora. O Exército também ordenou que todos os milicianos armados se retirassem das ruas.
O Hizbollah anunciou então o fim das hostilidades, mas prometeu manter os protestos e a "desobediência civil", inclusive o bloqueio do aeroporto, até suas reivindicações serem atendidas.
Misto de partido político, rede assistencialista e grupo radical armado, o Hizbollah quer a formação de um novo governo, do qual participaria com poder de veto, e a mudança da lei eleitoral para possibilitar maior representatividade aos xiitas.

Fiel da balança
Para analistas, o Exército usou ontem a única opção a seu alcance, buscando evitar o desgaste tanto com o governo quanto com a oposição, já que os eventos dos últimos quatro dias provaram que o Hizbollah é a maior força militar do país.
Horas antes do anúncio dos militares, o premiê Siniora fez um discurso à nação em que acusava o Hizbollah de tentativa de golpe de Estado e dizia que não havia declarado guerra ao grupo, mas pedia ao Exército que cumprisse seu dever e desarmasse as milícias nas ruas.
Analistas dizem que a trégua é frágil, já que ninguém se comprometeu efetivamente com um acordo amplo para acabar com a crise, que se arrasta há um ano e chegou a um nível de tensão e desconfiança tremendos entre os dois lados.
O estopim dos atuais conflitos foi o anúncio do governo, na última terça, de que investigaria uma rede de comunicação que seria parte do sistema militar do grupo xiita. Pouco antes, Siniora demitira o chefe de segurança do aeroporto, acusando-o de permitir a instalação de câmeras de vigilância do grupo no local. No dia seguinte, o Hizbollah foi às ruas se juntar a uma greve convocada pelos sindicatos por melhores salários.
Os protestos logo viraram batalhas armadas entre milicianos de oposição e simpatizantes do governo. A oposição bloqueou avenidas, estradas e o acesso ao aeroporto de Beirute, chegando a tomar 11 bairros do lado oeste da capital, com reflexos em outros pontos do país.
Sob tensão desde 2005, o Líbano vive uma crise política há um ano e está sem presidente desde novembro, quando o pró-Síria Emile Lahoud deixou o cargo. Já foram adiadas 18 sessões do Parlamento para eleger seu sucessor, sem acordo sobre a formação de um futuro governo e novas leis eleitorais.
Hoje, a Liga Árabe deve se reunir para discutir a crise.


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