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Após mediação do Exército, Hizbollah tira milícia das ruas
Apesar de recuo, grupo radical xiita ganha mais força ante governo enfraquecido; analistas vêem fragilidade em trégua
Militares revertem ordens do premiê libanês; tensão persiste em Beirute após confrontos que mataram ao menos 29 pessoas pelo país
TARIQ SALEH
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE BEIRUTE
Milícias do Hizbollah deixaram as ruas de Beirute no início
da noite de ontem, após o Exército libanês reverter duas decisões do governo contrárias ao
grupo radical xiita e conseguir
uma trégua. Milicianos podiam
ser vistos entrando em veículos
de transporte e gesticulando
em sinal de vitória, desocupando vários bairros da capital.
Os últimos quatro dias de
confrontos entre grupos pró e
antigoverno deixaram ao menos 29 mortos e 35 feridos.
Bandeiras dos partidos da
oposição, usadas para demarcar território, foram deixados
para trás. Vários moradores do
oeste de Beirute saíram às ruas
para protestar, e muitos temem
que a trégua não perdure ante
as tensões no país.
Um comunicado do comando do Exército, na tarde de ontem, anunciou que o chefe de
segurança do aeroporto de Beirute, brigadeiro-general Wafiq
Shqeir, ligado ao Hizbollah, deveria permanecer no cargo e
que a rede de comunicações
privada do grupo seria mantida
-contrariando ordens do governo do premiê Fuad Siniora.
O Exército também ordenou
que todos os milicianos armados se retirassem das ruas.
O Hizbollah anunciou então
o fim das hostilidades, mas prometeu manter os protestos e a
"desobediência civil", inclusive
o bloqueio do aeroporto, até
suas reivindicações serem
atendidas.
Misto de partido político, rede assistencialista e grupo radical armado, o Hizbollah quer a
formação de um novo governo,
do qual participaria com poder
de veto, e a mudança da lei eleitoral para possibilitar maior representatividade aos xiitas.
Fiel da balança
Para analistas, o Exército
usou ontem a única opção a seu
alcance, buscando evitar o desgaste tanto com o governo
quanto com a oposição, já que
os eventos dos últimos quatro
dias provaram que o Hizbollah
é a maior força militar do país.
Horas antes do anúncio dos
militares, o premiê Siniora fez
um discurso à nação em que
acusava o Hizbollah de tentativa de golpe de Estado e dizia
que não havia declarado guerra
ao grupo, mas pedia ao Exército
que cumprisse seu dever e desarmasse as milícias nas ruas.
Analistas dizem que a trégua
é frágil, já que ninguém se comprometeu efetivamente com
um acordo amplo para acabar
com a crise, que se arrasta há
um ano e chegou a um nível de
tensão e desconfiança tremendos entre os dois lados.
O estopim dos atuais conflitos foi o anúncio do governo, na
última terça, de que investigaria uma rede de comunicação
que seria parte do sistema militar do grupo xiita. Pouco antes,
Siniora demitira o chefe de segurança do aeroporto, acusando-o de permitir a instalação de
câmeras de vigilância do grupo
no local. No dia seguinte, o Hizbollah foi às ruas se juntar a
uma greve convocada pelos sindicatos por melhores salários.
Os protestos logo viraram batalhas armadas entre milicianos de oposição e simpatizantes do governo. A oposição bloqueou avenidas, estradas e o
acesso ao aeroporto de Beirute,
chegando a tomar 11 bairros do
lado oeste da capital, com reflexos em outros pontos do país.
Sob tensão desde 2005, o Líbano vive uma crise política há
um ano e está sem presidente
desde novembro, quando o
pró-Síria Emile Lahoud deixou
o cargo. Já foram adiadas 18
sessões do Parlamento para
eleger seu sucessor, sem acordo
sobre a formação de um futuro
governo e novas leis eleitorais.
Hoje, a Liga Árabe deve se
reunir para discutir a crise.
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