São Paulo, segunda-feira, 11 de maio de 2009

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Paquistão manda civis abandonarem zona conflagrada

População aproveita pausa em ataques para fugir do vale do Swat, cenário de combates entre o Exército e o Taleban

"Ficar aqui representa a morte", diz morador do Swat; ofensiva militar tem apoio popular, mas divide os habitantes de área afetada

DA REDAÇÃO

O Exército paquistanês ordenou que moradores deixem zonas conflagradas do vale do Swat, campo de combates com o Taleban. Dezenas de milhares de residentes partiram ontem em motos, bicicletas, carroças e a pé, deixando a maioria dos pertences, aproveitando uma breve trégua e suspensão do toque de recolher. A circulação de veículos civis foi restringida.
"Todo mundo quer sair deste inferno", disse Zubair Khan, morador de Mingora, a principal cidade do vale, falando por telefone com a Reuters. "Eles ainda não sabem para onde estão indo, mas ficar aqui representa a morte."
Pelo menos 50 insurgentes foram mortos ontem, segundo o Exército paquistanês, que estima ter provocado "entre 400 e 500 baixas" no Taleban desde a escalada, na última quinta-feira, da operação no Swat e em distritos vizinhos. Não há dados sobre civis mortos.
A ONU estima que os deslocados pela escalada da ofensiva cheguem a 500 mil nos próximos dias. O fluxo elevaria para mais de 1 milhão o total de desabrigados pelo conflitos na Província da Fronteira Noroeste desde agosto do ano passado.
O combate aos insurgentes islâmicos na área é vital para estabilizar o vizinho Afeganistão, ocupado desde 2001 por tropas ocidentais, que derrubaram o regime do Taleban. O avanço dos radicais acirra temores internacionais sobre a segurança das bombas atômicas paquistanesas.
Com crescentes atentados contra alvos paquistaneses, as presença de radicais nas áreas tribais da fronteira, bastião da Al Qaeda e do Taleban, preocupa também Islamabad.
O Exército paquistanês luta "pela sobrevivência do país", disse o premiê Yousuf Gilani, em discurso transmitido pela TV. A operação militar tem amplo respaldo do Parlamento.
O tema galvaniza a sociedade paquistanesa, disse ontem David Petraeus, principal comandante de operações militares dos EUA. O cientista político paquistanês Rasul Rais, ouvido pela Folha, concorda.
"Há consenso entre os partidos de que não se pode permitir que o Taleban capture nenhum território", disse Rais. A ofensiva sofre resistência de legendas religiosas minoritárias, que também criticam o Taleban, mas defendem uma solução negociada na região.
Ao deixarem Mingora, no Swat, alguns moradores culpavam o Taleban pela crise. Outros criticavam o governo, acusando dirigentes de se curvarem aos interesses ocidentais.
Fora das grandes zonas atingidas, a primeira percepção predomina. A aliança com os EUA contra os radicais islâmicos sempre foi impopular no país, onde é vista como um fator de desestabilização. Mas muitos consideram a operação no Swat uma questão essencialmente nacional.
A ofensiva fortaleceu o governo, arrefecendo a crise política. Mas Rais considera precipitado afirmar que a popularidade da ação militar se converterá em um apoio de longo prazo. (CLARA FAGUNDES)


Com agências internacionais

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