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entrevista
"Bloco perderia credibilidade", diz historiador
DA REPORTAGEM LOCAL
O historiador uruguaio
Gerardo Caetano, diretor da
"Revista Uruguaia de Ciência Política", já escreveu sobre vários aspectos da redemocratização do seu país e
da integração regional. Para
ele, a proximidade do governo da Frente Ampla é maior
com a Concertación chilena
e com o PT brasileiro do que
com Chávez e Kirchner. Caetano disse à Folha que, apesar da "decepção" com Brasil
e Argentina, a maior parte da
coligação discorda do acordo
comercial com os EUA.
(RJL)
FOLHA - A integração latino-americana sempre foi bandeira
da esquerda. Como é a reação dela a um tratado com os EUA?
GERARDO CAETANO - Ainda não
existe uma prova definitiva
de que o presidente queira
deixar o Mercosul. Ele defende a necessidade de
transformar o bloco e de aumentar o fluxo comercial
com os EUA. Mas não há dúvida de que os lobbies anti-Mercosul têm operado com
muita força e ganharam sócios no governo.
Acho que a maioria da
Frente Ampla tem uma postura clara a favor do Mercosul. E é contra assinar um
TLC com os EUA. Como analista e como cidadão, acho
que essas duas atitudes são a
pior hipótese para o país. E
também para o Mercosul,
que perderia credibilidade.
FOLHA - A decepção com a política econômica "conservadora"
de Lula e as brigas pelas fábricas
de papel com Kirchner isolaram a
esquerda uruguaia dos vizinhos?
CAETANO - A esquerda uruguaia foi historicamente integracionista. Não há dúvida de que as denúncias de corrupção sobre o governo Lula
geraram dor e perplexidade
aqui. Reclama-se pelo Brasil
não ter atuado mais no conflito com a Argentina e de ter
se esquecido das assimetrias
com Uruguai e Paraguai, ao
privilegiar sua relação bilateral com a Argentina. Já
Kirchner é visto como próximo do autoritarismo e de ter
utilizado politicamente e
com o pior do nacionalismo
o conflito contra o Uruguai.
FOLHA - Como o senhor dividiria
as correntes na esquerda uruguaia? Quem é maioria, os que
defendem o TLC, os que preferem
o Mercosul, ou os pró-Chávez?
CAETANO - No governo e entre os dirigentes da Frente
Ampla, há muita gente contra o TLC e que tem enormes
reservas ao chavismo. A postura global do governo está
muito mais associada aos
modelos da Concertación, do
Chile, e do PT, no Brasil, do
que com Chávez ou ao enigmático e ziguezagueante governo argentino. A transferência da política econômica
ao ministro da Economia,
Danilo Astori, e seu grupo é
quase total. Ele se transformou em um superministro.
É o que se discute agora. Há
um sentimento de que a estabilidade macroeconômica
não basta. Chegou a hora de
que seja suporte de uma inflexão reformista.
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