São Paulo, domingo, 11 de junho de 2006

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entrevista

"Bloco perderia credibilidade", diz historiador

DA REPORTAGEM LOCAL

O historiador uruguaio Gerardo Caetano, diretor da "Revista Uruguaia de Ciência Política", já escreveu sobre vários aspectos da redemocratização do seu país e da integração regional. Para ele, a proximidade do governo da Frente Ampla é maior com a Concertación chilena e com o PT brasileiro do que com Chávez e Kirchner. Caetano disse à Folha que, apesar da "decepção" com Brasil e Argentina, a maior parte da coligação discorda do acordo comercial com os EUA. (RJL)  

FOLHA - A integração latino-americana sempre foi bandeira da esquerda. Como é a reação dela a um tratado com os EUA?
GERARDO CAETANO
- Ainda não existe uma prova definitiva de que o presidente queira deixar o Mercosul. Ele defende a necessidade de transformar o bloco e de aumentar o fluxo comercial com os EUA. Mas não há dúvida de que os lobbies anti-Mercosul têm operado com muita força e ganharam sócios no governo. Acho que a maioria da Frente Ampla tem uma postura clara a favor do Mercosul. E é contra assinar um TLC com os EUA. Como analista e como cidadão, acho que essas duas atitudes são a pior hipótese para o país. E também para o Mercosul, que perderia credibilidade.

FOLHA - A decepção com a política econômica "conservadora" de Lula e as brigas pelas fábricas de papel com Kirchner isolaram a esquerda uruguaia dos vizinhos?
CAETANO
- A esquerda uruguaia foi historicamente integracionista. Não há dúvida de que as denúncias de corrupção sobre o governo Lula geraram dor e perplexidade aqui. Reclama-se pelo Brasil não ter atuado mais no conflito com a Argentina e de ter se esquecido das assimetrias com Uruguai e Paraguai, ao privilegiar sua relação bilateral com a Argentina. Já Kirchner é visto como próximo do autoritarismo e de ter utilizado politicamente e com o pior do nacionalismo o conflito contra o Uruguai.

FOLHA - Como o senhor dividiria as correntes na esquerda uruguaia? Quem é maioria, os que defendem o TLC, os que preferem o Mercosul, ou os pró-Chávez?
CAETANO
- No governo e entre os dirigentes da Frente Ampla, há muita gente contra o TLC e que tem enormes reservas ao chavismo. A postura global do governo está muito mais associada aos modelos da Concertación, do Chile, e do PT, no Brasil, do que com Chávez ou ao enigmático e ziguezagueante governo argentino. A transferência da política econômica ao ministro da Economia, Danilo Astori, e seu grupo é quase total. Ele se transformou em um superministro. É o que se discute agora. Há um sentimento de que a estabilidade macroeconômica não basta. Chegou a hora de que seja suporte de uma inflexão reformista.


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