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É fácil ficar viciado em guerra, conta diretor
DE WASHINGTON
Em entrevista exclusiva à
Folha, o codiretor de "Restrepo", Tim Hetherington,
falou sobre o vício da guerra,
o medo, o fascínio das armas
e os efeitos nos soldados dos
longos períodos longe da
companhia feminina.
Vício
É fácil se viciar. Não pela
adrenalina, mas porque na
guerra várias emoções humanas estão cristalizadas em
um espaço bem definido.
Companheirismo, ódio, alegria, tragédia, todas essas
coisas que fazem nos sentirmos vivos estão ali.
Se você tem 18 anos e está
em Restrepo, sua vida naquele grupo tem um significado real. Ser um cara de 18
anos comum, por outro lado,
é confuso. O soldado vai sentir falta do destacamento não
por amar a guerra, mas por
sentir falta da ordem e do significado do que faz.
Armas
Nunca quis trocar minha câmera por uma arma, mas pode ser tentador. Uma guerra é
sobre a morte: qualquer um
que disser que armas não são
fascinantes [neste contexto]
estará mentindo.
Me ofereceram granadas de
mão, mas não quis. Houve
um momento em que estávamos trocando de pessoal no
posto e havia vulnerabilidade. Perguntei aos soldados
onde estavam as [armas] sobressalentes, pois se fosse
necessário eu queria estar
pronto para pegar uma e agir.
Mulheres
Não há mulheres, não há álcool, não há distrações, não
há nada, só um bando de caras cheios de energia em um
lugar onde podem levar tiros
a qualquer momento. Depois
de muito tempo sem nenhuma companhia feminina, o
humor ficou bem ácido.
Foi como dar uma boa espiada na mentalidade masculina, e foi interessante, mas
perturbador ao mesmo tempo. É como a prisão. Diziam
brincando que alguém seria
estuprado em breve. Às vezes, quando havia muita calmaria, rezavam por um ataque só para ter o que fazer.
Medo
Houve momentos em que fiquei apavorado, mas, se você
se concentra no trabalho e
está com a câmera na mão,
consegue se controlar.
Houve várias coisas traumáticas no Afeganistão, e, se você me perguntar hoje se quero ir cobrir outra guerra, direi: nem um pouco.
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