São Paulo, domingo, 11 de julho de 2010

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É fácil ficar viciado em guerra, conta diretor

DE WASHINGTON

Em entrevista exclusiva à Folha, o codiretor de "Restrepo", Tim Hetherington, falou sobre o vício da guerra, o medo, o fascínio das armas e os efeitos nos soldados dos longos períodos longe da companhia feminina.

Vício
É fácil se viciar. Não pela adrenalina, mas porque na guerra várias emoções humanas estão cristalizadas em um espaço bem definido. Companheirismo, ódio, alegria, tragédia, todas essas coisas que fazem nos sentirmos vivos estão ali.
Se você tem 18 anos e está em Restrepo, sua vida naquele grupo tem um significado real. Ser um cara de 18 anos comum, por outro lado, é confuso. O soldado vai sentir falta do destacamento não por amar a guerra, mas por sentir falta da ordem e do significado do que faz.

Armas
Nunca quis trocar minha câmera por uma arma, mas pode ser tentador. Uma guerra é sobre a morte: qualquer um que disser que armas não são fascinantes [neste contexto] estará mentindo.
Me ofereceram granadas de mão, mas não quis. Houve um momento em que estávamos trocando de pessoal no posto e havia vulnerabilidade. Perguntei aos soldados onde estavam as [armas] sobressalentes, pois se fosse necessário eu queria estar pronto para pegar uma e agir.

Mulheres
Não há mulheres, não há álcool, não há distrações, não há nada, só um bando de caras cheios de energia em um lugar onde podem levar tiros a qualquer momento. Depois de muito tempo sem nenhuma companhia feminina, o humor ficou bem ácido.
Foi como dar uma boa espiada na mentalidade masculina, e foi interessante, mas perturbador ao mesmo tempo. É como a prisão. Diziam brincando que alguém seria estuprado em breve. Às vezes, quando havia muita calmaria, rezavam por um ataque só para ter o que fazer.

Medo
Houve momentos em que fiquei apavorado, mas, se você se concentra no trabalho e está com a câmera na mão, consegue se controlar.
Houve várias coisas traumáticas no Afeganistão, e, se você me perguntar hoje se quero ir cobrir outra guerra, direi: nem um pouco.


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