São Paulo, sábado, 11 de agosto de 2001

Próximo Texto | Índice

ORIENTE MÉDIO

Tensão cresce com tomada israelense de centros políticos palestinos em Jerusalém Oriental após atentado

Palestinos prometem intensificar Intifada

Associated Press
Soldados israelenses na Orient House, após tomada da representação palestina em Jerusalém


DA REDAÇÃO

Líderes palestinos prometeram ontem intensificar a nova Intifada (levante) em razão da tomada israelense de seus escritórios políticos em Jerusalém Oriental.
Em retaliação ao atentado suicida que anteontem matou 16 pessoas, incluindo seis crianças, num restaurante no centro de Jerusalém, Israel invadiu a Orient House -centro da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e sede não-oficial da Autoridade Nacional Palestina (ANP) na cidade-, prendeu sete de seus guardas, apreendeu documentos e uma submetralhadora e hasteou sua bandeira na casa. Também foram tomados outros dez centros palestinos na cidade e em áreas próximas, como a sede da ANP em Abu Dis, no subúrbio de Jerusalém Oriental, e instalações do governo palestino na Cisjordânia foram bombardeadas.
A Orient House, propriedade da família do líder palestino Faissal al Husseini -o "prefeito árabe de Jerusalém", morto em 31 de maio-, é um dos grandes símbolos das negociações de paz e da reivindicação de Jerusalém Oriental como capital de um Estado palestino. Desde a Guerra dos Seis Dias (1967), Israel controla a porção leste da cidade, onde se concentra a população árabe.
"O povo palestino fica sem escolha senão aumentar a resistência e a Intifada para libertar a sagrada Jerusalém e retomar a Orient House e todas as suas outras instituições", disse Ahmed Abdel Rahman, assessor do líder Iasser Arafat, presidente da ANP.
Em nota oficial, a administração palestina considerou a ação uma "provocadora expressão da arrogância do poder", exigiu a desocupação dos locais e afirmou: "A liderança palestina qualifica essa agressão como inaceitável, algo que não passará em branco".
Arafat, acusado por Israel de complacência com o terrorismo, atacou: "É uma atitude muito perigosa contra o povo palestino, uma escalada. Mas todos devem saber que os palestinos estão mais fortes e convictos neste conflito".
Dois policiais israelenses sofreram ferimentos leves e foram levados para um hospital após choque com manifestantes reunidos diante da Orient House.

Passo perigoso
As medidas adotadas pelo premiê Ariel Sharon, reputadas por Israel como "calculadas" para não produzirem mais violência, foram criticadas pelos Estados Unidos, país tradicionalmente aliado do governo israelense, e por países europeus.
"Essas ações representam uma escalada política, minam a crença e a confiança numa resolução negociada para o conflito e aumentam o risco de uma deterioração maior da situação política", afirmou o Departamento de Estado dos EUA.
O ministro da Segurança Pública, Uzi Landau, respondeu, porém, que se tratava de uma medida "permanente". "Muito da motivação para atividades terroristas e, com certeza, da incitação que leva a atentados suicidas em áreas com grande concentração de pessoas partia de lugares como aquele [Orient House]. Não podíamos tolerar isso", declarou.
Declarando-se "frustrado" com a escalada dos conflitos na região, o presidente dos EUA, George W. Bush, disse, em entrevista à TV ABC, que Arafat poderia fazer mais para diminuir a violência. "Arafat pode fazer um trabalho melhor. Estou muito preocupado porque alguns grupos radicais estão começando a afetar sua capacidade de governar", disse Bush, que refutou acusações de que seu governo não está se empenhando o suficiente na região.

Funeral
A maioria das vítimas do atentado foi enterrada ontem em Givat Shaul, o maior cemitério de Jerusalém, e muitos israelenses colocaram velas no restaurante Sbarro, onde ocorreu a explosão. Entre os mortos estavam cinco membros de uma família, vários adolescentes e uma gestante.
O grupo extremista islâmico Hamas, que reivindicou a autoria da ação, afirmou que estava vingando militantes palestinos eliminados por Israel, especialmente seus dois líderes mortos no bombardeio a Nablus (Cisjordânia), na semana retrasada, ataque que vitimou ainda duas crianças.
Ao menos 513 palestinos, 13 árabes israelenses e 150 israelenses foram mortos na nova Intifada, iniciada em 28 de setembro após colapso das negociações para acordo de paz definitivo.



Com agências internacionais



Próximo Texto: Brasileiro morto queria "paz entre irmãos"
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.