São Paulo, quarta-feira, 11 de agosto de 2004

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IRAQUE SOB TUTELA

Forças americanas bombardeiam alvos na cidade sagrada xiita e exigem rendição da milícia de Al Sadr

EUA exortam civis a abandonar Najaf

Hadi Mizban/Associated Press
Iraquiano retira seu irmão ferido de hospital em Najaf e busca local mais seguro, durante choque entre os EUA e o Exército Mehdi


DA REDAÇÃO

As forças americanas bombardearam ontem as cercanias de Najaf, no sul do Iraque, no sexto dia de confrontos com a milícia do clérigo radical xiita Moqtada al Sadr. Num sinal de que o combate deve se intensificar -nos últimos dias, segundo o comando dos EUA, mais de 350 insurgentes foram mortos-, os militares exortaram civis a deixar a cidade e rebeldes a se render.
A mensagem, anunciada em árabe em alto-falantes pelas ruas da cidade, foi formulada pelas Operações Psicológicas do Exército. Em um dos textos, os americanos dizem aos moradores que estão em Najaf "para ajudar as forças de segurança iraquianas". Em outro, pedem "cooperação dos residentes com a polícia e o Exército iraquiano", e num terceiro dizem que "não haverá negociação de paz com terroristas".
Enquanto isso, aviões de combate atacaram posições da milícia no final da tarde, perto de um cemitério na periferia da cidade. Dentro de Najaf, foram usados canhões e foguetes. Algumas bombas caíram a 400 metros do templo do imã Ali, o principal do xiismo -os marines, embora autorizados pelo governador provincial, têm evitado entrar no centro da cidade temendo provocar um levante de proporções nacionais no país, onde 60% da população segue essa corrente islâmica.
Embates também eclodiram no bairro xiita de Sadr City, em Bagdá, onde foi imposto duplo toque de recolher -pelo governo e pelos rebeldes. Segundo o Ministério da Saúde iraquiano, pelo menos dez pessoas foram mortas e 104 foram feridas na capital. Não há registro iraquiano sobre baixas em Najaf, onde Al Sadr prometeu "resistir até a morte".
O secretário da Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, que viaja pelo Oriente Médio, disse que Al Sadr é "volátil" e "pouco ajuda". "Num dia ele fala em cooperação, no outro incita ataques", declarou.
Najaf se tornou o maior foco de tensão no relativamente pacato sul do país em abril, quando Al Sadr liderou um levante após as forças americanas fecharem seu jornal. Nos dois meses de confrontos que se seguiram, mais de 300 membros do Exército Mehdi, a milícia do clérigo, morreram.
Em junho, foi fechado um acordo de trégua só rompido na semana passada, com um ataque contra uma delegacia sobre o qual americanos e insurgentes ainda trocam acusações. Desde então, os confrontos têm sido diários.
O atual combate já ecoou em outras cidades xiitas -como Basra, onde quatro pessoas morreram ontem, e Diwaniyah, onde os confrontos deixaram três mortos e 45 feridos- e criou mais um obstáculo para o governo interino e suas incipientes forças de segurança, que já enfrentavam tensão em cidades sunitas, bastiões do regime deposto.
Mesmo as Forças Multinacionais que permanecem no país sob comando dos EUA, apesar da devolução da soberania iraquiana, têm sérias dificuldades em conter a escalada de violência. Anteontem, a Polônia, terceira maior força no Iraque, passou a coordenação militar na Província de Najaf aos EUA porque o mandado de Varsóvia proíbe suas tropas de entrarem em combates ofensivos.

Com agências internacionais

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