São Paulo, quarta-feira, 11 de agosto de 2004

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VENEZUELA

Na capital, moradores dizem que a violência pode voltar a qualquer momento, às vésperas do consulta sobre Chávez

Caracas enfrenta tensão pré-plebiscito

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A CARACAS

Observadores internacionais do plebiscito que pode tirar Hugo Chávez da Presidência da Venezuela disseram ontem acreditar que a votação, no próximo dia 15, transcorra de forma pacífica. "Há na Venezuela um ambiente geral de paz e tranqüilidade", disse o chefe da missão da OEA (Organização dos Estados Americanos), o brasileiro Valter Pecly Moreira. Nas ruas, porém, essa "calma" mal esconde a tensão de um país polarizado há anos.
Na contagem regressiva para o plebiscito, chavistas e oposicionistas da praça Candelária ouvidos pela Folha coincidem: a situação está tranqüila, mas a violência pode voltar a qualquer momento.
Localizada numa concorrida zona comercial de Caracas, essa praça tem sido o epicentro dos embates diretos entre os dois lados, cujos confrontos já deixaram dezenas de mortos em Caracas.
A oposição afirma que o lugar é seu reduto, mas a campanha chavista tem usado a força e Guarda Nacional para ocupá-lo. Até uma feira gastronômica, realizada todos os anos na praça, foi impedida pelos militantes. "Obviamente, não era um festival gastronômico independente, mas um festival gastronômico oposicionista", disse Sergio Moreno, 47, um dos coordenadores chavista das barracas montadas na praça, ocupada por um carro blindado da Polícia Militar e 20 membros da Guarda Nacional fortemente armados.
Ontem foi um dos poucos dias na praça sem violência. Na véspera, porém, a oposição tentou montar sua barraca, mas, segundo testemunhas, o saldo foi uma troca de acusações, pedradas e garrafadas que quase terminou num embate entre a polícia metropolitana (controlada pela oposição) e a Guarda Nacional. Ao menos três pessoas foram feridas.
Chavista, o vendedor de CDs ambulante Michael Girón, 27, também acha que a situação está tranqüila na praça, mas adverte: "As circunstâncias para a violência estão dadas".
Girón disse que não tem do que reclamar do presidente: vendeu no mês passado cerca de 500 CDs com música chavista -todos "quemados" (falsificados) por ele em casa. "Chávez está na moda, definitivamente", decreta.
A música mais popular é de um cantor que, imitando a voz de Chávez, repete à exaustão "Palo por Ese Culo". À tarde, os 20 CDs com a música estavam vendidos.
"Não creio que haverá violência, porque não convém a nenhum dos dois lados", disse o comerciante Xavier Sotero, 33, que administra uma pequena loja a uma quadra do local dos confrontos.

Delegação petista
Chefiada pelo deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), uma delegação da Direção Nacional do PT desembarcou ontem em Caracas para demonstrar apoio a Chávez no plebiscito. Hoje ou amanhã, a comitiva deve entregar pessoalmente a ele uma moção do partido, junto com uma carta do presidente petista, José Genoino.
Anunciado na semana passada, o respaldo do partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Chávez tem sido duramente criticado pela oposição venezuelana, que classificou a iniciativa de "ingerência em assuntos internos" e de "irresponsabilidade".
"O PT é um partido político e tem o direito de ter opiniões políticas sobre questões internacionais", disse Greenhalgh à Folha, em Caracas. Segundo ele, a posição petista é diferente da do governo brasileiro, "mais cautelosa e diplomática".
Acompanham o deputado petista Marlene Rocha e Bruno Maranhão, do diretório, e João Felício, secretário-geral da CUT e secretário sindical do PT.


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