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VENEZUELA
Na capital, moradores dizem que a violência pode voltar a qualquer momento, às vésperas do consulta sobre Chávez
Caracas enfrenta tensão pré-plebiscito
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A CARACAS
Observadores internacionais do
plebiscito que pode tirar Hugo
Chávez da Presidência da Venezuela disseram ontem acreditar
que a votação, no próximo dia 15,
transcorra de forma pacífica. "Há
na Venezuela um ambiente geral
de paz e tranqüilidade", disse o
chefe da missão da OEA (Organização dos Estados Americanos), o
brasileiro Valter Pecly Moreira.
Nas ruas, porém, essa "calma"
mal esconde a tensão de um país
polarizado há anos.
Na contagem regressiva para o
plebiscito, chavistas e oposicionistas da praça Candelária ouvidos pela Folha coincidem: a situação está tranqüila, mas a violência
pode voltar a qualquer momento.
Localizada numa concorrida
zona comercial de Caracas, essa
praça tem sido o epicentro dos
embates diretos entre os dois lados, cujos confrontos já deixaram
dezenas de mortos em Caracas.
A oposição afirma que o lugar é
seu reduto, mas a campanha chavista tem usado a força e Guarda
Nacional para ocupá-lo. Até uma
feira gastronômica, realizada todos os anos na praça, foi impedida pelos militantes. "Obviamente,
não era um festival gastronômico
independente, mas um festival
gastronômico oposicionista", disse Sergio Moreno, 47, um dos
coordenadores chavista das barracas montadas na praça, ocupada por um carro blindado da Polícia Militar e 20 membros da Guarda Nacional fortemente armados.
Ontem foi um dos poucos dias
na praça sem violência. Na véspera, porém, a oposição tentou
montar sua barraca, mas, segundo testemunhas, o saldo foi uma
troca de acusações, pedradas e
garrafadas que quase terminou
num embate entre a polícia metropolitana (controlada pela oposição) e a Guarda Nacional. Ao
menos três pessoas foram feridas.
Chavista, o vendedor de CDs
ambulante Michael Girón, 27,
também acha que a situação está
tranqüila na praça, mas adverte:
"As circunstâncias para a violência estão dadas".
Girón disse que não tem do que
reclamar do presidente: vendeu
no mês passado cerca de 500 CDs
com música chavista -todos
"quemados" (falsificados) por ele
em casa. "Chávez está na moda,
definitivamente", decreta.
A música mais popular é de um
cantor que, imitando a voz de
Chávez, repete à exaustão "Palo
por Ese Culo". À tarde, os 20 CDs
com a música estavam vendidos.
"Não creio que haverá violência,
porque não convém a nenhum
dos dois lados", disse o comerciante Xavier Sotero, 33, que administra uma pequena loja a uma
quadra do local dos confrontos.
Delegação petista
Chefiada pelo deputado Luiz
Eduardo Greenhalgh (SP), uma
delegação da Direção Nacional do
PT desembarcou ontem em Caracas para demonstrar apoio a Chávez no plebiscito. Hoje ou amanhã, a comitiva deve entregar pessoalmente a ele uma moção do
partido, junto com uma carta do
presidente petista, José Genoino.
Anunciado na semana passada,
o respaldo do partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a
Chávez tem sido duramente criticado pela oposição venezuelana,
que classificou a iniciativa de "ingerência em assuntos internos" e
de "irresponsabilidade".
"O PT é um partido político e
tem o direito de ter opiniões políticas sobre questões internacionais", disse Greenhalgh à Folha,
em Caracas. Segundo ele, a posição petista é diferente da do governo brasileiro, "mais cautelosa
e diplomática".
Acompanham o deputado petista Marlene Rocha e Bruno Maranhão, do diretório, e João Felício, secretário-geral da CUT e secretário sindical do PT.
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