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Conflito evidencia o quanto os EUA precisam da Rússia
HELENE COOPER
DO "NEW YORK TIMES"
A imagem do presidente
George W. Bush sorrindo e
conversando com o premiê russo, Vladimir Putin, nas arquibancadas da Olimpíada de Pequim, ao mesmo tempo em que
aviões russos bombardeavam a
Geórgia, revela a realidade da
política dos EUA em relação à
Rússia. Ao mesmo tempo em
que os EUA consideram a
Geórgia sua aliada mais forte
no bloco dos países ex-soviéticos, Washington precisa demais do apoio da Rússia em
questões importantes, como o
Irã, para colocar tudo em risco
e sair em defesa da Geórgia.
Bush usou linguagem dura,
exigindo que a Rússia suspendesse o bombardeio. E a secretária de Estado, Condoleezza
Rice, exigiu que a Rússia respeitasse a integridade territorial da Geórgia.
O que Putin fez? Primeiro,
repudiou o presidente francês,
Nicolas Sarkozy, negando-se a
ceder quando ele tentou dissuadir a Rússia de sua operação
militar. Em seguida, voou de
Pequim para a fronteira com a
Ossétia do Sul, chegando após o
anúncio de que a Geórgia estava retirando suas tropas da capital sul-ossetiana. A mensagem era clara: "Esta é nossa esfera de influência. Os outros, fiquem fora dela."
Cálculos diplomáticos
"O que os russos acabam de
fazer, pela primeira vez desde a
queda da União Soviética, é tomar uma ação militar decisiva e
impor uma realidade militar",
disse George Friedman, chefe
da empresa de análise geopolítica Stratfor. "Eles o fizeram
unilateralmente, e todos os que
esperavam que o Ocidente intimidasse a Rússia agora são forçados a reconsiderar."
"Estrategicamente, os russos
já vinham enviando sinais de
que queriam esticar seus músculos, e eles estão revoltados
com Kosovo", disse um diplomata, aludindo à ira da Rússia
com o reconhecimento, pelo
Ocidente, da independência de
Kosovo da Sérvia.
Para Washington, a questão
agora é decidir se apoiar a
Geórgia -que aliou-se aos EUA
mais que qualquer outra república ex-soviética- é algo que
vale a pena neste momento, já
que implicará no repúdio da
Rússia em um momento em
que conseguir o apoio de Moscou para frear as ambições nucleares do Irã é item prioritário
na agenda americana.
O apoio dado por Washington à Geórgia -que incluiu armas e treinamento militar- foi
em parte uma recompensa ao
país por seu apoio aos EUA no
Iraque. A idéia é que o país
exemplifique para outras ex-repúblicas soviéticas os benefícios de voltar-se ao Ocidente.
Mas isso, somado às ações
dos EUA e Europa em relação
ao Kosovo, fizeram a Rússia se
sentir ameaçada, cercada e ainda mais convencida de que teria de tomar medidas agressivas para restaurar seu poder,
dignidade e influência em uma
região que ainda vê como seu
quintal estratégico.
A agressividade russa coincide com as dificuldades enfrentadas pelos EUA no Iraque e
Afeganistão e com o Irã. Essas
considerações significam que,
no momento, quem está dando
a direção a seguir é Moscou.
"Nós nos colocamos em posição tal que, globalmente falando, não temos meios para fazer
nada. Seremos obrigados a ficar
calados", opinou Friedman.
Tradução de CLARA ALLAIN
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