São Paulo, segunda-feira, 11 de agosto de 2008

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Conflito evidencia o quanto os EUA precisam da Rússia

HELENE COOPER
DO "NEW YORK TIMES"

A imagem do presidente George W. Bush sorrindo e conversando com o premiê russo, Vladimir Putin, nas arquibancadas da Olimpíada de Pequim, ao mesmo tempo em que aviões russos bombardeavam a Geórgia, revela a realidade da política dos EUA em relação à Rússia. Ao mesmo tempo em que os EUA consideram a Geórgia sua aliada mais forte no bloco dos países ex-soviéticos, Washington precisa demais do apoio da Rússia em questões importantes, como o Irã, para colocar tudo em risco e sair em defesa da Geórgia.
Bush usou linguagem dura, exigindo que a Rússia suspendesse o bombardeio. E a secretária de Estado, Condoleezza Rice, exigiu que a Rússia respeitasse a integridade territorial da Geórgia.
O que Putin fez? Primeiro, repudiou o presidente francês, Nicolas Sarkozy, negando-se a ceder quando ele tentou dissuadir a Rússia de sua operação militar. Em seguida, voou de Pequim para a fronteira com a Ossétia do Sul, chegando após o anúncio de que a Geórgia estava retirando suas tropas da capital sul-ossetiana. A mensagem era clara: "Esta é nossa esfera de influência. Os outros, fiquem fora dela."

Cálculos diplomáticos
"O que os russos acabam de fazer, pela primeira vez desde a queda da União Soviética, é tomar uma ação militar decisiva e impor uma realidade militar", disse George Friedman, chefe da empresa de análise geopolítica Stratfor. "Eles o fizeram unilateralmente, e todos os que esperavam que o Ocidente intimidasse a Rússia agora são forçados a reconsiderar."
"Estrategicamente, os russos já vinham enviando sinais de que queriam esticar seus músculos, e eles estão revoltados com Kosovo", disse um diplomata, aludindo à ira da Rússia com o reconhecimento, pelo Ocidente, da independência de Kosovo da Sérvia.
Para Washington, a questão agora é decidir se apoiar a Geórgia -que aliou-se aos EUA mais que qualquer outra república ex-soviética- é algo que vale a pena neste momento, já que implicará no repúdio da Rússia em um momento em que conseguir o apoio de Moscou para frear as ambições nucleares do Irã é item prioritário na agenda americana.
O apoio dado por Washington à Geórgia -que incluiu armas e treinamento militar- foi em parte uma recompensa ao país por seu apoio aos EUA no Iraque. A idéia é que o país exemplifique para outras ex-repúblicas soviéticas os benefícios de voltar-se ao Ocidente.
Mas isso, somado às ações dos EUA e Europa em relação ao Kosovo, fizeram a Rússia se sentir ameaçada, cercada e ainda mais convencida de que teria de tomar medidas agressivas para restaurar seu poder, dignidade e influência em uma região que ainda vê como seu quintal estratégico.
A agressividade russa coincide com as dificuldades enfrentadas pelos EUA no Iraque e Afeganistão e com o Irã. Essas considerações significam que, no momento, quem está dando a direção a seguir é Moscou.
"Nós nos colocamos em posição tal que, globalmente falando, não temos meios para fazer nada. Seremos obrigados a ficar calados", opinou Friedman.


Tradução de CLARA ALLAIN


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