São Paulo, segunda-feira, 11 de agosto de 2008

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Governador destituído diz que não irá deixar seu cargo

Para opositor Reyes Villa, de Cochabamba, referendo revogatório é inconstitucional

Um dos três derrotados em votação, ele afirma que "povo o defenderá" e diz que vai recorrer à Corte Interamericana de Justiça

DA ENVIADA À COCHABAMBA

Governador do terceiro departamento mais importante da Bolívia, o oposicionista Manfred Reyes Villa, chegou a defender o referendo revogatório, mas hoje diz que ele é ilegal. Promete não se submeter aos resultados e nega ter dito que pretende renunciar. Segundo projeção da empresa Captura Consulting, 60% da população do departamento votou por sua saída. Na tarde de ontem, antes da divulgação dos resultados já esperados, disse à Folha que "o povo" do departamento o defenderá. (FM)

 

FOLHA - Por que o sr. diz que não se submeterá aos resultados do referendo? O sr. acha que vencerá?
MANFRED REYES VILLA
- Esse referendo é inconstitucional. Não existe na nossa Constituição esse instrumento jurídico. Além disso, o processo foi tomado de ilegalidades. Alterações no cadastro eleitoral deveriam ter se encerrado há 90 dias... O próprio presidente disse publicamente que o referendo é ilegal, e que pediu a seus advogados para adaptá-lo.

FOLHA - O que sr. pretende fazer amanhã [hoje], se o resultado lhe tirar o cargo?
REYES VILLA
- O povo vai me apoiar, com exceção do exército de cocaleiros ilegais que apóiam o presidente. Cochabamba sabe o que fizemos.

FOLHA - O sr. diz que o povo vai sair às ruas para lhe defender? Já houve confrontos em 2006...
REYES VILLA
- Não vou pedir para ninguém ir às ruas. Em janeiro de 2006 eu também não pedi, mas mesmo assim eles foram me defender quando os partidários de Morales quiseram incendiar a sede de governo. Eles têm esse projeto: derrocar o governador.

FOLHA - Em termos legais, o que sr. buscará, em caso de derrota?
REYES VILLA
- Em termos legais, eu já venci. A única magistrada do Tribunal Constitucional [instância máxima da Justiça boliviana, atualmente com 4 das suas 5 cadeiras vagas] ordenou suspender o referendo. É a instância jurídica responsável. Também já protocolamos documentos para mandar à Corte Interamericana de Justiça.

FOLHA - A princípio, o sr. está isolado, pois os outros governadores aceitaram o referendo. Os países vizinhos, o Mercosul, a Unasul, a OEA (Organização dos Estados Americanos) mandaram observadores.
REYES VILLA
- São todos organismos que estão sob a influência de [Hugo] Chávez [presidente da Venezuela].


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