São Paulo, segunda-feira, 11 de agosto de 2008

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Referendo ratifica Morales e autonomistas

Boca-de-urna indica prosseguimento do impasse político na Bolívia, já que presidente e principais opositores devem manter cargos

Devem perder cargo dois oposicionistas e um aliado de Morales; presidente diz que vai buscar agora a "reconciliação do país"

FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A COCHABAMBA

Pesquisas de bocas-de-urna divulgadas por TVs na Bolívia apontavam que a população do país disse "sim" à gestão do presidente Evo Morales -mas também ao quarteto de governadores oposicionistas do leste do país- no referendo revogatório de ontem.
Segundo o dados do instituto Captura Consulting, Morales teria obtido 60% de "sim", contra 40% de "não", com grandes diferenças regionais. O presidente venceu em 5 dos 9 departamentos do país.
Seu principal rival, o governador de Santa Cruz, Rubén Costas, teria alcançado, segundo o mesmo instituto, 79% de votos favoráveis, enquanto seus companheiros oposicionistas de Tarija, Pando e Beni também permaneceriam em seus cargos. A margem de erro do estudo é de cinco pontos para mais ou menos.
Os únicos governadores revogados devem ser os oposicionistas Manfred Reyes Villa, de Cochabamba e José Luiz Paredes, de La Paz e o governista Alberto Aguilar, de Oruro. Os três deixariam os cargos independentemente da regra aplicada para interpretar os resultados, a aprovada pelo Congresso ou a modificada pelo Conselho Nacional Eleitoral (veja quadro).
Paredes, em coletiva à imprensa, admitiu a derrota, mas fez duras críticas ao governo, a quem acusou de instalar o medo no departamento de La Paz. "O político está sempre à frente da gestão", disse.
Já Reyes Villa disse ontem à tarde à Folha que não se submeteria ao resultado. "O povo me apoiará", disse (leia mais na pág. A15). Mais tarde, em coletiva, disse que seguirá "batalhando legalmente" para ficar no cargo. A polícia reforçou a segurança da sede do governo de Cochabamba para impedir que grupos ligados ao ao partido do presidente, o MAS (Movimento ao Socialismo), tentassem tomá-la à força.
Apesar da tensão que antecedeu o dia da votação, só foram registrados incidentes pontuais ontem no país inteiro. Houve várias denúncias de duplicação de títulos eleitorais, mas a opinião dos observadores internacionais do país era de que o processo transcorreu sem maiores problemas.
Se confirmado, o cenário era o esperado pelas últimas pesquisas de opinião e analistas e mantém, a princípio, o eixo de conflito na Bolívia: o altiplano, liderado por La Paz, com Morales, e a meia-lua, no leste, com lideranças regionais que desejam autonomia.
Ontem, após votar em Villa Tanuri , no Chapare, seu berço político no departamento de Cochabamba, o presidente boliviano voltou a dizer que buscaria a "reconciliação" do país após o referendo. Disse também que prentendia retomar a discussão, com a oposição, sobre a Constituição aprovada no ano passado e pendente de referendo. A nova Carta é um dos principais pontos de divergência entre as partes.
Até o fechamento desta edição, Morales seguia reunido com seu gabinete, em La Paz, para analisar os primeiros resultados. Ele próprio disse que estudava fazer um pronunciamento à nação ainda ontem.
Um dos governadores oposicionistas ratificado, Leopoldo Fernández, de Pando, também fez um chamado ao diálogo.
Ainda assim, o clima nas TVs alinhadas aos oposiocinistas frisava que o governo havia sido "revogado" nos departamentos da meia-lua. Grupos radicais, como a União Juvenil Cruzenha, prometeram vetar a presença de Morales se ele perdesse em Santa Cruz. Nas capitais da meia-lua, opositores de Morales foram às ruas comemorar o resultado do referendo, assim como fizeram em La Paz partidários do presidente.
Para o governo nacional, consulta trouxe uma vitória parcial, de acordo com a análise feita à Folha por Manuel Mercado, responsável pelo Observatório de Gestão Pública do governo Morales, ligado à Presidência. O motivo: ao conseguir o controle de La Paz e Cochabamba, teria nas mãos 3 das 4 principais cidades do país. De fora, só Santa Cruz.
Mas a derrota nas regiões ricas do leste pressionaria Morales numa mesa de negociação.


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