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Novo premiê tentará neutralizar
terrorismo, diz ativista palestino
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
Para Riad Malki, 48, diretor do
Centro Palestino para a Disseminação da Democracia e Desenvolvimento Comunitário, o premiê
Ahmed Korei deverá reestruturar
as forças palestinas de segurança,
permitindo que a Autoridade Nacional Palestina (ANP) enfrente
os terroristas.
Malki condena o terrorismo,
mas afirma que ele é estimulado
pela lógica de ocupação e pela violência contra civis praticadas por
Israel. Embora exprima reservas
contra o presidente da ANP, Iasser Arafat, acredita que não cabe
aos Estados Unidos ou ao governo israelense questionar a legitimidade política alheia.
Eis os principais trechos de sua
entrevista, feita ontem, por telefone, de Ramallah, Cisjordânia.
Folha - Como sair do ciclo de violência a que chegaram as relações
entre palestinos e israelenses?
Malki - Israel não ofereceu aos
palestinos alternativas efetivas de
negociação. O gabinete de Sharon
se autoabastece da ideologia da
guerra. Há o muro construído na
divisa da Cisjordânia, mais de 300
postos de controle que fragmentaram nosso território ou toque
de recolher em nossas cidades.
Folha - Os israelenses dizem que
a Autoridade Palestina não consegue reprimir os terroristas.
Malki - A idéia de atingir e matar
civis me é repulsiva, parta ela do
Exército de Israel ou de grupos
terroristas palestinos. Mas o terrorismo é o resultado da ocupação das terras palestinas. Os palestinos não nasceram para o terrorismo e não têm a violência correndo no sangue.
Folha - Quando Israel atinge uma
localidade da Cisjordânia é porque
o governo assim o determinou.
Mas o poder do lado palestino não
é algo bem mais confuso?
Malki - Há de um lado um Estado estabelecido, com hierarquia e
armamentos modernos. De outro, milícias equipadas de armas
primárias, sem a arbitragem de
uma força policial neutra. Essa
força policial poderia ter-se estruturado, mas a ocupação israelense
nos dois últimos anos provocou
um colapso dos serviços públicos
palestinos e o consequente fortalecimento das milícias.
Folha - O ex-premiê Abu Mazen
não havia tentado consertar isso?
Malki - Mazen conseguiu que o
Hamas e o Jihad Islâmico respeitassem por 45 uma uma trégua
que seria usada para reorganizar
as forças policiais palestinas. Ele
saiu debilitado porque Israel não
deu sinais de que poria fim à ocupação. Mazen dependia de uma
resposta israelense que não veio a
tempo.
Folha - Mas o Hamas rompeu a
trégua com o atentado que matou
22 israelenses em Jerusalém.
Malki - Repito que sou contra os
atentados. Mas lembro que no caso foi uma resposta à tentativa de
Israel, dois dias antes, de assassinar um dos dirigentes do grupo.
Folha - A Autoridade Palestina está a seu ver enfraquecida com a
queda de Abu Mazen?
Malki - Ahmed Korei está procurando não repetir os erros de seu
antecessor. Ele fará um gabinete
reduzido e com foco na segurança
interna, para que a Autoridade
Palestina não seja desafiada pelo
terrorismo e suas milícias.
Folha - Isso permitiria uma trégua interna entre os palestinos?
Malki - Uma verdadeira trégua
só é possível com a participação
de Israel, caso sejam suspensas as
operações de eliminação física de
lideranças palestinas.
Folha - Bush e Sharon querem o
afastamento de Arafat. É ele ainda
quem manda?
Malki - Arafat foi eleito com 87%
dos votos numa eleição presenciada por observadores internacionais. Tenho muitas reservas
para com Arafat. Mas é ele quem
hoje representa a Autoridade Palestina. O poder de Arafat é ainda
imenso. Acredito na necessidade
de reformarmos a Constituição
para abrir espaço ao primeiro-ministro e seu governo.
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