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São Paulo, quinta-feira, 11 de setembro de 2003

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Novo premiê tentará neutralizar terrorismo, diz ativista palestino

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Para Riad Malki, 48, diretor do Centro Palestino para a Disseminação da Democracia e Desenvolvimento Comunitário, o premiê Ahmed Korei deverá reestruturar as forças palestinas de segurança, permitindo que a Autoridade Nacional Palestina (ANP) enfrente os terroristas.
Malki condena o terrorismo, mas afirma que ele é estimulado pela lógica de ocupação e pela violência contra civis praticadas por Israel. Embora exprima reservas contra o presidente da ANP, Iasser Arafat, acredita que não cabe aos Estados Unidos ou ao governo israelense questionar a legitimidade política alheia.
Eis os principais trechos de sua entrevista, feita ontem, por telefone, de Ramallah, Cisjordânia.
 

Folha - Como sair do ciclo de violência a que chegaram as relações entre palestinos e israelenses?
Malki -
Israel não ofereceu aos palestinos alternativas efetivas de negociação. O gabinete de Sharon se autoabastece da ideologia da guerra. Há o muro construído na divisa da Cisjordânia, mais de 300 postos de controle que fragmentaram nosso território ou toque de recolher em nossas cidades.

Folha - Os israelenses dizem que a Autoridade Palestina não consegue reprimir os terroristas.
Malki -
A idéia de atingir e matar civis me é repulsiva, parta ela do Exército de Israel ou de grupos terroristas palestinos. Mas o terrorismo é o resultado da ocupação das terras palestinas. Os palestinos não nasceram para o terrorismo e não têm a violência correndo no sangue.

Folha - Quando Israel atinge uma localidade da Cisjordânia é porque o governo assim o determinou. Mas o poder do lado palestino não é algo bem mais confuso?
Malki -
Há de um lado um Estado estabelecido, com hierarquia e armamentos modernos. De outro, milícias equipadas de armas primárias, sem a arbitragem de uma força policial neutra. Essa força policial poderia ter-se estruturado, mas a ocupação israelense nos dois últimos anos provocou um colapso dos serviços públicos palestinos e o consequente fortalecimento das milícias.

Folha - O ex-premiê Abu Mazen não havia tentado consertar isso?
Malki -
Mazen conseguiu que o Hamas e o Jihad Islâmico respeitassem por 45 uma uma trégua que seria usada para reorganizar as forças policiais palestinas. Ele saiu debilitado porque Israel não deu sinais de que poria fim à ocupação. Mazen dependia de uma resposta israelense que não veio a tempo.

Folha - Mas o Hamas rompeu a trégua com o atentado que matou 22 israelenses em Jerusalém.
Malki -
Repito que sou contra os atentados. Mas lembro que no caso foi uma resposta à tentativa de Israel, dois dias antes, de assassinar um dos dirigentes do grupo.

Folha - A Autoridade Palestina está a seu ver enfraquecida com a queda de Abu Mazen?
Malki -
Ahmed Korei está procurando não repetir os erros de seu antecessor. Ele fará um gabinete reduzido e com foco na segurança interna, para que a Autoridade Palestina não seja desafiada pelo terrorismo e suas milícias.

Folha - Isso permitiria uma trégua interna entre os palestinos?
Malki -
Uma verdadeira trégua só é possível com a participação de Israel, caso sejam suspensas as operações de eliminação física de lideranças palestinas.

Folha - Bush e Sharon querem o afastamento de Arafat. É ele ainda quem manda?
Malki -
Arafat foi eleito com 87% dos votos numa eleição presenciada por observadores internacionais. Tenho muitas reservas para com Arafat. Mas é ele quem hoje representa a Autoridade Palestina. O poder de Arafat é ainda imenso. Acredito na necessidade de reformarmos a Constituição para abrir espaço ao primeiro-ministro e seu governo.


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