São Paulo, terça-feira, 11 de setembro de 2007

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Paquistão deporta líder da oposição na volta do exílio

Medida desafia Suprema Corte, que garantiu ao ex-premiê o direito de retorno

Nawaz Sharif fica menos de quatro horas no aeroporto antes de ser "devolvido" à Arábia Saudita; União Européia condena expulsão

DA REDAÇÃO

O ex-premiê Nawaz Sharif, principal rival do ditador paquistanês Pervez Musharraf, retornou ontem ao país após sete anos no exílio, como havia anunciado, mas teve que adiar a prometida carreata contra o regime. Preso ainda no aeroporto, Sharif foi deportado para a Arábia Saudita menos de quatro horas depois de pousar em Rawalpindi, região metropolitana de Islamabad.
A operação começou cedo, com o bloqueio de sinais de celulares e das principais vias de acesso ao aeroporto para tentar impedir a chegada dos partidários de Sharif. Cerca 2.000 pessoas foram detidas, segundo o PLM-N (Partido da Liga Muçulmana/Nawaz), legenda liderada pelo ex-premiê. O governo afirma que o número é bem menor, mas admite que líderes do partido foram postos sob prisão domiciliar.
A passagem de Sharif pelo Paquistão foi rápida e midiática. Não houve distúrbios maciços mas, no aeroporto, a polícia usou gás para conter os manifestantes.
Ainda em vôo, o ex-premiê disse a sua comitiva, composta principalmente por jornalistas, que não tinha medo. Ao chegar, recusou-se a entregar o passaporte e, após 90 minutos de negociação, foi levado a uma sala VIP onde um investigador apresentou-lhe as acusações por corrupção e lavagem de dinheiro. Sharif foi então "devolvido à Arábia Saudita" -onde se exilou em 1990, antes de ir para Londres-, segundo informou o Ministério para Assuntos Religiosos do Paquistão.
A deportação de Sharif contraria determinação da Suprema Corte que garantiu, em 23 de agosto, que ele não sofreria sanções caso retornasse ao Paquistão.
"O veredicto da Suprema Corte foi claro", disse ao "Financial Times" o ex-presidente do tribunal, Saeed-uz-Zaman Siddiqui. Ele crê que o ato colocará o governo em rota de colisão com o Judiciário.
Segundo o site do PLM-N, o partido tentará reverter a expulsão.

Perpetuação no poder
A Suprema Corte deve decidir nos próximos dias se o general Musharraf, que tomou o poder de Sharif, é elegível e até quando poderá acumular a chefia do Exército e do governo. Não há garantias, no entanto, de que as decisões sejam cumpridas. O país vive um Estado de emergência não-declarado.
Enquanto a União Européia condenou o ato "arbitrário" do regime, os EUA, principais aliados de Musharraf, reagiram com cautela. O porta-voz do Departamento de Estado, Sean McCormack, disse que a deportação contraria a decisão da Suprema Corte, mas recusou-se a comentar mais porque "a questão está sob análise jurídica".
Deposto em 1999 e condenado no ano seguinte, por uma manobra de Musharraf, pelo seqüestro de um avião que transportava comandantes militares, Sharif concordou em deixar o país por dez anos para escapar da prisão perpétua.
Mesmo exilado, porém, ele continuou a liderar o terceiro maior partido paquistanês. Após decisão da Suprema Corte, anunciou que voltaria "para derrotar Musharraf nas urnas". Em retaliação, o governo pediu a reabertura dos processos por corrupção contra o ex-premiê.


Com o "Financial Times" e agências internacionais


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