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Paquistão deporta líder da oposição na volta do exílio
Medida desafia Suprema Corte, que garantiu ao ex-premiê o direito de retorno
Nawaz Sharif fica menos de quatro horas no aeroporto antes de ser "devolvido"
à Arábia Saudita; União Européia condena expulsão
DA REDAÇÃO
O ex-premiê Nawaz Sharif,
principal rival do ditador paquistanês Pervez Musharraf,
retornou ontem ao país após
sete anos no exílio, como havia
anunciado, mas teve que adiar a
prometida carreata contra o regime. Preso ainda no aeroporto, Sharif foi deportado para a
Arábia Saudita menos de quatro horas depois de pousar em
Rawalpindi, região metropolitana de Islamabad.
A operação começou cedo,
com o bloqueio de sinais de celulares e das principais vias de
acesso ao aeroporto para tentar
impedir a chegada dos partidários de Sharif. Cerca 2.000 pessoas foram detidas, segundo o
PLM-N (Partido da Liga Muçulmana/Nawaz), legenda liderada pelo ex-premiê. O governo
afirma que o número é bem
menor, mas admite que líderes
do partido foram postos sob
prisão domiciliar.
A passagem de Sharif pelo
Paquistão foi rápida e midiática. Não houve distúrbios maciços mas, no aeroporto, a polícia
usou gás para conter os manifestantes.
Ainda em vôo, o ex-premiê
disse a sua comitiva, composta
principalmente por jornalistas,
que não tinha medo. Ao chegar,
recusou-se a entregar o passaporte e, após 90 minutos de negociação, foi levado a uma sala
VIP onde um investigador
apresentou-lhe as acusações
por corrupção e lavagem de dinheiro. Sharif foi então "devolvido à Arábia Saudita" -onde
se exilou em 1990, antes de ir
para Londres-, segundo informou o Ministério para Assuntos Religiosos do Paquistão.
A deportação de Sharif contraria determinação da Suprema Corte que garantiu, em 23
de agosto, que ele não sofreria
sanções caso retornasse ao Paquistão.
"O veredicto da Suprema
Corte foi claro", disse ao "Financial Times" o ex-presidente
do tribunal, Saeed-uz-Zaman
Siddiqui. Ele crê que o ato colocará o governo em rota de colisão com o Judiciário.
Segundo o site do PLM-N, o
partido tentará reverter a expulsão.
Perpetuação no poder
A Suprema Corte deve decidir nos próximos dias se o general Musharraf, que tomou o poder de Sharif, é elegível e até
quando poderá acumular a chefia do Exército e do governo.
Não há garantias, no entanto,
de que as decisões sejam cumpridas. O país vive um Estado
de emergência não-declarado.
Enquanto a União Européia
condenou o ato "arbitrário" do
regime, os EUA, principais aliados de Musharraf, reagiram
com cautela. O porta-voz do
Departamento de Estado, Sean
McCormack, disse que a deportação contraria a decisão da Suprema Corte, mas recusou-se a
comentar mais porque "a questão está sob análise jurídica".
Deposto em 1999 e condenado no ano seguinte, por uma
manobra de Musharraf, pelo
seqüestro de um avião que
transportava comandantes militares, Sharif concordou em
deixar o país por dez anos para
escapar da prisão perpétua.
Mesmo exilado, porém, ele
continuou a liderar o terceiro
maior partido paquistanês.
Após decisão da Suprema Corte, anunciou que voltaria "para
derrotar Musharraf nas urnas".
Em retaliação, o governo pediu
a reabertura dos processos por
corrupção contra o ex-premiê.
Com o "Financial Times" e agências internacionais
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