São Paulo, quinta-feira, 11 de setembro de 2008

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Preocupado, Brasil se solidariza e pede à Bolívia moderação

Para Lula, Evo Morales foi inábil em conduzir crise política; Planalto vê erro em expulsão de embaixador americano

Ministro boliviano se reúne com Garcia em Brasília e diz que La Paz resolverá crise sozinha; diplomatas tentam dialogar com oposição a Evo

IURI DANTAS
LETÍCIA SANDER
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo brasileiro afirmou ontem que se solidariza com o presidente boliviano, Evo Morales, e "lamenta o recrudescimento da violência e dos atos de desacato às instituições e à ordem legal". Ao mesmo tempo, pediu uma solução negociada. Já extra-oficialmente, considera que Morales foi inábil na condução da crise.
Em nota distribuída pelo Itamaraty, o governo expressa o desejo de que "cessem imediatamente as ações dos grupos que lançam mão da violência e da intimidação". E "insta todos os atores políticos a que exerçam comedimento, respeitem a institucionalidade democrática e retomem os canais do diálogo e da concertação, na busca de uma solução negociada e sustentável."
A posição do governo brasileiro foi divulgada no início da noite, logo após reunião entre o assessor especial da Presidência Marco Aurélio Garcia e o ministro da Fazenda da Bolívia, Luis Alberto Arce. Depois da reunião, Garcia telefonou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que estava em Manaus, para relatar o encontro.
Logo depois, Garcia telefonou ao vice-presidente da Bolívia, Álvaro García Linera. Lula e Morales não se falaram.

Inabilidade
O Planalto avalia que Morales conduz com inabilidade a crise política na Bolívia. Considera ainda que a expulsão do embaixador dos EUA, ontem, é um erro grave que atrapalha, acirra a crise e dificulta a solidariedade internacional.
Segundo a Folha apurou, Lula vê como principal erro de Morales não ter levado adiante a oportunidade de um entendimento com a oposição quando saiu vencedor de um referendo revogatório em agosto, no qual recebeu mais de 67% de aprovação para continuar no cargo.
Na época, Lula sugeriu, em telefonema, que o colega boliviano abrisse "um diálogo nacional" e que aproveitasse a "oportunidade de estar com moral", de acordo com ministros que acompanharam.
Morales chegou, mais de uma vez, a convidar os governadores de oposição para o diálogo, mas estes impuseram como pré-condição a revogação de um imposto sobre a receita do gás. O governo não aceitou.
Em viagem à Amazônia ontem, Lula disse reservadamente que julgava "extremamente delicada" a situação na Bolívia.
No cálculo do governo brasileiro a tensão diminuiria com a confirmação de Morales no cargo. Mas a oposição ficou mais violenta após o referendo.
Segundo um auxiliar de Lula, o presidente boliviano resiste a usar as Forças Armadas para reprimir os atos da oposição por temer eventuais mortes, o que lhe tiraria a força política.

Amigos
O Brasil acena, agora, com o grupo de amigos da Bolívia, que inclui Argentina e Colômbia.
A avaliação oficial da crise pelo Itamaraty é que se trata de um problema interno da Bolívia e que o Brasil só atuará se e quando solicitado oficialmente por La Paz. Mas, nos bastidores, diplomatas e integrantes da equipe de Lula buscam o diálogo com a oposição boliviana.
Arce, o ministro boliviano, não deu entrevista ao deixar a reunião com Garcia. "As relações com o Brasil são as melhores que temos", limitou-se a dizer. Indagado sobre o papel que o Brasil poderia ter na crise, resumiu: "É um assunto interno que nós vamos resolver".
Já Garcia, ao deixar o Palácio do Planalto, que a "situação é grave, anormal", mas que recebeu informações que o governo da Bolívia vai retomar "rapidamente o controle da situação".
Questionado se a maior preocupação era política ou energética, Marco Aurélio disse que "a preocupação agora é que o Brasil ganhe o jogo com a Bolívia", em referência à partida entre as duas seleções ontem pelas eliminatórias da Copa.


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