São Paulo, quinta-feira, 11 de setembro de 2008

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No Chaco, ir e vir não é direito, mas concessão

DA ENVIADA A VILLAMONTES

Há 18 dias, os Comitês Cívicos decidem, na região do Chaco, sul boliviano, quem pode ou não se mover em carros ou deixar as cidades.
As tradicionais associações conservadoras de empresários e políticos comandam as "permissões", papéis onde escrevem a placa do veículo, sua cor e o nome do motorista. São autorizações diárias distribuídas a algumas camionetes -de líderes do comitê-, táxis, ambulâncias e, com sorte, jornalistas.
Nas ruas das principais cidades, ninguém se espanta com o poder discricionário dos comitês, e vão diligentemente atrás de sua permissão. Em Tarija, a Folha viu um funcionário do Ministério Público em busca da sua.
A obediência faz sentido. Quando se tenta chegar às estradas, constata-se que as saídas dos municípios de Villamontes, Yacuíba e Tarija -junto com Bermejo, as principais cidades do departamento de Tarija- estão bloqueadas.
A Folha teve de parar ao menos cinco vezes num trajeto de 130 km anteontem, descer, mostrar a "permissão", explicar com detalhes a natureza de seu trabalho -num interrogatório que chega à intimidação, com recomendações de não ouvir representantes do governo para as reportagens-, para só aí poder passar. Em um dos bloqueios, só uma entrevista a uma rádio, que combinou odes à amizade de Brasil e Bolívia e palpites sobre o jogo de ontem, selou a liberação.
A gente comum do Chaco sofre inconvenientes muito mais graves. A gasolina saltou de 3 bolivianos (cerca de R$ 0,75) para 20 bolivianos o litro. Há ônibus de transporte de passageiros parados no meio do nada. Até as aulas da rede pública foram interrompidas em Yacuíba. Parte da população já começa movimento para protestar contra os protestos. (FM)


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