São Paulo, terça-feira, 11 de outubro de 2005

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ANÁLISE

Novo governo começará enfraquecido

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

A democrata-cristã Angela Merkel, 51, será a primeira mulher a ocupar a Chancelaria alemã, porém, mesmo antes do início, seu mandato está enfraquecido por ao menos três razões: a magra vitória dos conservadores na eleição após confortável vantagem nas pesquisas, a demora para constituir a coalizão governamental e, sobretudo, a presença de social-democratas no governo.
A aliança composta pela União Democrata Cristã e pela União Social Cristã (espécie de braço da CDU na meridional e abastada Baviera) chegou a ter uma vantagem de 16 pontos percentuais durante a campanha. Contudo ela se diluiu, e o resultado final do pleito conferiu aos conservadores um avanço de apenas quatro cadeiras sobre os social-democratas.
Com isso, não foram poucas as vozes no seio de sua própria aliança que criticaram -nos bastidores, é claro- a "falta de carisma" de Merkel e suas "escolhas erradas", como a de Paul Kirchhof para o Ministério das Finanças. Antes de ser descartado, este foi alcunhado de "neoliberal radical" pelos social-democratas e pelos Verdes. Não se pode, todavia, menosprezar o talento eleitoral de Gerhard Schröder, que liderou com maestria a campanha de seu SPD.
As três semanas de negociações para formar a coalizão governamental também minarão a força de Merkel à frente da Chancelaria. Afinal, elas indicam que os conservadores tiveram de fazer várias concessões aos social-democratas para que estes aceitassem que Merkel liderasse o governo e que Schröder deixasse seu posto.
O fato de o SPD ter ficado com ministérios de peso, como o das Relações Exteriores, o que já era esperado porque a tradição diz que o menor partido da coalizão recebe o posto de vice-chanceler, ou o das Finanças, mostra que os conservadores não terão liberdade para aplicar suas políticas.
Finalmente, é inconcebível -mesmo na "civilizada" Alemanha- que o SPD seja um verdadeiro parceiro da aliança CDU/ CSU na coalizão governamental, como foram os Verdes para os social-democratas nos últimos sete anos, visto que isso quase significaria um suicídio político.
Na coalizão, o SPD será alvo de duras críticas dos oposicionistas Partido da Esquerda e Verdes todas as vezes em que permitir que o governo liderado pelo centro-direita ponha em prática políticas que atenuem o escopo do Estado do Bem-Estar Social alemão.
Como não querem perder outros eleitores para as legendas mais à esquerda do espectro político alemão, os social-democratas terão, portanto, de frear o impulso reformista dos conservadores, minando ainda mais o governo.
Isso não significa, no entanto, que a nova coalizão não vá conseguir realizar reformas. Segundo especialistas, uma maior liberalização do mercado de trabalho deverá ser introduzida, a política educacional poderá ser bastante alterada, e algum progresso será feito para reduzir a carga tributária que pesa sobre as empresas.
Porém poucos analistas esperam que Merkel permaneça quatro anos como chefe de governo.


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