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ANÁLISE
Novo governo começará enfraquecido
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
A democrata-cristã Angela
Merkel, 51, será a primeira mulher a ocupar a Chancelaria alemã, porém, mesmo antes do início, seu mandato está enfraquecido por ao menos três razões: a
magra vitória dos conservadores
na eleição após confortável vantagem nas pesquisas, a demora para
constituir a coalizão governamental e, sobretudo, a presença
de social-democratas no governo.
A aliança composta pela União
Democrata Cristã e pela União
Social Cristã (espécie de braço da
CDU na meridional e abastada
Baviera) chegou a ter uma vantagem de 16 pontos percentuais durante a campanha. Contudo ela se
diluiu, e o resultado final do pleito
conferiu aos conservadores um
avanço de apenas quatro cadeiras
sobre os social-democratas.
Com isso, não foram poucas as
vozes no seio de sua própria aliança que criticaram -nos bastidores, é claro- a "falta de carisma"
de Merkel e suas "escolhas erradas", como a de Paul Kirchhof para o Ministério das Finanças. Antes de ser descartado, este foi alcunhado de "neoliberal radical" pelos social-democratas e pelos Verdes. Não se pode, todavia, menosprezar o talento eleitoral de Gerhard Schröder, que liderou com
maestria a campanha de seu SPD.
As três semanas de negociações
para formar a coalizão governamental também minarão a força
de Merkel à frente da Chancelaria.
Afinal, elas indicam que os conservadores tiveram de fazer várias
concessões aos social-democratas
para que estes aceitassem que
Merkel liderasse o governo e que
Schröder deixasse seu posto.
O fato de o SPD ter ficado com
ministérios de peso, como o das
Relações Exteriores, o que já era
esperado porque a tradição diz
que o menor partido da coalizão
recebe o posto de vice-chanceler,
ou o das Finanças, mostra que os
conservadores não terão liberdade para aplicar suas políticas.
Finalmente, é inconcebível
-mesmo na "civilizada" Alemanha- que o SPD seja um verdadeiro parceiro da aliança CDU/
CSU na coalizão governamental,
como foram os Verdes para os social-democratas nos últimos sete
anos, visto que isso quase significaria um suicídio político.
Na coalizão, o SPD será alvo de
duras críticas dos oposicionistas
Partido da Esquerda e Verdes todas as vezes em que permitir que
o governo liderado pelo centro-direita ponha em prática políticas
que atenuem o escopo do Estado
do Bem-Estar Social alemão.
Como não querem perder outros eleitores para as legendas
mais à esquerda do espectro político alemão, os social-democratas
terão, portanto, de frear o impulso reformista dos conservadores,
minando ainda mais o governo.
Isso não significa, no entanto,
que a nova coalizão não vá conseguir realizar reformas. Segundo
especialistas, uma maior liberalização do mercado de trabalho deverá ser introduzida, a política
educacional poderá ser bastante
alterada, e algum progresso será
feito para reduzir a carga tributária que pesa sobre as empresas.
Porém poucos analistas esperam que Merkel permaneça quatro anos como chefe de governo.
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