São Paulo, terça-feira, 11 de outubro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Nova líder é vista como "pragmática"

DA REUTERS, EM BERLIM

Não foi tão fácil quanto ela esperava, mas Angela Merkel, a tímida filha de um pastor criada no lado oriental, ex-comunista, da Alemanha finalmente coroou sua ascensão improvável ao cargo mais alto da política nacional e vai se tornar a primeira mulher a ocupar a Chancelaria da Alemanha.
Um mês atrás, Merkel e seu partido, a União Democrata Cristã (CDU), lideravam as pesquisas de intenção de voto, tanto assim que a expectativa geral era que derrotassem sem dificuldade o Partido Social-Democrata (SPD), do chanceler Gerhard Schröder.
Mas a vitória decepcionantemente pequena do partido de Merkel, após uma campanha largamente criticada, condenou seus planos econômicos ambiciosos e a obrigou a combater Schröder pelo cargo principal.
Manter unidas as diversas facções rivais e instituir reformas que, segundo economistas, são cruciais para o país será um desafio grande -que será dificultado por sua campanha vacilante e o fato de o SPD ter conseguido ficar com o Ministério das Finanças, uma pasta-chave no governo que Merkel vai chefiar.
Na semana passada, o semanário alemão "Die Zeit" dizia que, "se Merkel quiser ser primeira-ministra, não bastará derrotar Schröder. Ela também terá que conquistar a população".
Há 16 anos, quando o Muro de Berlim caiu e Merkel, 51, iniciou sua ascensão meteórica na CDU do então chanceler Helmut Kohl, poucas pessoas teriam previsto que a ex-cientista desajeitada e modesta conseguiria chegar tão longe quanto chegou.
Mas sua mente analítica inteligente, o dom de estar no lugar certo no momento certo e sua disposição intransigente para relegar seus rivais ao segundo plano a impulsionaram para a liderança de seu partido, dominado por homens, colocando-a na posição própria para tornar-se a oitava líder da Alemanha no pós-guerra.
Protetora de sua privacidade a qualquer custo, Merkel nasceu em 17 de julho de 1954 em Hamburgo, na Alemanha Ocidental, mas sua família se mudou para o lado oriental quando ela era bebê.
Como filha de um pastor protestante num Estado comunista em que a religião organizada era vista com desconfiança, Merkel foi aconselhada desde cedo por seus pais a manter postura discreta e sempre agir de maneira irrepreensível. Falando de sua infância, Merkel comentou: "Tudo sempre foi uma batalha -uma batalha para não chamar a atenção, uma batalha para ser um pouco melhor do que os outros".
Essas experiências moldaram Merkel, casada com um professor de química de Berlim e sem filhos, transformando-a numa política pé-no-chão e, para alguns, implacável. Ela precisará da praticidade e da resistência quando tomar as rédeas de uma "grande coalizão" potencialmente explosiva, na qual seus aliados conservadores terão de dividir o poder com o SPD, de Schröder. O SPD e rivais de sua própria CDU estarão ansiosos por vê-la fracassar.


Tradução de Clara Allain

Texto Anterior: Análise: Novo governo começará enfraquecido
Próximo Texto: Américas: Argentina poderá vender reator a Chávez
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.