São Paulo, quarta-feira, 11 de outubro de 2006

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Morte de repórter ofusca visita de Putin à Alemanha

Presidente russo promete punir assassinos de jornalista que era crítica ao Kremlin

Em Dresden, onde foi espião soviético nos anos 80, Putin é chamado de assassino por um popular e anuncia plano de ampliar provisão de gás

DA REDAÇÃO

O assassinato de uma das principais repórteres investigativas da Rússia, uma contumaz crítica do Kremlin, ofuscou os temas oficiais da visita de dois dias à Alemanha que o presidente Vladimir Putin iniciou ontem. Putin, que prometeu prender os autores do crime, foi chamado de "assassino" por um popular na chegada a Dresden, cidade na qual viveu como espião do serviço secreto soviético (KGB) nos anos 80.
Milhares de pessoas participaram do enterro de Anna Politkovskaya, 48, cujo corpo foi achado no sábado com marcas de tiros no elevador do prédio em que vivia, em Moscou. O crime contra uma das principais jornalistas do país, conhecida por documentar abusos cometidos pelas tropas russas na Tchetchênia, aumentou a preocupação sobre a liberdade de imprensa no país.
O presidente russo descreveu o assassinato como "um crime repugnantemente cruel que não pode ficar impune", em entrevista concedida ao lado da chanceler (premiê) alemã, Angela Merkel. Putin insinuou, sem entrar em detalhes, que "inimigos" do governo, cometeram o crime para sujar a imagem do Kremlin.
Falando logo após a chanceler alemã, que manifestou preocupação com o assassinato, Putin lamentou o crime, mas minimizou a importância de Politkovskaya. "O seu nível de influência na vida política da Rússia era pequeno", disse o presidente. "O assassinato causa mais danos ao governo que qualquer de seus textos."
A chegada de Putin a Dresden, onde foi espião do KGB entre 1985 e 1990, foi tumultuada. Quando saía da limusine oficial, foi abordado por um homem que estava na multidão. "Assassino, você não é bem-vindo aqui", gritou o popular.
Em Moscou, o enterro de Politkovskaya foi marcado pela revolta contra o governo, que não mandou representante. Milhares de pessoas deixaram flores ao lado do caixão. "As autoridades são covardes. Por que não vieram? Têm medo até de uma Politkovskaya morta?", criticou Boris Nemtsov, premiê no governo de Boris Yeltsin.

Gás
A imprensa russa tem publicado especulações de que críticos do Kremlin no exterior podem ter planejado o assassinato para lançar as suspeitas sobre o governo. O jornal em que Politkovskaya trabalhava, "Novaya Gazeta", indicou que o crime pode estar ligado a Ramzan Kadyrov, o premiê da Tchetchênia apoiado por Moscou.
Um dos principais assuntos discutidos por Putin e Merkel em Dresden foi energia. O presidente disse à chanceler que a Gazprom, monopólio controlada pelo Kremlin, pretende fazer da Alemanha o centro de distribuição do gás russo na Europa. Dois quintos do gás consumido na Alemanha, o maior parceiro da Rússia na União Européia, é fornecido pela Gazprom.
A relação com a Rússia divide a coalizão de governo alemã. Merkel defendeu na campanha eleitoral de 2005 uma posição mais crítica, mas o Ministério do Exterior, chefiado pelos social-democratas, defendeu num relatório recente uma maior aproximação, para acelerar a integração russa à Europa.


Com agências internacionais


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