São Paulo, domingo, 11 de outubro de 2009

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"Time de rivais" obamista discute Afeganistão

Definições da nova estratégia e acerca do aumento ou não do número de soldados em ação no confronto estão em jogo

Obama realizou 4ª reunião sobre a guerra anteontem, horas depois de ganhar Nobel da Paz; decisão pode sair durante esta semana


Pete Souza/Casa Branca-Flickr
Obama (de costas) gesticula em reunião para traçar nova estratégia para a guerra no Afeganistão anteontem, horas após ter sido agraciado com o Nobel da Paz

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Poucas horas depois de agradecer publicamente pelo surpreendente Prêmio Nobel da Paz, anteontem, o presidente Barack Obama se reuniu mais uma vez com seu conselho de guerra para decidir o futuro da participação norte-americana no conflito do Afeganistão. Era a quarta de uma série de cinco reuniões com o alto comando militar, diplomático e de segurança nacional que vem acontecendo na Sala da Situação, na Casa Branca.
Ali, segundo relatos de participantes vazados à imprensa local, o democrata vem estimulando que pessoas com visões diferentes defendam suas posições. Fez o mesmo recentemente com as lideranças do Congresso. Agora, Obama pretende passar o começo da semana em deliberações com seu time mais reduzido, formado pelos assessores sêniores e o conselheiro de Segurança Nacional, general James Jones, e lançar suas ideias na quarta-feira, dia de nova reunião.
Depois da última sintonia fina, anunciará a nova estratégia publicamente, talvez na própria quarta, embora o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, tenha dito que o governo pode estar "a várias semanas de uma decisão".
Pelo que vazou dos últimos encontros, há dois grandes esquemas em disputa. O primeiro, encabeçado pelo comandante americano no Afeganistão, general Stanley McChrystal, e por parte dos militares, mantém a tática em vigor e prevê o aumento da força atualmente no país, de 68 mil homens. O acréscimo varia entre 40 mil e 60 mil.
O segundo, defendido pelo vice-presidente Joe Biden, entre outros, mantém o atual contingente, mas substitui parte dos soldados por oficiais treinadores, com o objetivo de ajudar a formar uma força de segurança afegã, nos moldes do que foi feito no Iraque nos últimos anos. Um sinal de que Obama o está ouvindo foi o anúncio, na quinta à noite, de que o tenente-general William Caldewell se juntaria a McChrystal no Afeganistão. O militar é especialista em treinar forças estrangeiras.
Há também a discussão sobre uma nova estratégia. Pelo que os assessores mais próximos de Obama disseram -o que indica que é a posição que mais o agrada-, o foco da guerra se dividiria em dois.
Hoje, os EUA combatem a organização terrorista Al Qaeda, responsável pelos ataques de 11 de Setembro, e a liderança do Taleban, que lhe deu guarida até 2002, enquanto priorizam a defesa da população civil.
De acordo com a nova tática, os alvos seriam separados, assim como sua importância. A prioridade passaria a ser eliminar os líderes da Al Qaeda, "uma entidade que, via uma rede global e jihadista, procura atingir os EUA em seu solo", segundo definição de quinta-feira dada por Robert Gibbs.
Já a capacidade do Taleban "é de alguma maneira diferente, em relação às ameaças transnacionais", disse ele no mesmo dia. Segundo a nova estratégia, Washington dependeria mais pesadamente da ajuda do Paquistão para atacar os primeiros, que se escondem na zona porosa entre os dois países. A liderança do Taleban continuaria a sofrer ataques, mas não estaria descartada uma negociação com o baixo clero da organização e até a possibilidade de se negociar uma trégua.
De certa maneira, Obama lançou as bases desse plano já em março, mas suas ordens nunca foram implantadas por diversos motivos. Um deles, que se torna mais evidente agora, é que há uma divisão no comando obamista em relação à guerra, assunto em que o alto escalão do governo mais se parece com o chamado "time de rivais" de Abraham Lincoln, como ficou conhecido o ministério montado pelo presidente republicano em 1861.
James Jones tem mais influência que a secretária de Estado, Hillary Clinton. E, diferentemente de George W. Bush, que fez do general David Petraeus uma estrela no Iraque, Obama tende a seguir a hierarquia militar, ouvindo sempre primeiro seu secretário da Defesa, Robert Gates, e só depois os comandantes militares. Gates não tem posição definida quanto à melhor estratégia para a guerra. Já o embaixador dos EUA no Afeganistão, Karl Eikenberry, disputa espaço com o enviado especial à região, Richard Holbrooke.
Na cabeceira está Obama, que sabe que essa será a questão definidora de seu mandato no campo de política externa.
E que corre contra o relógio, como lembra a oposição republicana a cada morte de um soldado no Afeganistão.


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