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Popularidade de extremistas é "preocupante"
MOUNA NAIM
DO "LE MONDE"
Antigo juiz saudita, o xeque Abdel Aziz Al Qassem, que hoje dirige sua empresa própria de assessoria jurídica em Riad, se define
como um "islâmico liberal" que
defende a tolerância e a transparência. Bom conhecedor da militância islâmica em seu país, ele vê
como "preocupante" a popularidade entre os sauditas de grupos
extremistas como a rede terrorista Al Qaeda, do também saudita
Osama bin Laden, e a entrada de
armas clandestinas na região.
Pergunta - Por que os terroristas
escolheram o complexo residencial
de Riad?
Abdel Aziz Al Qassem - Várias explicações possíveis foram aventadas. Segundo uma delas, o complexo teria sido, no passado, uma
área ocupada por americanos. Essa explicação não convence realmente, porque as pessoas -os
autores práticos e intelectuais dos
atentados- possuem informações muito precisas e muito bem
documentadas, como comprovam seus atos anteriores.
Segundo outra tese, bem mais
grave, essas pessoas teriam decidido atacar tudo o que pode prejudicar o governo, custe o que
custar, mesmo que não se trate de
um alvo americano. Assim, um
autor anônimo escreveu na internet que no interior do complexo
haveria uma igreja [nenhum local
de culto não-muçulmano é permitido na Arábia Saudita] e uma
boate. "Não chorem as vítimas
-são cristãos que exercem suas
práticas. E alguns deles blasfemam contra o islã", escreveu esse
internauta. É provável que os autores do atentado sejam os mesmos que enfrentaram a polícia
numa quase batalha campal em
Riad [na quinta-feira] ou que façam parte do mesmo grupo. Na
quinta-feira, estavam em seis.
Apenas um deles foi morto. Os
outros conseguiram fugir.
Pergunta - O senhor acredita que,
mais uma vez, a responsável tenha
sido a rede Al Qaeda?
Qassem - Sem dúvida alguma, a
julgar pelo nível de seu armamento e de seu treinamento. Mas você
deve saber que a Al Qaeda já se
tornou uma espécie de empresa
aberta, com vários associados.
Pergunta - O fato de esses grupos
continuarem a atuar, apesar da repressão, significa que eles contam
com a simpatia da população saudita?
Qassem - Eles certamente têm
uma popularidade preocupante, e
é sem dúvida isso que levou as autoridades a anunciar algumas reformas, tais como a organização
de uma eleição municipal, a promessa de eleições legislativas e outras medidas. É preciso entender
que existe uma confusão de espírito entre a população, confusão
na qual se misturam o repúdio à
política governamental e a revolta
contra as políticas dos Estados
Unidos.
Pergunta - Quer dizer então que o
pior ainda estaria por vir?
Qassem- É muito provável, por
três razões. Em primeiro lugar, a
quantidade de armas apreendidas
é impressionante. Essas pessoas
introduzem as armas no país através das fronteiras norte e sul. Um
exemplo: em agosto, as autoridades apreenderam um caminhão
que vinha do Iêmen e transportava 198 granadas-foguete. É algo
enorme, o suficiente para destruir
mais de um prédio, ou todo um
complexo. Em segundo lugar, o
número de células extremistas é
muito grande, e isso em todas as
regiões do país. E, para encerrar,
seu nível de organização parece
ser muito alto.
Pergunta - Atacar nos lugares
santos, como a cidade santa de Meca, e mais ainda durante o Ramadã,
o mês sagrado do islamismo, não é
quase um sacrilégio para os muçulmanos?
Qassem- É claro que sim. É um
desvio de conduta muito grave,
mas, nos tempos atuais, o senso
de moral e a consciência do sagrado infelizmente vêm sendo ignorados.
Tradução de Clara Allain
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