São Paulo, domingo, 11 de novembro de 2007

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Referendo sobre Carta divide os opositores venezuelanos

Em ato em Caracas, grupos criticam reforma mas deixam de pedir voto pelo "não"

Líderes estudantis admitem que ainda não há consenso sobre a recomendação de votar dentro do "Bloco do Não", que reúne 19 grupos

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

A três semanas do referendo sobre a reforma constitucional proposta pelo presidente Hugo Chávez -a ser realizado em 2 de dezembro-, a fragmentada oposição venezuelana ainda não decidiu se fará campanha em favor do voto pelo "não", se pregará algum boicote ou se participará unida em eventos.
A falta de consenso interno ficou clara ontem, durante um comício do "Bloco do Não" com alguns milhares de pessoas -aparentemente menos do que em eventos anteriores-, no centro de de Caracas.
Houve discordância até para discursar. O desgastado governador de Zulia, Manuel Rosales (Un Nuevo Tiempo, UNT), segundo colocado nas eleições presidenciais do ano passado, foi impedido pelos estudantes de subir ao palco. Irritado com a confusão, o líder estudantil Yon Goicoechea deixou o local, também sem discursar. Finalmente, houve um acordo para que apenas líderes juvenis ligados a partidos políticos falassem. Dos quatro que discursaram, só um exortou a população a votar no referendo.
O posicionamento contra o voto também não foi visto no material publicitário. Com a exceção de camisas do UNT, onde se lia "vote não", criticava-se a reforma, que propõe a reeleição presidencial infinita, mas se ignorava o referendo.
"Estamos pedindo que se atrasem as eleições para fevereiro no Supremo Tribunal de Justiça (STJ). Depois que o povo entender a reforma, vamos conclamar a votar pelo "não'", disse à Folha o dirigente estudantil Carlos Vargas, da Universidade Central da Venezuela (UCV). Em seu discurso, afirmou que a posição definitiva será tomada em nova marcha, na próxima sexta-feira.
Outro líder estudantil, Stálin González, também da UCV, admitiu à reportagem que ainda não há consenso sobre a recomendação de votar dentro do "Bloco do Não", registrado no Conselho Nacional Eleitoral (CNE) com 19 organizações.
Pelo menos uma delas, o tradicional partido AD (Ação Democrática), ainda não decidiu sua recomendação. Outro partido inscrito, o ex-chavista Podemos, até agora preferiu não participar da campanha ao lado de grupos tradicionais.
Duas organizações radicais da oposição, o Comando Nacional da Resistência (CNR) e Aliança Bravo Povo (ABP), nem sequer se inscreveram no CNE e prometem impedir o referendo. Na semana passada, anunciaram a "marcha sem retorno" no dia 26 e exortaram a população a comprar lanternas e chocolate por precaução.
"Estamos buscando o diálogo [com o restante da oposição], apesar de faltarem apenas alguns dias de campanha. O que se busca é impor na opinião pública a opção de participar. Agora, é óbvio que participaremos com uma grande desvantagem", disse Leopoldo López (UNT), prefeito de Chacao, um dos municípios de Caracas.
Uma pesquisa divulgada nesta semana pelo instituto Datanálisis mostra um empate técnico para o referendo, com ambas as posições atingindo 34%.


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