São Paulo, domingo, 11 de dezembro de 2005 |
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ARTIGO A era do ceticismo
DAVID BROOKS
Instalou-se no pais um clima de pessimismo onipresente. Aproximadamente dois terços dos americanos dizem que o país está avançando no rumo errado. O Iraque não é a única questão que motiva esse pessimismo acentuado, mas é a mais importante (o furacão Katrina exerceu impacto surpreendentemente pequeno). E os americanos estão nesse estado de ânimo pessimista apesar da crescente confiança dos consumidores e do crescimento econômico forte, de 4,3%. Os americanos não estão pessimistas em relação a seu próprio futuro individual, mas em relação a seus líderes e ao futuro do país. Nesse ambiente de desânimo generalizado, o pêndulo político já não oscila no eixo esquerda-direita. Como observou Christopher Caldwell recentemente no "Financial Times", o mesmo fenômeno vem atingindo um país após outro: o partido governista perde força, mas o partido de oposição não ascende. Os problemas à direita não levam a um fortalecimento da esquerda, ou vice-versa. Em outras palavras, os democratas podem até vencer as eleições em 2006 ou 2008, mas isso não significa que vão conquistar a confiança do público, nem que terão seu aval para transformações. Nesse clima de exaustão, o pêndulo político oscila do engajamento ao cinismo. Quando os eleitores polarizados perdem a confiança em seu próprio lado, eles não trocam para o outro -apenas se afastam do debate político. O principal efeito cultural da guerra do Iraque é que estamos ingressando num período de ceticismo. Muitos americanos verão com ceticismo a possibilidade de seu governo saber o suficiente para poder realizar grandes empreendimentos ou ter competência suficiente para executar políticas de grande alcance. Mais pessoas enxergarão com ceticismo os planos para moldar a realidade segundo nossos desígnios ou resolver problemas profundos que têm origens na história e na cultura. Serão céticas em relação a nossa capacidade de ajudar ou compreender sociedades distantes no Oriente Médio, na África ou qualquer outra parte do mundo. Teoricamente, o ceticismo conduz à prudência, que não é uma qualidade negativa. Mas quando é tingido com cinismo, como acontece agora, o ceticismo vira passividade. Em eras dominadas pelo ceticismo, as pessoas se prestam facilmente a achar que problemas de longa duração e alcance, tais como a pobreza e o despotismo, são intratáveis e que não vale a pena tentar combatê-los. Elas acham fácil adiar qualquer ação em relação a problemas distantes mas de grande monta, tais como os déficits, que não impõem sofrimento imediato. Acham fácil postergar a ação com relação a problemas externos, tais como as ambições nucleares do Irã, em lugar de fazer frente a eles. Como já observou o economista da Universidade Harvard Benjamin Friedman, os americanos lançam reformas sociais quando estão se sentindo confiantes, não quando estão desanimados e inseguros. A determinação de reconstruir Nova Orleans, aproveitando o momento pós-Katrina, já se dissipou. O desejo de ambos os partidos de lançar iniciativas de monta com relação à política energética não está indo a lugar algum. Mesmo o problema de Darfur evoca pouco mais do que suspiros de lamento e indiferença. O que está em jogo no Iraque não é apenas o futuro desse país, mas o futuro da autoconfiança americana. Talvez tenhamos de passar por um ciclo de ceticismo antes de podermos desfrutar um novo ciclo de esperança. Tradução de Clara Allain Texto Anterior: Iraque sob tutela: Saddam e EUA polarizam campanha Próximo Texto: Nobel da paz: Armas atômicas ameaçam humanidade, diz El Baradei Índice |
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