São Paulo, sábado, 11 de dezembro de 2010

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Ausência de Liu quebra série de 74 anos

Pela primeira vez desde 1936, quando Hitler interveio, Prêmio Nobel da Paz não é entregue para o ganhador

Governo da China censurou portais de internet e redes de televisão contra a divulgação do prêmio


DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

Pela primeira vez em 74 anos, o Prêmio Nobel da Paz foi entregue simbolicamente a uma cadeira vazia.
Seu ganhador, o dissidente chinês Liu Xiaobo, não pôde receber o prêmio de US$ 1,4 milhão de dólares em Oslo, capital da Noruega.
Ativista pela democracia, ele cumpre pena de 11 anos de prisão, acusado de subversão. Há dois anos, foi um dos organizadores do manifesto Carta 08, em que intelectuais e ativistas pediram reformas abrangentes na China -inspirando-se na Carta 77, movimento pró-democracia na Tchecoslováquia, dos anos 70.
Liu já havia passado 20 meses detido por sua participação nas manifestações da praça da Paz Celestial (ou Tiananmen) e outros três anos num campo de reeducação, nos anos 1990.
Essa é a primeira vez que o Prêmio Nobel da Paz não é entregue desde 1936, quando Adolf Hitler impediu que o pacifista alemão Carl von Ossietzky fosse à cerimônia.
Em Pequim, ontem, oficiais guardavam a entrada do edifício onde vive a mulher de Liu, Liu Xia.
Ela está em prisão domiciliar desde outubro, quando foi anunciado que seu marido receberia o prêmio. O policiamento foi intensificado ontem, e telefone e internet dela foram cortados.
Em conversa com sua mulher, Liu disse que o Nobel a ele concedido é um tributo a todos os mortos em 1989 por soldados em Tiananmen.

CENSURA
Sites noticiosos estrangeiros foram suspensos e programas das redes CNN e BBC foram bloqueados quando reportagens sobre Liu eram mostradas na China.
As palavras "cadeira vazia" e "Oslo" foram censuradas pelo governo nos sites do país poucas horas antes da entrega do prêmio.
A possibilidade de escrever as palavras-chave "cadeira vazia", "tamborete vazio" ou "Oslo" estava bloqueada no site Renren -o equivalente chinês do Facebook.
Desafiando a censura, internautas criaram uma rede de fotos de vários tipos de cadeiras vazias, em referência ao Nobel.
Durante a premiação, a atriz norueguesa Liv Ullmann leu um trecho do depoimento de Liu no seu julgamento, que ocorreu em dezembro do ano passado.
"Não tenho inimigos e nenhum ódio. Nenhum dos policiais que me monitoraram, prenderam e interrogaram, nenhum dos promotores que me indiciaram, e nenhum dos juízes que me julgaram são meus inimigos", disse.

RETALIAÇÃO
Nesta semana, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Jiang Yu, descreveu os defensores de Liu como "palhaços" e acusou o comitê do Nobel de "orquestrar uma farsa".
Em retaliação à entrega do Nobel, o governo chinês suspendeu discussões comerciais com a Noruega e pediu para que alguns países não participassem da premiação.
Recusaram os convites e não participaram da solenidade 18 deles.
Para se posicionar contra a escolha do Nobel, os chineses ainda criaram o Prêmio Confúcio da Paz, entregue anteontem. Ele foi dado ao ex-vice-presidente de Taiwan, Lien Chan, que construiu uma ponte entre seu país e a China. Chan não compareceu à cerimônia.


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