São Paulo, sábado, 11 de dezembro de 2010

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Brasil vive dias de glória entre palestinos

Governo e população em territórios ocupados comemoram decisão de governo Lula de reconhecer "Palestina"

ANP faz peregrinação a escritório brasileiro em Ramallah; para Israel, anúncio de Brasília prejudica negociações


MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

Foi uma semana de glória para os brasileiros nos territórios palestinos.
Bandeiras do Brasil estiveram nas primeiras páginas de todos os jornais e ontem balançaram lado a lado com as palestinas no protesto de todas as sextas-feiras contra a ocupação.
Delegações da Autoridade Nacional Palestina (ANP) fizeram peregrinação ao escritório de representação do Brasil em Ramallah.
A profusão de agradecimentos foi desencadeada pela mensagem enviada pelo presidente Lula na semana passada, anunciando que o Brasil reconhece o Estado palestino nas fronteiras de 1967 -ou seja, anteriores à ocupação de Israel.
O que carrega de significado político o gesto de Lula é o momento em que foi feito. O Brasil foi o primeiro país a aderir à campanha internacional dos últimos meses pelos palestinos, para obter reconhecimento a seu Estado.
O que foi bom para a popularidade brasileira com os palestinos é também resultado dos maus presságios para o processo de paz.
Nesta semana, Washington admitiu seu fracasso no esforço de convencer Israel a congelar as construções nos territórios ocupados, condição palestina para negociar.
Sem esperanças de chegar a um acordo que atenda minimamente as suas condições, os palestinos reforçam a aposta no apoio internacional. O próximo passo, prometem, será levar o pedido de reconhecimento à ONU.
"O reconhecimento internacional do Estado palestino nas fronteiras de 1967 é um repúdio à política de colonização dos territórios ocupados por Israel", disse Husam Zomlot, vice-comissário de Relações Exteriores do Fatah (principal facção da ANP).
O anúncio pegou a artista plástica Fabiana de Barros em plena Abu Dis, aldeia palestina em Jerusalém, que virou um dos símbolos do conflito ao ser dividida ao meio pelo muro erguido por Israel.
Paulistana radicada em Genebra, ela participava na Universidade de Al Quds de um festival com artistas de vários países. "Fui cercada por estudantes agradecidos ao Brasil, todos profundamente emocionados. Cheguei no momento certo."
O gesto do Brasil foi seguido pela Argentina, que reconheceu o Estado palestino dois dias depois. Uruguai, México, Equador e El Salvador serão os próximos, diz o jornal "Jerusalem Post".
Tecnicamente, o Brasil apenas formalizou em termos bilaterais uma posição que mantém desde 1988, quando aprovou a resolução da ONU de apoio à proclamação do Estado palestino junto com outros 103 países.
Ainda assim, o aceno político segue as ações recentes do governo brasileiro em favor dos palestinos, como a doação de US$ 25 milhões para a reconstrução da faixa de Gaza anunciada em julho.
Entre os israelenses, o anúncio reforçou o ceticismo em relação ao papel de mediador neutro do conflito que o governo Lula almejou.
"Em vez de ajudar, países que jamais contribuíram para o processo de paz prejudicam as negociações", disse o porta-voz da Chancelaria israelense, Yigal Palmor, num tom de condenação bem acima do habitual.
O historiador israelense Moshe Dann considerou o reconhecimento brasileiro e de outros países inócuo, sobretudo diante da profunda divisão dos palestinos entre o laico Fatah na Cisjordânia e o islâmico Hamas em Gaza.
"O salto palestino para o Estado não é só prematuro. É imaturo", escreveu Dann no site de notícias Ynet.


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