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NA CASA BRANCA
Ex-secretário do Tesouro fala sobre governo
Bush planejava invadir o Iraque desde o início do governo, diz O"Neill
CÍNTIA CARDOSO
DE NOVA YORK
O presidente dos EUA, George
W. Bush, já planejava usar tropas
para invadir o Iraque antes mesmo dos atentados de 11 de Setembro (2001), que deu início à chamada guerra contra o terrorismo.
"Desde o começo [da administração], havia a convicção de que
Saddam Hussein era uma pessoa
má e que precisava sair", disse o
ex-secretário do Tesouro Americano Paul O'Neill. A declaração
faz parte de trechos de entrevista
concedida ao canal de televisão
CBS. A entrevista estava prevista
para ir ao ar na noite de ontem.
O'Neill fez parte da administração Bush entre janeiro de 2001 e
dezembro de 2002, quando o presidente pediu o seu afastamento.
À época, a justificativa para a saída de O'Neill foi o desentendimento entre o ex-secretário e o
presidente norte-americano a respeito da condução da política econômica nos EUA.
O'Neill afirma que alertou o
presidente e o vice-presidente,
Dick Cheney, que o enorme déficit fiscal -cerca de US$ 500 bilhões- era uma grave ameaça
para a economia americana. Segundo o ex-secretário, o aviso foi
claramente ignorado.
Sobre os debates ideológicos entre o presidente e a sua equipe,
O'Neill traça um perfil caricato de
Bush. "[Bush] era como um cego
numa sala cheia de pessoas surdas. Não havia nenhuma conexão", alfinetou.
O relato do ex-secretário é a peça central do livro "The Price of
Loyalty: George W. Bush, the
White House and the Education
of Paul O'Neill" (algo como: o
preço da lealdade: George W.
Bush, a Casa Branca e a educação
de Paul O'Neill). A obra, prevista
para ser lançada nesta semana, foi
escrita por Ron Suskind, ex-repórter do "Wall Street Journal".
O livro reúne entrevistas com
funcionários de primeiro escalão
e outras fontes ligadas ao governo
Bush. O autor afirma ainda que há
uma seleção de documentos oficiais que comprovam que planos
para a ocupação do Iraque eram a
tônica do presidente desde os primeiros dias no cargo.
Suskind cita um documento do
Pentágono que revelaria a intenção dos EUA de partilhar áreas de
exploração de petróleo no Iraque
entre 30 ou 40 países.
No livro, O'Neill também confessa ter ficado surpreso com o fato de ninguém no Conselho Nacional de Segurança dos EUA ter
questionado sobre as razões do
país para invadir o Iraque.
O'Neill conta que, na reunião da
qual ele participou em que se discutiu uma ação militar, o tom das
conversas entre os integrantes do
conselho era como arrumar um
meio para justificar uma ação militar para derrubar o então ditador iraquiano, Saddam Hussein.
As críticas do ex-secretário também recaem sobre o principal argumento da administração Bush
para ir à guerra contra o Iraque:
encontrar e destruir armas de
destruição em massa.
O'Neill afirma que nunca viu
nenhuma evidência da existência
de um arsenal bélico com tal poder de destruição no Iraque.
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