São Paulo, segunda-feira, 12 de janeiro de 2004

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NA CASA BRANCA

Ex-secretário do Tesouro fala sobre governo

Bush planejava invadir o Iraque desde o início do governo, diz O"Neill

CÍNTIA CARDOSO
DE NOVA YORK

O presidente dos EUA, George W. Bush, já planejava usar tropas para invadir o Iraque antes mesmo dos atentados de 11 de Setembro (2001), que deu início à chamada guerra contra o terrorismo.
"Desde o começo [da administração], havia a convicção de que Saddam Hussein era uma pessoa má e que precisava sair", disse o ex-secretário do Tesouro Americano Paul O'Neill. A declaração faz parte de trechos de entrevista concedida ao canal de televisão CBS. A entrevista estava prevista para ir ao ar na noite de ontem.
O'Neill fez parte da administração Bush entre janeiro de 2001 e dezembro de 2002, quando o presidente pediu o seu afastamento. À época, a justificativa para a saída de O'Neill foi o desentendimento entre o ex-secretário e o presidente norte-americano a respeito da condução da política econômica nos EUA.
O'Neill afirma que alertou o presidente e o vice-presidente, Dick Cheney, que o enorme déficit fiscal -cerca de US$ 500 bilhões- era uma grave ameaça para a economia americana. Segundo o ex-secretário, o aviso foi claramente ignorado.
Sobre os debates ideológicos entre o presidente e a sua equipe, O'Neill traça um perfil caricato de Bush. "[Bush] era como um cego numa sala cheia de pessoas surdas. Não havia nenhuma conexão", alfinetou.
O relato do ex-secretário é a peça central do livro "The Price of Loyalty: George W. Bush, the White House and the Education of Paul O'Neill" (algo como: o preço da lealdade: George W. Bush, a Casa Branca e a educação de Paul O'Neill). A obra, prevista para ser lançada nesta semana, foi escrita por Ron Suskind, ex-repórter do "Wall Street Journal".
O livro reúne entrevistas com funcionários de primeiro escalão e outras fontes ligadas ao governo Bush. O autor afirma ainda que há uma seleção de documentos oficiais que comprovam que planos para a ocupação do Iraque eram a tônica do presidente desde os primeiros dias no cargo.
Suskind cita um documento do Pentágono que revelaria a intenção dos EUA de partilhar áreas de exploração de petróleo no Iraque entre 30 ou 40 países.
No livro, O'Neill também confessa ter ficado surpreso com o fato de ninguém no Conselho Nacional de Segurança dos EUA ter questionado sobre as razões do país para invadir o Iraque.
O'Neill conta que, na reunião da qual ele participou em que se discutiu uma ação militar, o tom das conversas entre os integrantes do conselho era como arrumar um meio para justificar uma ação militar para derrubar o então ditador iraquiano, Saddam Hussein.
As críticas do ex-secretário também recaem sobre o principal argumento da administração Bush para ir à guerra contra o Iraque: encontrar e destruir armas de destruição em massa.
O'Neill afirma que nunca viu nenhuma evidência da existência de um arsenal bélico com tal poder de destruição no Iraque.



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