São Paulo, sábado, 12 de janeiro de 2008

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Bogotá e guerrilha negam avanço

Farc voltam a dizer que só libertarão mais reféns com desmilitarização de área, que Bogotá descarta

Ministério da Defesa da Colômbia também crê que caso de Rojas e González não deve trazer alento a negociações no curto prazo

CAROLINA VILA-NOVA
FLÁVIA MARREIRO
DA REDAÇÃO

A festejada libertação de Clara Rojas e Consuelo González pelas Farc não altera a situação de impasse na negociação entre o governo colombiano e a guerrilha e lança poucas esperanças sobre o destino dos cerca de 700 reféns ainda na selva.
Se a guerrilha vai tentar ampliar sua interlocução política internacional com base na libertação -apesar do estrago causado pela situação do menino Emmanuel, filho de Clara Rojas-, Bogotá está disposta a limitar a investida e é cética quanto à possibilidade de que a libertação das mulheres possa dar um novo impulso ao "intercâmbio humanitário", como é chamada a troca de reféns por guerrilheiros presos.
Na visão de uma fonte do Ministério da Defesa colombiano ouvida pela Folha, a libertação foi algo coordenado exclusivamente com a Venezuela para trazer o presidente Hugo Chávez de volta às negociações -o que o governo colombiano descarta- e não vai levar a avanços no processo no curto prazo.
Do lado da guerrilha, as Farc voltaram a afirmar que a troca dos 43 demais seqüestrados políticos por guerrilheiros só acontecerá se Bogotá aceitar desmilitarizar uma área entre os municípios de Florida e Pradera, no oeste colombiano.
A proposta foi descartada várias vezes pelo governo Álvaro Uribe. Quinta, o ministro da Defesa, Juan Manuel Santos, reiterou que libertação das reféns provava que a área desmilitarizada é desnecessária.

Sem razão para ceder
"Os seqüestrados são o mecanismo de visibilidade política mais importante das Farc. Eles não vão liberá-los até acreditarem que ganharam algo, que podem sair da situação de asfixia interna e externa em que se encontram", disse Ariel Ávila Martínez, pesquisador da organização Nuevo Arcoiris, que estuda o conflito na Colômbia.
Para Ávila, a negociação só caminhará se a comunidade internacional souber criar uma atmosfera na qual "tanto o governo quanto as Farc acreditem que estão ganhando".
Por agora, dado o clamor pela libertação dos demais reféns e os pedidos de familiares para que Chávez volte à mediação, o governo colombiano se sente injustamente pressionado pelos atores internacionais.
"Qualquer avanço está relacionado diretamente à qualidade e à origem da pressão. E a pressão tem de vir da comunidade internacional. O erro é que ela tem sido direcionada ao governo colombiano", disse a fonte do Ministério da Defesa.
No longo prazo, o governo colombiano aposta na oferta formulada pelo grupo de países europeus (França, Espanha e Suíça) e pela Igreja Católica como base para soltar os demais reféns. Essa proposta prevê criar uma pequena área sem a presença de forças militares do governo ou da guerrilha, por um período determinado, onde as negociações teriam lugar.
Já para as Farc é importante que a negociação se dê nas regiões mais povoadas de Florida e Pradera e com seus homens no controle. "Eles querem um palco para fazer um grande evento midiático, com discursos políticos", diz Ávila.
"O governo não tem, agora, motivos para ceder. Se externamente Uribe parece encurralado, a situação interna é muito diferente. A revelação de que Emmanuel estava com o governo, e não com a guerrilha, aumentou a credibilidade de Bogotá", continua o analista.
Para ele, a possibilidade de que o pedido de Chávez para que as Farc não sejam consideradas terroristas tenha êxito é nula. "Mas pode haver um reconhecimento implícito, da França, por exemplo."
Neste cenário, a guerrilha poderia negociar diretamente com outros Estados e se sentiria mais propensa ao "intercâmbio humanitário".


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