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Bogotá e guerrilha negam avanço
Farc voltam a dizer que só libertarão mais reféns com desmilitarização de área, que Bogotá descarta
Ministério da Defesa da Colômbia também crê que caso de Rojas e González não deve trazer alento a negociações no curto prazo
CAROLINA VILA-NOVA
FLÁVIA MARREIRO
DA REDAÇÃO
A festejada libertação de Clara Rojas e Consuelo González
pelas Farc não altera a situação
de impasse na negociação entre
o governo colombiano e a guerrilha e lança poucas esperanças
sobre o destino dos cerca de
700 reféns ainda na selva.
Se a guerrilha vai tentar ampliar sua interlocução política
internacional com base na libertação -apesar do estrago
causado pela situação do menino Emmanuel, filho de Clara
Rojas-, Bogotá está disposta a
limitar a investida e é cética
quanto à possibilidade de que a
libertação das mulheres possa
dar um novo impulso ao "intercâmbio humanitário", como é
chamada a troca de reféns por
guerrilheiros presos.
Na visão de uma fonte do Ministério da Defesa colombiano
ouvida pela Folha, a libertação
foi algo coordenado exclusivamente com a Venezuela para
trazer o presidente Hugo Chávez de volta às negociações -o
que o governo colombiano descarta- e não vai levar a avanços no processo no curto prazo.
Do lado da guerrilha, as Farc
voltaram a afirmar que a troca
dos 43 demais seqüestrados
políticos por guerrilheiros só
acontecerá se Bogotá aceitar
desmilitarizar uma área entre
os municípios de Florida e Pradera, no oeste colombiano.
A proposta foi descartada várias vezes pelo governo Álvaro
Uribe. Quinta, o ministro da
Defesa, Juan Manuel Santos,
reiterou que libertação das reféns provava que a área desmilitarizada é desnecessária.
Sem razão para ceder
"Os seqüestrados são o mecanismo de visibilidade política
mais importante das Farc. Eles
não vão liberá-los até acreditarem que ganharam algo, que
podem sair da situação de asfixia interna e externa em que se
encontram", disse Ariel Ávila
Martínez, pesquisador da organização Nuevo Arcoiris, que estuda o conflito na Colômbia.
Para Ávila, a negociação só
caminhará se a comunidade internacional souber criar uma
atmosfera na qual "tanto o governo quanto as Farc acreditem que estão ganhando".
Por agora, dado o clamor pela
libertação dos demais reféns e
os pedidos de familiares para
que Chávez volte à mediação, o
governo colombiano se sente
injustamente pressionado pelos atores internacionais.
"Qualquer avanço está relacionado diretamente à qualidade e à origem da pressão. E a
pressão tem de vir da comunidade internacional. O erro é
que ela tem sido direcionada ao
governo colombiano", disse a
fonte do Ministério da Defesa.
No longo prazo, o governo
colombiano aposta na oferta
formulada pelo grupo de países
europeus (França, Espanha e
Suíça) e pela Igreja Católica como base para soltar os demais
reféns. Essa proposta prevê
criar uma pequena área sem a
presença de forças militares do
governo ou da guerrilha, por
um período determinado, onde
as negociações teriam lugar.
Já para as Farc é importante
que a negociação se dê nas regiões mais povoadas de Florida
e Pradera e com seus homens
no controle. "Eles querem um
palco para fazer um grande
evento midiático, com discursos políticos", diz Ávila.
"O governo não tem, agora,
motivos para ceder. Se externamente Uribe parece encurralado, a situação interna é muito
diferente. A revelação de que
Emmanuel estava com o governo, e não com a guerrilha, aumentou a credibilidade de Bogotá", continua o analista.
Para ele, a possibilidade de
que o pedido de Chávez para
que as Farc não sejam consideradas terroristas tenha êxito é
nula. "Mas pode haver um reconhecimento implícito, da
França, por exemplo."
Neste cenário, a guerrilha
poderia negociar diretamente
com outros Estados e se sentiria mais propensa ao "intercâmbio humanitário".
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