São Paulo, sábado, 12 de janeiro de 2008

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Brasil teme capitalização política do grupo

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

O Brasil teme que as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) aproveitem a soltura de duas reféns anteontem e tentem engrenar uma negociação política para libertar a ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt em troca de ganhos objetivos, como um território próprio, uma zona desmilitarizada e o status internacional de "força beligerante".
Os EUA classificam as Farc como "grupo terrorista". O Brasil foge de qualquer denominação. E o movimento quer ser reconhecido como "força beligerante" porque, neste caso, estará oficializada uma situação de guerra civil na Colômbia.
O presidente colombiano, Álvaro Uribe, não vai aceitar nenhuma dessas exigências, e isso pode criar tensões nas suas relações com o vizinho da Venezuela, Hugo Chávez, ou até mesmo provocar um recrudescimento das ações das Farc.
Enquanto as conversações foram de "caráter humanitário", como insistem o Itamaraty e o assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, elas produziram um consenso entre o grupo guerrilheiro, Uribe e Chávez. Mas, se adquirirem caráter político, a situação pode ficar difícil.
Conforme a Folha apurou, diplomatas, assessores e políticos brasileiros quebram a cabeça para entender os objetivos das Farc, além do óbvio: mostrar boa vontade para ganhar espaço e projeção internacionais. Não há, porém, indicação de quais serão seus próximos passos, a não ser que não serão pequenos, pois o movimento mantém em suas mãos Betancourt, que o chanceler brasileiro, Celso Amorim, chama internamente de "jóia da coroa".
Esse é considerado um indício de que as Farc avaliarão os ganhos com a libertação de Clara Rojas e Consuelo González e partirão para uma segunda etapa, mais política e com negociações de trocas objetivas. O Brasil desconhece se a Colômbia cedeu algo na operação de quinta. Acha que não.
Uma preocupação do lado brasileiro, compartilhada com a Argentina, é destacar o "papel fundamental" que Uribe teve para a libertação, como forma de fortalecê-lo, mantendo um equilíbrio entre ele e Chávez -considerado a grande estrela.
Como lembra o Itamaraty, a libertação só foi possível porque, apesar de suas desavenças com Chávez, Uribe aceitou o protagonismo do venezuelano e acatou as exigências de ordem prática das Farc. "Teve grandeza", ouviu a Folha no governo brasileiro.
Foi Uribe quem determinou a abertura do espaço aéreo para os aviões de Chávez e a desmobilização de tropas na área da entrega das reféns. Ele também aceitou o desembarque em Caracas, deixando Chávez nos holofotes internacionais.


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