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Brasil teme capitalização política do grupo
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O Brasil teme que as FARC
(Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) aproveitem a
soltura de duas reféns anteontem e tentem engrenar uma negociação política para libertar a
ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt em troca de ganhos objetivos, como um território próprio, uma zona desmilitarizada e o status internacional de "força beligerante".
Os EUA classificam as Farc
como "grupo terrorista". O Brasil foge de qualquer denominação. E o movimento quer ser reconhecido como "força beligerante" porque, neste caso, estará oficializada uma situação de
guerra civil na Colômbia.
O presidente colombiano, Álvaro Uribe, não vai aceitar nenhuma dessas exigências, e isso
pode criar tensões nas suas relações com o vizinho da Venezuela, Hugo Chávez, ou até
mesmo provocar um recrudescimento das ações das Farc.
Enquanto as conversações
foram de "caráter humanitário", como insistem o Itamaraty e o assessor internacional
da Presidência, Marco Aurélio
Garcia, elas produziram um
consenso entre o grupo guerrilheiro, Uribe e Chávez. Mas, se
adquirirem caráter político, a
situação pode ficar difícil.
Conforme a Folha apurou,
diplomatas, assessores e políticos brasileiros quebram a cabeça para entender os objetivos
das Farc, além do óbvio: mostrar boa vontade para ganhar
espaço e projeção internacionais. Não há, porém, indicação
de quais serão seus próximos
passos, a não ser que não serão
pequenos, pois o movimento
mantém em suas mãos Betancourt, que o chanceler brasileiro, Celso Amorim, chama internamente de "jóia da coroa".
Esse é considerado um indício de que as Farc avaliarão os
ganhos com a libertação de
Clara Rojas e Consuelo González e partirão para uma segunda etapa, mais política e com
negociações de trocas objetivas. O Brasil desconhece se a
Colômbia cedeu algo na operação de quinta. Acha que não.
Uma preocupação do lado
brasileiro, compartilhada com
a Argentina, é destacar o "papel
fundamental" que Uribe teve
para a libertação, como forma
de fortalecê-lo, mantendo um
equilíbrio entre ele e Chávez
-considerado a grande estrela.
Como lembra o Itamaraty, a
libertação só foi possível porque, apesar de suas desavenças
com Chávez, Uribe aceitou o
protagonismo do venezuelano
e acatou as exigências de ordem prática das Farc. "Teve
grandeza", ouviu a Folha no
governo brasileiro.
Foi Uribe quem determinou
a abertura do espaço aéreo para os aviões de Chávez e a desmobilização de tropas na área
da entrega das reféns. Ele também aceitou o desembarque
em Caracas, deixando Chávez
nos holofotes internacionais.
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