São Paulo, terça-feira, 12 de janeiro de 2010

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Sabatina expõe despreparo de "chanceler" da UE

Respostas da britânica Catherine Ashton irritam eurodeputados, e interrogatório resvala na grosseria

LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL À BASILEIA

A britânica Catherine Ashton pagou pela inexperiência em política externa em três dolorosas horas de sabatina ontem no Parlamento Europeu, onde deputados impacientes criticaram a visão e reagiram à pouca profundidade das respostas da mulher que deve responder pelas Relações Exteriores e a Defesa da União Europeia nos próximos cinco anos.
Em alguns momentos, o interrogatório beirou a grosseria. Um eurodeputado disse que poderia enviar um "dossiê sobre relações transatlânticas" após ouvir da britânica a reposta genérica que "os EUA são parceiros críticos e estratégicos, mas com visão diferente".
E suspirou que esperava que ao menos sobre o conflito no Afeganistão ela estivesse "mais bem-informada". Toda a sessão foi transmitida por webcast no site do Parlamento.
Embora durante a sabatina Ashton tenha descrito "segurança" como sua principal preocupação, o tema não está listado entre as três prioridades que ela estabeleceu para seu mandato em um questionário entregue ao Parlamento.
Em vez disso, a política trabalhista, membro da Câmara dos Lordes britânica, elegeu como principal meta colocar de pé o enorme serviço diplomático europeu, que deve entrar em vigor até 2014 empregando cerca de 7.000 diplomatas.
A segunda é fazer com que a UE, que perde espaço no teatro geopolítico, "coloque seu peso" sobre áreas de crise e conflito, como o Oriente Médio, os Bálcãs, o Irã, o Afeganistão e a África -segue aí uma lista de generalidades sobre "melhorar o uso de ferramentas europeias de resolução de crises" e "aplicar melhor os recursos".
Mas ao ser indagada sobre sua posição quanto ao Irã, Ashton -cujo currículo aos 53 anos se resume a um ano como comissária europeia de Comércio Exterior, além de uma curta experiência como eurodeputada paralela à gestão na Câmara Alta britânica- se atrapalhou.
Primeiro defendeu o diálogo e a adesão de Teerã ao Tratado de Não Proliferação, sem se estender no mérito do programa nuclear iraniano. Depois, criticou o desrespeito aos direitos humanos no país e por fim falou que era preciso dialogar "sem deixar que isso vire desculpa para ganhar tempo".
Ela também descreveu na sabatina o progresso no Oriente Médio como "vital" e listou como terceira prioridade "fortalecer a cooperação com parceiros estratégicos como os EUA, a China, a Rússia, a Índia, o Brasil e o Japão", abrindo espaço a um protelado pacto UE-Mercosul.
O Parlamento Europeu votará no dia 26 para confirmar os comissários. Mas Ashton é duplamente ungida como membro da Comissão Europeia, órgão executivo do bloco, e como escolha do Conselho Europeu, que reúne os presidentes do bloco, para ser sua representante de política externa.
Os deputados podem derrubar a primeira indicação, mas não a segunda. Se for julgada desqualificada, no entanto, a britânica que ascendeu graças ao xadrez político das indicações (ela contentava Londres e era de duas minorias na comissão, mulher e esquerdista) poderia renunciar à nomeação.


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