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Sabatina expõe despreparo de "chanceler" da UE
Respostas da britânica Catherine Ashton irritam eurodeputados, e interrogatório resvala na grosseria
LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL À BASILEIA
A britânica Catherine Ashton pagou pela inexperiência
em política externa em três dolorosas horas de sabatina ontem no Parlamento Europeu,
onde deputados impacientes
criticaram a visão e reagiram à
pouca profundidade das respostas da mulher que deve responder pelas Relações Exteriores e a Defesa da União Europeia nos próximos cinco anos.
Em alguns momentos, o interrogatório beirou a grosseria.
Um eurodeputado disse que
poderia enviar um "dossiê sobre relações transatlânticas"
após ouvir da britânica a reposta genérica que "os EUA são
parceiros críticos e estratégicos, mas com visão diferente".
E suspirou que esperava que
ao menos sobre o conflito no
Afeganistão ela estivesse "mais
bem-informada". Toda a sessão
foi transmitida por webcast no
site do Parlamento.
Embora durante a sabatina
Ashton tenha descrito "segurança" como sua principal
preocupação, o tema não está
listado entre as três prioridades
que ela estabeleceu para seu
mandato em um questionário
entregue ao Parlamento.
Em vez disso, a política trabalhista, membro da Câmara
dos Lordes britânica, elegeu como principal meta colocar de
pé o enorme serviço diplomático europeu, que deve entrar em
vigor até 2014 empregando cerca de 7.000 diplomatas.
A segunda é fazer com que a
UE, que perde espaço no teatro
geopolítico, "coloque seu peso"
sobre áreas de crise e conflito,
como o Oriente Médio, os Bálcãs, o Irã, o Afeganistão e a África -segue aí uma lista de generalidades sobre "melhorar o
uso de ferramentas europeias
de resolução de crises" e "aplicar melhor os recursos".
Mas ao ser indagada sobre
sua posição quanto ao Irã, Ashton -cujo currículo aos 53 anos
se resume a um ano como comissária europeia de Comércio
Exterior, além de uma curta experiência como eurodeputada
paralela à gestão na Câmara Alta britânica- se atrapalhou.
Primeiro defendeu o diálogo
e a adesão de Teerã ao Tratado
de Não Proliferação, sem se estender no mérito do programa
nuclear iraniano. Depois, criticou o desrespeito aos direitos
humanos no país e por fim falou que era preciso dialogar
"sem deixar que isso vire desculpa para ganhar tempo".
Ela também descreveu na sabatina o progresso no Oriente
Médio como "vital" e listou como terceira prioridade "fortalecer a cooperação com parceiros estratégicos como os EUA, a
China, a Rússia, a Índia, o Brasil
e o Japão", abrindo espaço a um
protelado pacto UE-Mercosul.
O Parlamento Europeu votará no dia 26 para confirmar os
comissários. Mas Ashton é duplamente ungida como membro da Comissão Europeia, órgão executivo do bloco, e como
escolha do Conselho Europeu,
que reúne os presidentes do
bloco, para ser sua representante de política externa.
Os deputados podem derrubar a primeira indicação, mas
não a segunda. Se for julgada
desqualificada, no entanto, a
britânica que ascendeu graças
ao xadrez político das indicações (ela contentava Londres e
era de duas minorias na comissão, mulher e esquerdista) poderia renunciar à nomeação.
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