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Sociólogo do Rio será escudo humano
FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO
Considerado um dos maiores
pesquisadores da violência urbana no Brasil, Ignacio Cano, sociólogo espanhol radicado no Rio, chegou ontem a Bagdá, junto com voluntários dispostos a servir de escudo humano.
Professor da Universidade do Estado do Rio, Cano, 40, é casado
e pai de dois filhos. "Também faço isso pelos meus filhos", disse à
Folha por telefone, de Bagdá.
Folha - Que situação o sr. encontrou em Bagdá?
Ignacio Cano - A cidade está
muito decaída, mostrando sinais
de muitos anos de embargo. As
pessoas estão pessimistas, pensando que a guerra virá. Nós não
estamos completamente pessimistas porque vimos que o movimento contra a guerra é forte.
Folha - Que grupo o sr. integra?
Cano - Somos 11 italianos, dois
canadenses e eu. Nós nos juntamos em Istambul. Muitos grupos
estão vindo, encontramos pessoas da Suécia, da Austrália.
Folha - Como o grupo agirá?
Cano - Tivemos a primeira reunião com o representante de uma
espécie de associação iraquiana
de amizade e solidariedade. É, na
verdade, uma pessoa do governo.
É uma situação muito controlada.
Temos sempre alguém do governo que nos acompanha para sair,
e a possibilidade de contato com a
população civil não é grande.
Folha - Por que ser escudo humano no Iraque?
Cano - Essa guerra é completamente ilegítima e absurda e está
sendo travada em nosso nome.
Sobretudo em nome dos americanos, mas também dos ocidentais.
Folha - O senhor tem medo?
Cano - Todos estamos com medo. Mas não somos suicidas nem
ignorantes dos riscos.
Folha - O sr. pensa nos seus filhos?
Cano - Todo dia. Mas às vezes a
vida coloca situações assim. É
questão de cálculo de risco e benefício, de quanto risco você está
disposto a correr e qual o impacto
da ação que você está tomando.
Penso nos meus filhos todo dia,
mas daqui a 20 anos pode ser um
pouco tarde para o mundo.
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