São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 2011

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REVOLTA ÁRABE

Ditador renuncia ao poder no Egito após 18 dias de protestos

MUBARAK DEIXA CARGO MENOS DE 20 HORAS DEPOIS DE DIZER QUE CONTINUARIA

JUNTA MILITAR GOVERNARÁ, ANUNCIA VICE ANALISTAS MOSTRAM CETICISMO

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL AO CAIRO

Menos de 20 horas após ir à TV dizer que ficaria no poder e não aceitaria pressão externa, Hosni Mubarak, 82, ditador do Egito, renunciou ao posto que ocupava desde 1981. O vice Omar Suleiman anunciou que um conselho das Forças Armadas governará o país. Segundo Suleiman, a junta militar conduzirá o país até a eleição presidencial prometida para setembro.
Militares afirmaram que o pleito será "livre". A notícia foi o estopim de comemorações em todo o país, que viveu 18 dias de protestos contra a ditadura, com mais de 300 mortos. Analistas apontam a disseminação dos protestos pelo Egito, verificada ontem, como fator decisivo na queda de Mubarak, mas têm dúvidas sobre as chances de transição para uma democracia.

DO ENVIADO AO CAIRO

Hosni Mubarak sucumbiu à pressão popular após 18 dias de intensos protestos no Cairo e em outras cidades do país, encerrando seus quase 30 anos no poder.
A decisão foi recebida com uma explosão de alegria pelos milhões de opositores que, menos de 24 horas antes, haviam sido frustrados pelo discurso de Mubarak, no qual o ditador transferira poderes ao vice-presidente, Omar Suleiman, mas insistira em ficar no cargo.
Em comunicado, o Conselho Militar Supremo prometeu garantir a celebração de eleições "livres e transparentes" e encerrar o estado de emergência em vigor há 30 anos "ao fim das atuais circunstâncias".
No período de transição, o país será governado pelo chefe do conselho, marechal Mohamed Hussein Tantawi, considerado conservador. Com um semblante soturno, o homem que comandou durante os últimos 17 anos o temido aparato de segurança foi direto ao ponto.
"Diante das circunstâncias difíceis que o Egito atravessa, o presidente Hosni Mubarak decidiu deixar o cargo e incumbiu o alto conselho das Forças Armadas a administrar os assuntos do Estado", disse Suleiman em seu comunicado. "Que Deus ajude a todos."
Segundo a imprensa egípcia, Mubarak e sua família deixaram o Cairo antes do anúncio rumo ao balneário de Sharm el-Sheikh, na península do Sinai.

FESTA NA PRAÇA
A renúncia de Mubarak eletrizou o Egito, como o esperado sinal de vitória da revolução popular iniciada no dia 25 de janeiro, no Cairo.
No foco dos protestos, a praça Tahrir, a notícia começou a se espalhar no momento de uma das cinco preces diárias do islamismo. Em poucos segundos, a multidão prostrada se jogou num incontrolável carnaval.
"O Egito nasceu de novo hoje", exultava Mahmoud Hamdi, 35, enrolado numa bandeira do Egito e apertado por uma multidão enlouquecida que dançava ao som de cantos de vitória.
Gritos de "Deus é grande" ecoavam pela praça, enquanto fogos de artifício espocavam no céu. Um mar de bandeiras do país se formou até onde a vista podia alcançar, ultrapassando o prédio do Museu Egípcio, que delimita a extensão da praça.
Muitos atribuíam a radical mudança de ventos desde o anúncio de Mubarak na noite anterior à intensificação dos protestos não só na capital mas em outras cidades.
No Cairo, os protestos se estenderam ao palácio presidencial e ao prédio da TV estatal, sede do Ministério da Informação. Nos dois locais, cercados de tanques do Exército, milhares de manifestantes mantiveram a pressão até a queda de Mubarak.
Manifestações reuniram centenas de milhares em várias partes do país, incluindo o polo industrial de Suez e Alexandria, a segunda maior cidade do Egito. Em El Arish, perto da faixa de Gaza, cinco pessoas morreram em choques com a polícia antes do anúncio da queda.

FOLHA.com
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