São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 2011

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REVOLTA ÁRABE

EUA amargam reveses em suas reações à crise egípcia

Governo Obama festeja queda do antigo aliado sem abafar idas e vindas

Críticos veem demora do país para abandonar ditador e para apoiar revolução, que pode se espalhar por região

ANDREA MURTA
DE WASHINGTON

Washington celebrou a queda de Hosni Mubarak sem conseguir dissipar o desconforto generalizado com sua própria reação à revolução, marcada por desencontros, hesitações e negativas por parte do antigo aliado.
O presidente Barack Obama, que há dias dizia que a reforma no Egito tinha que começar imediatamente, fez um breve pronunciamento sobre o fim da era Mubarak, afirmando que "os egípcios mudaram seu país e, com isso, mudaram o mundo".
"Há poucos momentos em nossas vidas em que temos o privilégio de testemunhar a história acontecendo. Este é um deles", disse. Ele reiterou que os EUA continuarão aliados do Egito e estão prontos a ajudar no que for preciso.
Elogiou os militares, mas insistiu nos pedidos por reformas democráticas genuínas, incluindo suspensão da lei de emergência, revisão da Constituição, um caminho para eleições livres e inclusão de toda a oposição.
Obama destacou ainda o papel dos jovens na queda da ditadura. "Vimos emergir uma nova geração, que usa sua criatividade, seu talento e sua tecnologia para reivindicar um governo que corresponda a suas esperanças, e não seus medos", disse.

PEGOS DE SURPRESA
Mas o reconhecimento da inexorável reforma chega após a Casa Branca se ver dividida -e criticada- por hesitar em abandonar abertamente o ditador egípcio.
"Washington foi pego despreparado", disse Marwan Muasher, vice-presidente de estudos do Carnegie Endowment for International Peace.
"Inicialmente, o governo perdeu o barco no Egito, e depois ficou difícil mudar de curso. E, após ignorar problemas por anos, é difícil para Washington ser visto como confiável no Oriente Médio."
Obama apoiou as demandas por democracia, mas claramente temia encorajar a revolução popular que ainda pode se espalhar pela região, com resultados incertos para os interesses americanos.
Também houve diferenças abertas entre declarações da Casa Branca e do Departamento de Estado sobre o tema nas últimas semanas.
O enviado especial dos EUA ao Egito, que deixou o país abruptamente após apenas um dia de reuniões, chegou a dizer que Mubarak deveria guiar a transição. Mas em seguida ouviu a secretária de Estado, Hillary Clinton, negar essa posição.
Ao final, os EUA preferiram não se posicionar sobre quem deveria liderar.
Na quinta, Washington se viu surpreendido pela recusa temporária de Mubarak em deixar a Presidência. Horas antes de o ditador discursar se mantendo no poder, o diretor da CIA, Leon Panetta, dissera acreditar que ele renunciaria no mesmo dia.
As idas e vindas e os rechaços do Cairo levantaram temores de que os EUA projetaram uma imagem de fraqueza internacionalmente.
"Está claro que Washington precisa se adaptar à mudança no mundo árabe. Podem ter sido surpreendidos no Egito, mas é preciso repensar as políticas e começar a reformá-las", diz Muasher.


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