São Paulo, segunda-feira, 12 de abril de 2004

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11 DE SETEMBRO

Casa Branca divulga relatório de agosto de 2001 que previa atentado nos EUA, mas nega ter ignorado ameaça

Bush é criticado por não ter reagido a alerta

RAFAEL CARIELLO
DE NOVA YORK

Um relatório recebido pelo presidente dos EUA, George W. Bush, mais de um mês antes dos ataques de 11 de Setembro e liberado parcialmente para conhecimento público no sábado à noite, trazia a informação de que a Al Qaeda agia dentro do país e poderia estar se preparando para seqüestrar aviões em vôos domésticos nos Estados Unidos.
O documento, intitulado "Bin Laden decidido a atacar dentro dos EUA", foi minimizado pela assessora de Segurança Nacional dos EUA, Condoleezza Rice, em seu depoimento na última quinta-feira diante da comissão independente que investiga os ataques ao World Trade Center, em Nova York, e ao Pentágono, perto de Washington, em 2001.
Segundo Rice, o texto trazia apenas informações "históricas", baseadas em relatos antigos, sobre a atividade da Al Qaeda.
O documento de 6 de agosto de 2001 traz a informação de que havia "atividades suspeitas" nos EUA, relacionadas com "preparativos para seqüestros [de aviões] ou outros tipos de ataques". Atribui ainda a uma agência de inteligência estrangeira (o nome é omitido) a informação de que Bin Laden "deseja retaliar [os ataques americanos a sua base no Afeganistão em 1998] em Washington" e que a organização estaria "observando prédios federais em Nova York".
Após a divulgação do documento, sábado à noite, funcionários da Casa Branca reconheceram, segundo o "New York Times", que algumas das informações ali contidas podiam ser descritas como "próximas do tempo presente" ou "recentes".
O argumento dos defensores do presidente -acusado pelos adversários de não ter dado a devida atenção às ameaças terroristas antes dos ataques de 2001- é de que o documento é genérico, não traz data ou lugar específico que poderia ser atacado e não alerta que os próprios aviões seriam usados como "mísseis".
É a primeira vez que um relatório desse tipo (produzido diariamente) é liberado para conhecimento público enquanto o presidente que o recebeu ainda ocupa o cargo. Membros da comissão sobre o 11 de Setembro pressionaram para que isso acontecesse.
Ontem, Bush afirmou que, na época, sentiu-se satisfeito pelo fato de que havia agentes federais investigando as ameaças descritas no memorando. "Eu teria movido montanhas para impedir os ataques", disse o presidente.
Ele declarou ainda que o documento não continha "nada sobre um ataque na América". "Falava de intenções, sobre alguém [Bin Laden] que odiava os EUA -bem, nós já sabíamos disso."
Reagindo ao conteúdo do memorando, o senador republicano John McCain disse que, "em retrospecto", é possível concluir que o texto deveria ter sido considerado como "um sinal de alerta", mais do que realmente aconteceu.

Perguntas ao FBI
O documento também revelava que o FBI realizava àquela época 70 investigações diferentes relacionadas às atividades de Bin Laden. Para o republicano Slade Gordon, um dos membros da comissão, "o FBI tem mais perguntas a responder que Condoleezza Rice". A informação sobre as investigações em curso pelo FBI, ele diz, "tranquilizariam de alguma maneira qualquer pessoa que as lessem pela primeira vez".
Questionado se as agências de inteligência americanas deveriam ter feito mais para prevenir os ataques, Bush foi evasivo: "Isso é o que a comissão deve investigar, e espero que o faça".
O relatório adiciona dúvidas ao que já foi o principal atributo eleitoral de Bush -o combate ao terrorismo. Rand Beers, da equipe do candidato democrata John F. Kerry, ex-conselheiro de contraterrorismo da Casa Branca, afirmou: "Penso que o presidente poderia ter feito mais".


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