São Paulo, quarta-feira, 12 de abril de 2006

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"EIXO DO MAL"

Etapa crucial no desenvolvimento de tecnologia nuclear é anunciada a 17 dias de expirar prazo dado pela ONU

Irã diz que começou a enriquecer urânio

Reuters
O presidente Ahmadinejad faz o anúncio na cidade de Mashad


DA REDAÇÃO

O Irã anunciou ontem que completou pela primeira vez o ciclo de enriquecimento de urânio, passo fundamental tanto para a produção de energia nuclear como para a construção de uma bomba atômica. O anúncio foi feito 17 dias antes de expirar o prazo dado pelo Conselho de Segurança da ONU para que a república islâmica suspenda seu programa de enriquecimento de urânio.
"Anuncio oficialmente que o Irã agora entrou para o grupo dos países que possuem tecnologia nuclear", disse o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, em discurso transmitido pela televisão para todo o país. "Este é um momento muito histórico, que se deve ao povo iraniano e à sua crença. E este é o começo do progresso do país."
O governo dos EUA, que vem liderando a campanha internacional para impor sanções ao Irã, sob a alegação de que seu programa nuclear tem ambições militares, reagiu ao anúncio comentando que ele indica que Teerã está "na direção errada". O porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan, disse que Washington discutiria o assunto com outros membros do Conselho de Segurança da ONU e a Alemanha caso o Irã "continue na mesma direção".
A guerra psicológica entre Washington e Teerã ganhou força no último fim de semana, quando duas importantes publicações dos EUA, a revista "New Yorker" e o jornal "Washington Post", publicaram artigos sobre os supostos preparativos para um ataque americano ao Irã. O presidente George W. Bush classificou as reportagens de "pura especulação".
No dia 29 de março, depois de várias tentativas frustradas de persuadir o Irã a suspender seu programa nuclear, o Conselho de Segurança deu prazo de 30 dias para que Teerã interrompa o processo de enriquecimento de urânio. O órgão não fez, porém, menção a possíveis sanções.
Em um discurso cuidadosamente planejado para ganhar pompas de anúncio histórico, o presidente Ahmadinejad, um extremista que causou comoção mundial ao questionar o Holocausto nazista e defender a destruição de Israel, prometeu levar as ambições nucleares do Irã adiante. "Baseados em regulações internacionais, nós continuaremos nosso caminho até atingir o enriquecimento (de urânio) em escala industrial", disse ele, em um evento político na cidade de Mashad, no nordeste do país.
Reiterando que as atividades nucleares do país têm fim pacífico, Ahmadinejad disse que o enriquecimento -processo destinado a produzir combustível nuclear- ocorreu no último domingo, sob a supervisão da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). O anúncio se dá na véspera da viagem ao país de Mohamed el Baradei, chefe da AIEA, marcada para hoje.
Horas antes do discurso de Ahmadinejad, o chefe do programa nuclear iraniano, Gholamreza Aghazadeh, já antecipara que o país havia enriquecido urânio no nível usado em usinas nucleares. "Tenho orgulho de anunciar que começamos a enriquecer urânio em um nível de 3,5%", disse Aghazadeh.
O anúncio representa um avanço importante no programa nuclear iraniano, mas o país ainda tem um longo caminho até ter capacidade de abastecer um reator - ou produzir armas atômicas, como temem os americanos. Há na usina de Natanz, na região central do país, 164 centrífugas em funcionamento para o enriquecimento de urânio, disse ontem o ex-presidente do Irã Akbar Hashemi Rafsanjani. Para um processo em escala industrial, são necessárias milhares de centrífugas, algo que Aghazadeh afirmou que o país terá ainda este ano.
David Albright, presidente do Instituto para Ciência e Segurança internacional, em Washington, disse que o anúncio do Irã já era esperado, mas as quantidades de urânio produzidas são provavelmente muito pequenas. "Eles precisam de muito mais conhecimento para produzir (combustível nuclear) em quantidades significativas e precisam construir muito mais centrífugas", disse.

Com agências internacionais

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