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ANÁLISE
Cabe a Bush dar foco às negociações
THOMAS L. FRIEDMAN
DO "NEW YORK TIMES"
O presidente George W. Bush,
se continuar no rumo que vem seguindo, será lembrado como o
presidente americano que se deixou de tal maneira enrolar por
Ariel Sharon que permitiu que Israel pensasse que poderia realmente ficar com tudo -os assentamentos, a prosperidade, a paz e
a democracia- e, ao fazê-lo, ajudou a contribuir para a erosão
gradativa do Estado judaico.
Bush tem uma segunda chance
para enfrentar a questão, agora
que o processo de paz está sendo
reativado. E o momento é crítico.
Pela primeira vez, os palestinos
têm um primeiro-ministro, Abu
Mazen, um ministro das Finanças, Salam Fayyad, e um chefe da
segurança, Muhammad Dahlan,
que compreendem até que ponto
faltavam instituições adequadas à
Autoridade Palestina e como era
desastrosa para o povo palestino a
estratégia de Iasser Arafat, marcada pelo terrorismo suicida e o diálogo confuso com Israel.
Quando autoridades americanas falam da importância das reformas no mundo árabe, essa nova equipe palestina, mesmo com
seus defeitos (e há muitos), é o tipo que devemos querer ver no poder. Mas o êxito de Mazen não está garantido. Iasser Arafat e seus
homens continuam no poder e
querem que Mazen, antigo subordinado de Arafat, fracasse.
O novo premiê precisa garantir
segurança a Israel, mas Sharon
também precisa fazer algo por ele,
melhorando o cotidiano dos palestinos e fechando alguns dos assentamentos erguidos por colonos judeus na Cisjordânia sem
que a administração Bush tenha
dado um pio.
O presidente dos EUA ajudou a
criar as condições para levar Mazen ao poder, tanto ao recusar-se
a tratar com Arafat quanto ao depor Saddam Hussein. E o discurso que Bush proferiu na sexta, em
que expôs sua visão para um novo
Oriente Médio, baseado no livre
comércio, foi ótimo.
Desde o início, porém, sua administração tem sido pródiga em
planos de paz e pobre em matéria
de empurrões concretos. Se Bush
quiser percorrer o caminho que
traçou, ele terá de intensificar seu
jogo diplomático no Oriente Médio, imbuindo-o de mais energia,
foco e contundência.
Ele terá de interromper os ataques lançados contra Colin Powell desde o Pentágono e deixar
claro, de uma vez por todas, que
está ao lado de seu secretário de
Estado; terá de dizer à direita cristã e à Conferência de Presidentes
das Grandes Organizações Judaicas Americanas, dirigida pelo Likud, que não permitirá que semeiem obstáculos em seu caminho. Terá de dizer aos líderes árabes que eles terão de ajudar a tirar
Arafat do poder, com suavidade, e
aceitar o Estado judaico.
Sabemos qual é o caminho a seguir. A dúvida é se Bush possui a
disposição política de fazê-lo.
Agora que os EUA eliminaram a
ameaça maior a Israel -o regime
de Saddam Hussein-, seria de
imaginar que Sharon viria correndo aproveitar essa oportunidade. Em lugar disso, porém, ele
vem adotando a tática de adiamento. Infelizmente o premiê israelense segue uma das normas
mais eternas da política no Oriente Médio: quando estou fraco, como posso buscar um acordo?
Quando estou forte, para quê vou
querer buscar um acordo?
Se a oportunidade atual se perder, isso pode representar o fim
da solução de dois Estados. Os colonos judeus terão vencido, e Israel conservará os territórios. O
mundo árabe se distanciará do
processo de paz, e a guerra no Iraque será interpretada como tentativa americana de tornar o Oriente Médio um lugar seguro para os
assentamentos de Sharon.
Tradução de Clara Allain
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