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São Paulo, segunda-feira, 12 de maio de 2003

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ANÁLISE

Cabe a Bush dar foco às negociações

THOMAS L. FRIEDMAN
DO "NEW YORK TIMES"

O presidente George W. Bush, se continuar no rumo que vem seguindo, será lembrado como o presidente americano que se deixou de tal maneira enrolar por Ariel Sharon que permitiu que Israel pensasse que poderia realmente ficar com tudo -os assentamentos, a prosperidade, a paz e a democracia- e, ao fazê-lo, ajudou a contribuir para a erosão gradativa do Estado judaico.
Bush tem uma segunda chance para enfrentar a questão, agora que o processo de paz está sendo reativado. E o momento é crítico.
Pela primeira vez, os palestinos têm um primeiro-ministro, Abu Mazen, um ministro das Finanças, Salam Fayyad, e um chefe da segurança, Muhammad Dahlan, que compreendem até que ponto faltavam instituições adequadas à Autoridade Palestina e como era desastrosa para o povo palestino a estratégia de Iasser Arafat, marcada pelo terrorismo suicida e o diálogo confuso com Israel.
Quando autoridades americanas falam da importância das reformas no mundo árabe, essa nova equipe palestina, mesmo com seus defeitos (e há muitos), é o tipo que devemos querer ver no poder. Mas o êxito de Mazen não está garantido. Iasser Arafat e seus homens continuam no poder e querem que Mazen, antigo subordinado de Arafat, fracasse.
O novo premiê precisa garantir segurança a Israel, mas Sharon também precisa fazer algo por ele, melhorando o cotidiano dos palestinos e fechando alguns dos assentamentos erguidos por colonos judeus na Cisjordânia sem que a administração Bush tenha dado um pio.
O presidente dos EUA ajudou a criar as condições para levar Mazen ao poder, tanto ao recusar-se a tratar com Arafat quanto ao depor Saddam Hussein. E o discurso que Bush proferiu na sexta, em que expôs sua visão para um novo Oriente Médio, baseado no livre comércio, foi ótimo.
Desde o início, porém, sua administração tem sido pródiga em planos de paz e pobre em matéria de empurrões concretos. Se Bush quiser percorrer o caminho que traçou, ele terá de intensificar seu jogo diplomático no Oriente Médio, imbuindo-o de mais energia, foco e contundência.
Ele terá de interromper os ataques lançados contra Colin Powell desde o Pentágono e deixar claro, de uma vez por todas, que está ao lado de seu secretário de Estado; terá de dizer à direita cristã e à Conferência de Presidentes das Grandes Organizações Judaicas Americanas, dirigida pelo Likud, que não permitirá que semeiem obstáculos em seu caminho. Terá de dizer aos líderes árabes que eles terão de ajudar a tirar Arafat do poder, com suavidade, e aceitar o Estado judaico.
Sabemos qual é o caminho a seguir. A dúvida é se Bush possui a disposição política de fazê-lo.
Agora que os EUA eliminaram a ameaça maior a Israel -o regime de Saddam Hussein-, seria de imaginar que Sharon viria correndo aproveitar essa oportunidade. Em lugar disso, porém, ele vem adotando a tática de adiamento. Infelizmente o premiê israelense segue uma das normas mais eternas da política no Oriente Médio: quando estou fraco, como posso buscar um acordo? Quando estou forte, para quê vou querer buscar um acordo?
Se a oportunidade atual se perder, isso pode representar o fim da solução de dois Estados. Os colonos judeus terão vencido, e Israel conservará os territórios. O mundo árabe se distanciará do processo de paz, e a guerra no Iraque será interpretada como tentativa americana de tornar o Oriente Médio um lugar seguro para os assentamentos de Sharon.


Tradução de Clara Allain


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