São Paulo, sexta-feira, 12 de maio de 2006

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Nos territórios, jovens buscam prisões de Israel

LUKE BAKER
DA REUTERS, EM JERUSALÉM

Autoridades israelenses e palestinas dizem que cresce o número de jovens palestinos desesperados que se fazem prender propositalmente para ser detidos em prisões israelenses.
Os jovens, em sua maioria adolescentes, vêm recorrendo a essa opção perigosa em parte porque dizem que é mais fácil estudar para seus exames numa prisão israelense do que fazê-lo em suas casas na Cisjordânia. Alguns o fazem para fugir da pobreza cada vez maior.
Desde janeiro, quando o fenômeno foi identificado, autoridades do Exército israelense dizem que pelo menos 80 rapazes já apareceram nas barreiras militares e pediram para ser presos, ou então levaram armas até as barreiras para garantir que fossem detidos.
"É um fenômeno crescente e que nos preocupa", disse um alto oficial da Força de Defesa israelense que vem tratando da questão, mas pediu para não ser identificado. "É um fenômeno muito perigoso, ao qual queremos pôr fim."
Funcionários palestinos do setor civil dizem que o número pode ser muito superior a 80 e que vem aumentando, à medida que se disseminam entre os jovens rumores sobre os potenciais benefícios da prisão.
Hijazi Abdul-Rahman, 18, vive num povoado próximo a Jenin, na Cisjordânia, e um mês atrás foi com seu amigo Malik até uma barreira militar nas proximidades, procurando ser preso. Ele carregava um pequeno punhal e Malik, que não quis informar seu sobrenome, portava abertamente uma bomba caseira malfeita.
Os dois foram detidos pelas forças de segurança israelenses e presos numa cela temporária, mas foram soltos 25 dias depois, quando, após interrogatório, ficou claro que não constituíam ameaça à segurança.
Foi uma decepção para Abdul-Rahman. "Perdi minha chance", disse ele, em sua casa, ao norte de Jenin. "Queria fazer os exames do segundo grau na prisão. É muito mais fácil do que na escola daqui."
O rapaz contou que seu plano era permanecer preso por até três anos, concluir o secundário e cursar parte da universidade na prisão, onde ainda receberia uma ajuda do governo palestino. As prisões israelenses oferecem grupos de estudo cujos integrantes palestinos podem fazer vários exames na própria prisão.


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